VIRTUDES HUMANAS (13): PACIÊNCIA (3)

EVANGELHO – Jo 21, 15-19

Jesus manifestou-se aos seus discípulos e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”.
E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas”.
Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas.
Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres ir”. Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
no Evangelho de hoje vemos o famoso diálogo de Jesus com Simão Pedro após a ressurreição. Como Simão Pedro, na noite anterior à morte de Cristo, negou três vezes que conhecia Jesus, neste momento Jesus pergunta por três vezes a Simão se ele o amava. E Simão afirma que sim nestas três vezes. Em seguida Jesus confirma que ele será a cabeça da Igreja dizendo: “apascenta as minhas ovelhas”. Esta é uma cena muito bonita onde vemos não só como Jesus perdoa os nossos pecados quando nos arrependemos deles, como também não perde a confiança em nós. Por isso não voltou atrás quanto a fazer de Pedro a cabeça da Igreja.

Continuando a nossa série sobre as virtudes e, mais concretamente, sobre a paciência, vamos conhecer hoje um pouco mais porque perdemos frequentemente a paciência. Diz o Padre Francisco Faus no seu livro a Paciência:

* * *

Se nos perguntassem de chofre: – “Por que você fica impaciente?”, logo apontaríamos o culpado: – “Tal contrariedade mais ou menos frequente, mais ou menos constante”. O culpado, o “criminoso”, o agente provocador, é sempre a contrariedade que acomete, azucrina e faz sofrer.

Caso pensemos assim – com esta simplificação tão cândida –, seria bom que observássemos um fenômeno: nem todo o mundo fica impaciente diante das mesmas coisas. Há, portanto, “algo” dentro de nós que nos faz receber “determinadas” contrariedades – muitas ou poucas – de um modo negativo e que desemboca na impaciência, ao passo que outras não. O que é esse “algo”? Se conseguirmos enxergá-lo, teremos aberto um bom caminho para diagnosticar a origem da impaciência e para ver os remédios que conduzem à mais saudável paciência.

Pensemos, além disso, que – tal como acontece com a preguiça –, afora os casos raros de infecção generalizada, o defeito da impaciência costuma ser “especializado”. Cada um de nós tem as “suas” impaciências particulares.

Pode ser que pertençamos, por exemplo, à turma daqueles “especialistas” que não têm paciência para escutar o próximo, sobretudo o mais próximo (marido, mulher, filhos). Sempre me recordarei de um bispo velhinho, a quem – por razões de trabalho – visitava com certa frequência. Como muitos anciãos, gostava de recordar coisas passadas, e eu – por respeito e inibição, pois era muito jovem – ficava a ouvi-lo, de modo que praticamente nunca abria a boca: limitava-me a deixá-lo falar. Passado algum tempo, soube com espanto que ele comentara a um colega que eu “tinha uma conversa muito agradável”! Senti vergonha, porque não tinha consciência de estar sendo paciente, e aprendi uma lição.

Para mencionar outro exemplo: não pertenceremos por acaso à turma especializada dos que jamais admitem interrupções? Estão “na deles” e dali não saem. Por mais que um filho, ou a esposa ou qualquer outra pessoa precise da sua atenção, da sua palavra ou da sua ajuda, o “homem intrinsecamente ocupado em suas coisas muito importantes” vai limitar-se a “responder”, impaciente, com um olhar de poucos amigos, unido a um ronco gutural ininteligível, mas perfeitamente interpretável.

E, ainda, não pertenceremos talvez àquele outro rol de pós-graduados, conhecido como “a turma dos impacientes mascarados”, que já apareciam acima divorciando-se? – “Sou muito paciente, dizem esses mascarados. Não brigo nunca!” Mas sempre, sistematicamente, fogem, lisos como uma cobra d’água, de enfrentar questões difíceis e aborrecidas (uma conversa a fundo com o filho, muito necessária), de aceitar compromissos (fazer oração diariamente, ler um livro de formação cristã) ou de assumir responsabilidades (colaborar habitualmente num trabalho assistencial). A razão disso não está nem na falta de tempo nem na falta de habilidade, mas no fato puro e simples de que “não querem saber”, “não querem ter trabalho”, ou seja, não querem sofrer. E eis neste caso a impaciência em estado quimicamente puro, em forma de uma completa falta de generosidade para aceitar com fé, esperança e amor “o que contraria”, aquilo de que “não gostamos”, isto é, o sacrifício e o sofrimento que Deus nos pede para acolher.

Agora pensemos nesta frase: – Isso me pegou na contramão! – diz o impaciente contrariado.

(…) Mas, ao escutarmos essa sua queixa, seria lógico que lhe perguntássemos:

– E… qual é a sua mão?

Em matéria de paciência, talvez seja esta a pergunta fundamental, a que melhor nos pode conduzir àquele “algo” que mencionamos acima e que é a verdadeira causa das nossas impaciências.

Todos temos mão e contramão na vida. A mão é o objetivo para o qual se orientam principalmente os nossos desejos, as nossas lutas, as nossas ambições, as nossas esperanças de realização e de felicidade. Essa orientação fundamental é a autêntica diretriz do nosso coração, das nossas reflexões, dos nossos devaneios e dos nossos empenhos.

Constatamos esta realidade em nós e nos outros. E, ao mesmo tempo, verificamos que essa orientação fundamental varia de um homem para outro. Mais ainda: que a mão dessa direção de vida tem sentidos contrários, conforme as pessoas.

Por exemplo: um professor universitário, entusiasmado com as suas pesquisas, não pode viver sem os seus livros e o seu estudo, chegando a sacrificar indevidamente a esse ideal científico até a saúde e a família. Pelo contrário, um estudante vadio não consegue viver nem conviver com os livros e o estudo. O contraste é ainda mais marcante se entramos a fundo nas questões em que se enraízam o sentido e o valor da vida. Para um santo, um mundo sem Deus seria uma noite horrenda, a quintessência do inferno. Para um agnóstico, Deus é perfeitamente dispensável, e todas as coisas estão niveladas pela mesma indiferença.

Se procurarmos meditar na vida, e conseguirmos lucidez suficiente para pensá-la em profundidade, perceberemos que todas as atitudes básicas, todas as orientações “de fundo”, todas as “mãos”, se reduzem, em último termo, a duas, que podem ser enunciadas em duas palavras: obter e edificar. Mas falaremos disso na próxima semana.

Lição: já podemos guardar uma ideia: no caminho do impaciente há uma mão e uma contramão. Por outro lado, no caminho da pessoa santa não há a contramão.

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