CRUZ: PERDER O MEDO

EVANGELHO – Jo 12, 24-26

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Vamos aproveitar este dia para falar de São Lourenço que é desconhecido para muitas pessoas. São Lourenço é depois de São Pedro e São Paulo, o santo mais importante da cidade de Roma. A homilia de hoje será um pouco mais longa, pois contarei o martírio de São Lourenço que morreu aos 33 anos, a idade de Cristo, como muitos outros santos.

São Lourenço nasceu por volta do ano 225, em Huesca, na Espanha. Seus pais, Orence e, interessante o nome da mãe, Paciência, ambos cristãos e muito virtuosos, lhe deram uma excelente educação.

São Lourenço, desde jovem, começou a chamar a atenção por seu amor a Jesus Cristo, por suas virtudes e por um grande amor à castidade. Na sua época, a cidade de Roma tornava-se cada vez mais a capital do cristianismo, mas era também a capital das barbáries e da idolatria. Movido então por um santo zelo, decidiu mudar-se para lá.

Estando em Roma, não tardou em ser reconhecido por suas qualidades morais, sendo convidado pelo Papa São Sisto a ordenar-se como diácono.

Pouco depois foi nomeado arquidiácono, que é um vigário-geral encarregado, pelo bispo, no caso o papa, da administração de uma parte da diocese. Como arquidiácono, ao invés de envaidecer-se, São Lourenço tornou-se ainda mais humilde, mais fervoroso e mais ardente no zelo pelas almas.

Também foi encarregado de distribuir a sagrada comunhão aos fiéis, como também da administração dos bens eclesiásticos, dos vasos sagrados, dos paramentos sacerdotais, do dinheiro destinado à sustentação dos ministros e também do dinheiro para socorrer aos pobres e necessitados.

Logo que começou a atuar em suas novas funções, no ano 258 d.C. foi emanado um decreto do imperador Valeriano, com o qual todos os bispos, presbíteros e diáconos deveriam ser condenados à morte.

Lourenço, alguns diáconos e o Papa Sisto II foram presos. O Papa Sisto II foi o primeiro a receber a condenação de morte. São Lourenço, muito triste e com os olhos cheios de lágrimas, desejoso de morrer no lugar de seu pai espiritual, disse ao Papa: “Pai, para onde ides sem vosso filho? Para onde vais sem o vosso diácono? Em que vos desagradei, Santo Padre? Achaste em mim alguma infidelidade?”

– Comovido por estas palavras de verdadeira dedicação filial, o Santo Padre profetizou a morte de São Lourenço: “Não te abandono filho. Deus reservou para ti provação maior e vitória mais brilhante. Pela minha velhice e fraqueza eles tiveram uma certa compaixão por mim. Tu, porém, és moço e forte. Daqui a três dias, seguir-me-ás através de tormentos muito mais atrozes. Vai, distribui pelos pobres, sem demora, todos os tesouros que te foram confiados e prepara-te para o martírio.”

Assim, São Lourenço entregou aos fiéis todos os vasos sagrados e paramentos, a fim de evitar que os pagãos os sequestrassem e os profanassem. Juntou então o dinheiro dos pobres e foi a todos os lugares em Roma, onde os cristãos estavam ocultos, devido às perseguições, e distribuiu o dinheiro da Santa Igreja entre eles.

Em um destes esconderijos , restituiu a visão de Crescêncio, que havia muitos anos que estava cego.

Logo que acabou de distribuir o dinheiro aos pobres, foi preso e o imperador pediu que lhe entregasse os “tesouros da Igreja”. Então, ele apresentou ao imperador os enfermos, os indigentes e os marginalizados, dizendo-lhe: “eis os tesouros da Igreja”.

Sentindo-se insultado, o tirano decidiu castigá-lo com os maiores suplícios. Mandou que trouxessem os instrumentos que serviam para atormentar os mártires e mostrando-os a São Lourenço, disse: “Ou sacrifica-te aos deuses ou padecerás muito mais do que todos os que já foram martirizados por professar esta seita infame!”

São Lourenço respondeu-lhe, então, com toda paz: “Os vossos deuses nem sequer merecem aquelas honras que se tributam aos homens. E vós quereis porventura, que eu lhes tribute adoração, só devida ao único e verdadeiro Deus? Além disso, pouca violência exercerão estes instrumentos de crueldade sobre mim, por que não temo os suplícios, confortado pelo meu Senhor Jesus Cristo”.

Foi então mandado ao cárcere, aos cuidados de um certo oficial de nome Hipólito. Logo que entrou na prisão, os cristãos ali detidos se lançaram aos pés de São Lourenço. Um deles chamado Lucilo, que há muitos anos tinha perdido a vista, recuperou-a milagrosamente, tomando a mão do santo, e colocando-a nos seus olhos. O oficial Hipólito, testemunha ocular desta maravilhosa cura, converteu-se ao cristianismo.

As torturas começaram no dia seguinte. Estenderam-no num cavalete, deslocando-lhe todos os ossos. Açoitaram-no com chicotes terminados com bolas de chumbo, dilacerando-lhe a carne.

Vendo estes bárbaros tormentos serem suportados com tamanho heroísmo por São Lourenço, um soldado da guarda imperial, chamado Romano, pediu-lhe o batismo, vindo ele mesmo, devido a isto, a padecer o martírio, um pouco depois.

Transformado pela cólera, o tirano lhe disse: “Sofrerás esta noite, um gênero de suplicio que certamente te fará mudar de opinião e de linguagem.” Respondeu-lhe, então, Santo Lourenço: “Teus tormentos serão minhas delícias. A terrível noite com que me ameaças, será para mim a mais clara e a mais alegre de toda a minha vida, pois me unirá ao meu Salvador, a quem exclusivamente adoro e amo!”

O tirano então mandou trazer uma grelha que foi posta sobre brasas. São Lourenço foi colocado sobre aquele leito de ferro, debaixo do qual ardia um fogo abrasador. Tão sereno e tranquilo ficou São Lourenço sobre aquela cama de fogo, feliz em poder sofrer por amor a Jesus Cristo, que muitos dos presentes se converteram à fé católica.

Tendo então suportado por algum tempo aquele horrendo suplício, o nobre e puro santo disse ao cruel e arrogante perseguidor, com um sorriso nos lábios: “Se quiserdes, podereis mandar virar-me, pois deste lado já estou bastante assado.”

Ouvindo estas palavras, enfureceu-se ainda mais o desumano torturador, ordenando aumentar o fogo por debaixo da grelha.

Dai a pouco São Lourenço sorria angelicamente, dizendo com uma fina ironia: “Não te pareces ó tirano, que eu esteja bastante assado? Agora se quiseres, poderás comer minha carne, que já está bem assada de todos os lados.”

A preciosa vida de São Lourenço ia então se esvaindo lentamente sob a ação abrasadora do fogo.

Aproveitou então os últimos instantes de vida para rezar pela conversão dos gentios e dos perseguidores ao cristianismo. Era o dia 10 de agosto, quatro dias depois do martírio do Papa Sisto II.

Lição: Olhando para o heroísmo de São Lourenço ao sofrer o martírio, peçamos a Deus para perder o medo ao sofrimento, sabendo que Deus dá graças para suportarmos todos os sofrimentos, todas as cruzes e dores da nossa vida.

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