ALEGRIA: O ERRO DE PROCURÁ-LA NO PRAZER (I)

EVANGELHO – Jo 17, 1-11a

Naquele tempo: Jesus ergueu os olhos ao céu e disse: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho te glorifique a ti, e, porque lhe deste poder sobre todo homem, ele dê a vida eterna a todos aqueles que lhe confiaste. Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e àquele que tu enviaste, Jesus Cristo. Eu te glorifiquei na terra e levei a termo a obra que me deste para fazer.
E agora, Pai, glorifica-me junto de ti, com a glória que eu tinha junto de ti antes que o mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que tu me deste do meio do mundo. Eram teus, e tu os confiaste a mim, e eles guardaram a tua palavra.
Agora eles sabem que tudo quanto me deste vem de ti, pois dei-lhes as palavras que tu me deste, e eles as acolheram, e reconheceram verdadeiramente que eu saí de ti e acreditaram que tu me enviaste. Eu te rogo por eles. Não te rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu e tudo o que é teu é meu. E eu sou glorificado neles. Já não estou no mundo, mas eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Chegamos num momento culminante da Última Ceia. É o momento da conhecida “Oração sacerdotal de Cristo”. Cristo está a ponto de terminar a sua missão encarregada pelo Pai e, dirigindo-se ao Pai, diz palavras maravilhosas. Diz que sua missão era dar novamente a vida eterna a nós, a vida eterna com Ele, já que com o pecado as portas do Céu estavam fechadas. Diz também que sua missão era manifestar o Pai para nós, para conhecermos o Pai e o amarmos. Não temos como agradecer a Cristo pelo seu imenso amor a nós. Imaginem se Cristo viesse à terra pensando em si, pensando em ir através do seu eu satisfazendo-se nos prazeres desta vida. Será que Cristo terminaria sua vida imensamente feliz como terminou, dando a sua vida por nós? É disso que falará o Padre Francisco, do grande erro do mundo de achar que a alegria, a felicidade está no prazer, esquecendo-se do amor. Vejamos.

* * *

“Parábola” estrada, o ídolo e o fogo

Na estrada da vida, muitas vezes encontramos sinais que nos convidam, como o piscar de uma seta luminosa que indica: “Ao prazer”. E acrescenta: “Rumo à felicidade”.

Muitos enveredam por essas bifurcações. Chegam assim a uma clareira de gramado fino esmaltado de flores, no meio da qual se ergue um pedestal. Em cima dele, há um ídolo dourado que nos sorri. Letras de bronze o nomeiam: “O deus-prazer”.

Quando dele nos aproximamos, uma voz esotérica nos diz que, para obter os favores do deus sorridente devemos oferecer-lhe sacrifícios, à semelhança dos povos antigos. Para isso, ao pé do pedestal há uma pequena fossa escavada de onde saem chamas dançantes.

A voz meiga sussurra: “Atira na fogueira do sacrifício o que os tolos chamam Amor!” Obedecemos, ansiosos pelos favores do prazer. Imperceptivelmente, pouco a pouco, a fogo lento, o Amor vai se volatilizando em cinzas.

“Agora – voltamos a ouvir a doce voz –, sim, eu te guiarei para a liberdade e serás feliz. O deus-prazer será a estrela que te guie em todos os teus passos, será a finalidade das tuas procuras, o objeto dos teus anseios, o sentido da tua vida.”

Asas ou grilhões?

Há muitas pessoas que, desde a infância e a juventude cultuaram o prazer como seu único deus e senhor, sem incômodas barreiras moralistas. Foram incentivados a isso por adultos inescrupulosos, por pregadores de falsos psicologismos, de falsos antropologismos e outros marketings sedutores, num clima de aparente seriedade cultural, científica, televisiva, etc.

Sentiram-se “livres” sem as amarras da moral (“é proibido proibir”), das convenções sociais, das imposições e deveres chatos, das renúncias e das fidelidades obsoletas que só prendem e traumatizam.

Passou-se um tempo – não muito, em geral – e acabaram se encontrando (mesmo que jamais o tenham reconhecido) transformados em escravos do ídolo dourado. Amarrados de tal maneira, que já não se podem livrar dele.

Tudo o que era estrada aberta para a felicidade, foi-se enevoando de desilusão, porque a seta sorridente do deus-prazer conduziu-os, inexoravelmente, para becos sem saída. É lógico. O prazer é insaciável. Sempre pede mais. Empurra para novas experiências, pede mais dose de sexo, de álcool, de drogas, de frenesi dançante, e o acúmulo desses êxtases voláteis torna-se corrente de aço com que o ídolo escraviza.

Já não conseguem mudar, não têm mais forças. Tentam em vão quebrar os muros do cárcere estreito em que seu deus os encerrou. Mas tudo neles – mente, coração e vontade – está doente. Os sentimentos, os valores, a capacidade de amar viraram pó na fogueira do ídolo. Alucinados, descobrem que os seus vícios (este é o nome exato), agora são armas letais que lhes ameaçam ou destroem o coração, os pulmões, o fígado, o sangue … e a consciência.

─ Só Deus – com maiúscula –, e o amor sacrificado dos outros (o tipo de amor que eles excluíram) podem, a grande custo, ajudá-los a se libertarem.

Na sua autobiografia, o escritor britânico C. S. Lewis conta que, antes da conversão, procurava como fim o prazer. Mas isso o deixava insatisfeito, «era como um cão de caça que perdeu o rastro […] Ao terminar de construir um templo para o prazer, descobri que o deus do prazer tinha ido embora». Comprovou que o prazer é fugaz e só o amor que se entrega dá a felicidade duradoura[1].

Um contraste

Dominique Lapièrre, outro escritor, conheceu e acompanhou de perto o trabalho da Madre Teresa de Calcutá. Num dos seus relatos, descreve os últimos dias de Josef, um doente de aids que, após várias experiências de vida, veio ser recolhido pelas irmãs da Madre Teresa.

Prostrado no leito, ficou maravilhado pelo brilho de felicidade que viu nos olhos da Irmã Ananda, uma humilde indiana, filha espiritual da Madre Teresa, que cuidava dele. Fulgurava naqueles olhos uma alegria constante. E era fácil intuir que vinha do amor de um coração simples e abnegado.

Já agonizante, Josef conseguiu dizer à Irmã: «Vocês estão muito além do Amor!». Essa frase foi escolhida por Lapièrre como título de um livro.

Aquele rapaz que procurou o prazer na vida, veio encontrar à beira da morte o verdadeiro amor e a verdadeira alegria, na alma feliz de uma moça pobre que, para dar-se plenamente a Deus e aos irmãos, tinha renunciado a tudo o que homens e mulheres, deslumbrados pelo ídolo, consideram imprescindível neste mundo.

Tinha razão São Josemaria Escrivá quando respondia a uma jornalista: «O que verdadeiramente torna uma pessoa infeliz – e até uma sociedade inteira – é a busca ansiosa de bem-estar»[3].

Pensamento que se conjuga plenamente com estas palavras de uma carta da Bem-aventurada Isabel da Trindade: «O segredo da paz e da felicidade consiste em “sair” de nós mesmos» (24 de novembro de 1904).

Lição: esta é uma frase para pensarmos dias e dias: “vocês estão muito além do amor”! Vocês estão em outro patamar! Pensemos onde estamos procurando a alegria, a felicidade: no amor ou no prazer?

ALEGRIA: O ERRO DE PROCURÁ-LA NO PRAZER (I)

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