INCOMPREENSÕES: POR SEGUIR JESUS

EVANGELHO – Mc 3, 20-21

Naquele tempo: Jesus voltou para casa com os discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
O Evangelho de hoje é tão curto e, ao mesmo tempo, tão surpreendente. Primeiro diz que Jesus voltou para a casa com os discípulos e que de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. E que, quando os parentes de Jesus souberam disso saíram para agarrá-lo porque diziam que estava fora de si.

Isto nos faz pensar que Jesus nos disse em diversas ocasiões que quem o seguir sofrerá incompreensão por parte de muitos e, inclusive, dos próprios parentes. Na última das bem-aventuranças, Jesus diz: “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem e injuriarem, e proscreverem o vosso nome como maldito, por causa do Filho do homem”.

Não é o discípulo mais do que o mestre – anunciou Jesus -, nem o servo mais do que o seu senhor. Se ao amo da casa o chamaram de Belzebu, quanto mais aos seus domésticos. E São Paulo prevenia assim o seu discípulo Timóteo: Todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição.

A perseguição, porém, não quer dizer desgraça, mas bem-aventurança, alegria e felicidade, porque é o selo da autenticidade no seguimento de Cristo; significa que as pessoas e as obras vão por bom caminho, e por isso não devem tirar-nos a paz nem surpreender-nos. Se alguma vez o Senhor permite que sintamos a dor da perseguição aberta – a calúnia, a difamação… -, ou essa outra mais disfarçada – que emprega como armas a ironia empenhada em ridicularizar os valores cristãos, ou a pressão ambiente concentrada em amedrontar os que se atrevem a defender uma visão cristã da vida e em desprestigiá-los perante a opinião pública -, devemos saber que é uma ocasião permitida por Deus para que obtenhamos muitos frutos, como dizia um mártir enquanto se dirigia para a morte: “Onde maior é o trabalho, maior é o lucro” (Santo Inácio de Antioquia, Carta a São Policarpo de Esmirna).

Deveremos nesses casos agradecer ao Senhor a confiança que depositou em nós ao considerar-nos capazes de sofrer um pouco por Ele. E imitaremos os Apóstolos, ainda que em ponto muito pequeno, quando, depois de terem sido açoitados por pregarem publicamente a Boa Nova, saíram alegres do Sinédrio por terem sido dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus. Não se calaram no seu apostolado, antes anunciavam Jesus com mais fervor e alegria, lembrando-se certamente das palavras do Senhor: “Alegrai-vos naquele dia e regozijai-vos, pois será grande a vossa recompensa no céu”.

É difícil, talvez impossível, ser bom cristão e não entrar em choque com um ambiente egoísta,
comodista e paganizado. O Senhor nos ajudará a tirar frutos abundantes dessas situações. Quando São Paulo chegou a Roma, os judeus que ali viviam diziam da Igreja nascente: Sabemos que sofre perseguição por toda a parte. Depois de vinte séculos, vemos que a situação não mudou, ainda que tenham cessado as perseguições abertas. São cada vez mais os ambientes em que se qualificam de “fanáticos”, “ultrapassados”, “conservadores” os que simplesmente querem viver a fé e seguir os princípios morais tal como a Igreja nos ensina. Contrapõem a ciência com a fé, o progresso da civilização com a doutrina imutável da Igreja.

Devemos tirar muito fruto das contradições. Como dizia São Josemaria: “tinha-se desencadeado a perseguição violenta – fazendo referência à guerra civil espanhola onde houve uma perseguição terrível contra os católicos; bastava encontrarem um sinal religioso para prenderem e executarem as pessoas. E aquele sacerdote rezava: – Jesus, que cada incêndio sacrílego (foram queimadas muitas igrejas) aumente o meu incêndio de amor e reparação”.

Tanto agora como nesses momentos difíceis que, sem serem habituais, podem, no entanto, apresentar-se na nossa vida, sempre nos fará muito bem meditar aquelas palavras pacientes e serenas de São Pedro dirigidas aos cristãos da primeira hora, quando padeciam calúnias e perseguição: “É preferível, caso Deus assim o queira, padecer fazendo o bem a padecer fazendo o mal” (1 Pe 3, 17).

Que a incompreensão sofrida por Cristo e estas palavras sejam um grande consolo para toda incompreensão que sofrermos na nossa vida por seguir Nosso Senhor.

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