ALEGRIA: NO TRABALHO (II)

EVANGELHO – Jo 14, 27-31a

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Ouvistes que eu vos disse: “Vou, mas voltarei a vós”. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo; mas ele não tem nada em mim.
O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai me ordenou. Levantai-vos, vamo-nos daqui”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
As palavras de Cristo hoje são mais um motivo para termos uma grande alegria: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. Como a paz é maravilhosa. Ter a paz é ter a alegria. Continuemos, então, falando da alegria no trabalho citando Dom Rafael:

* * *

As finalidades nobres do trabalho são muitas: “O trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação; é ocasião de desenvolvimento da própria personalidade; é vinculo de união com os outros seres; fonte de recursos para o sustento da família; meio de contribuir para o progresso da sociedade (…) e para o progresso de toda a humanidade. Para um cristão, essas perspectivas alargam-se e ampliam-se, porque o trabalho se apresenta como participação na obra criadora de Deus que, ao criar o homem, o abençoou dizendo: Crescei e multiplicai-vos”.

E esse sentido maravilhoso do trabalho enche de alegria aquele que o realiza.

Em primeiro lugar, com o seu trabalho, o homem prolonga o ato da criação divina, realiza uma tarefa de cooperação com o trabalho de Deus. Através do trabalho, vamos aperfeiçoando a nossa personalidade. Os seres irracionais — uma rosa, um passarinho — nada podem fazer para aperfeiçoar o seu próprio ser (…) O homem não. (…) Vai criando, recriando a sua personalidade, à força de trabalho. E isto é fonte de uma grande alegria. Vai crescendo em nós uma íntima alegria ao verificar que estamos cooperando com Deus no aperfeiçoamento da nossa alma.

(…) Mas o trabalho, em segundo lugar, cooperando com Deus, cria o mundo que nos rodeia, vai construindo um novo céu e uma nova terra (Apoc 21, 1), vai tornando mais humano e mais divino este nosso desmantelado planeta, incentivando o progresso social, político, cultural, técnico e espiritual. A civilização é um produto da criação humana. E o homem experimenta uma grande alegria ao ver o seu espírito projetado num sistema político, numa organização social, plasmado numa manifestação artística e cultural.

Por outro lado, o trabalho feito a reboque (…) da obrigatoriedade impositiva e também do desleixo, da monotonia, do abandono, da preguiça, que nada cria, é triste.

(…) Não condenemos a nossa personalidade à melancolia morna da inoperabilidade apática, e conduzamos o nosso espírito – à custa de qualquer sacrifício – à vibração jubilosa do trabalho criador. Saibamos plasmar a nossa personalidade original na mais insignificante e prosaica das nossas ações. Quando há amor criativo, esfregar o chão, limpar a ferida de um doente, escrever no computador, pode representar uma ação altamente gratificante.

Leonardo da Vinci, trabalhador incansável, morreu em paz murmurando: — “O que pude fazer, fiz”. Oxalá pudéssemos dizer o mesmo. O homem só morrerá feliz quando puder afirmar: — “Missão cumprida”.

Mas o trabalho produz alegria especialmente porque é um canal do amor. E o amor, como já dissemos, é a fonte da alegria. Dá tanta alegria trabalhar para tornar o mundo melhor e os homens mais felizes!… Uma mãe é capaz de passar a vida inteira trabalhando com alegria porque trabalha por amor. Façamos cada um de nós pessoalmente essa experiência: dediquemo-nos num dia qualquer da semana – no lar, na repartição, na oficina, no escritório, na escola, no hospital… – a trabalhar para tornar mais feliz a vida daqueles que estão ao nosso lado e verificaremos, sem dúvida – jubilosamente – que foi o dia em que em que nos sentimos mais contentes.

O homem foi criado para trabalhar como a ave para voar (Jo 5, 7). O trabalho não é um castigo. Para nós, trabalhar deveria ser tão natural como é natural para a ave voar. Deveríamos largar o nosso ser inteiro, solto, leve, no trabalho, como a ave estende as suas asas e se entrega ao impulso da brisa com essa leveza, com essa elegância de estilo inigualável.

Deveríamos sentir-nos no trabalho como o pássaro no ar, “como o peixe na água”…, e isso nos daria essa paz indispensável para que possa brotar naturalmente — como mana a água do seio da montanha — uma alegria pausada, continua e profunda.

Por que não nos entregamos com serenidade e alegria ao trabalho? Por que não descobrimos nele um desejo do nosso Pai Celeste, para colaborar com Ele na construção do mundo e de nós mesmos? Por que, perguntaríamos com Rabindranath Tagore — o trabalho não nos acalma e alegra? Se foste criado para trabalhar como a ave para voar, se o pássaro voando se sente feliz como o rio correndo para o mar, como o fogo ardendo na chama, como a flor perfumando o ar…, por que não te torna feliz o trabalho?

Talvez porque não te entregas a ele com a plenitude do amor, como o fogo se entrega na chama, como o pássaro se doa no ar, e a flor no perfume e o riacho no mar.

Se soubéssemos ver em cada partícula do nosso trabalho essa dimensão criadora, essa grandiosa tarefa de amor, o trabalho representaria para nós o que representa o ar para o pássaro e a água para o peixe: a atmosfera natural da nossa vida. E sentiríamos a alegria simples daquele funcionário de banco que aprendeu o segredo evangélico de capitalizar tesouros no céu preenchendo inexpressivos formulários burocráticos.

Lição: quantas lições podemos tirar deste texto para encontrar a alegria no nosso trabalho. Reflitamos nestas ideias para ver onde podemos melhorar.

ALEGRIA: NO TRABALHO (II)

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