CARIDADE (16): COMBATER O EGOÍSMO (2)

EVANGELHO – Mc 8, 14-21

Naquele tempo: Os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. Então Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? Tendo olhos, vós não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Doze”. Jesus perguntou: E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços? Eles responderam: “Sete”. Jesus disse: “E vós ainda não compreendeis?”
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
o Evangelho de hoje tem um lado muito simpático que é a ingenuidade e pouca perspicácia dos apóstolos. Qualquer coisa um pouco mais sutil comentada por Jesus, eles não captavam.

Conhecer os apóstolos é um consolo para nós porque no caminho da vida espiritual, uma vez que queremos crescer espiritualmente e praticar os ensinamentos de Cristo, temos a tendência de mostrar a Deus que somos grandinhos, que damos conta do recado. E ao ver que Jesus escolheu estes apóstolos simples, toscos, pouco inteligentes, frágeis, pecadores, nos damos conta de que não precisamos esconder nossas misérias, parecer-nos grandes, para que Deus nos ame. Sejamos totalmente simples com Deus, abrindo completamente a nossa alma, deixando Deus ver todas as nossas misérias. Assim estaremos à vontade diante de Deus e criaremos o ambiente para amá-lo de verdade. Esculturas engomadas não amam a Deus. Quem ama a Deus são seres humanos normais, com suas misérias e fragilidades.

Continuando a nossa série nas terças-feiras sobre a caridade, na última vez falamos de um grande inimigo da caridade que é o egoísmo. Começamos dizendo que só existem dois amores aqui na terra segundo Santo Agostinho: o amor a Deus, onde está incluído o amor ao próximo, e o amor a nós mesmos. No final listei uma série de sinais do egoísmo. Hoje quero falar que é necessária uma revolução para amarmos de verdade.

O crescimento no amor pode ser paulatino, mas a verdade é que para amar e crescer no amor é preciso haver uma revolução de órbita dentro de nós, uma revolução copernicana.

Santo Agostinho nos diz que só existem dois amores. Apoiados nisto, podemos dizer que só existem dois centros pelos quais o nosso eu pode orbitar: ou em torno de nós mesmos, que é o egoísmo, ou em torno dos outros, que é o amor. É neste sentido que falamos de uma revolução copernicana: se quero amar, é preciso mudar completamente o nosso centro gravitacional. Quem é egoísta pode escapar um pouco do seu eu e orbitar perto dos outros. Porém, se ele não muda o centro gravitacional, ele continuará centrado em si mesmo.

Como, então, conseguir mudar de órbita, do egoísmo para o amor?

Antes de responder a esta pergunta, gostaria de fazer um pequeno parêntesis. Pela minha experiência pessoal, existem pessoas que Deus deu uma graça desde o nascimento para serem mais inclinadas aos outros, mais bondosas. Essas pessoas são mais propensas naturalmente ao amor. Por outro lado, há pessoas que são como autistas, onde o sensor para os outros é fraquíssimo. Parecem egoístas, mas nota-se que é uma característica inata da pessoa. Estas pessoas terão mais dificuldade em amar.

Considerando estas realidades, de uma forma ou de outra, para amar, todos nós precisamos lutar muito. Mesmo a pessoa bondosa por natureza, pois a bondade inata é superficial, tem muito que crescer para se tornar um amor profundo que vai além dos vaivéns das emoções.

Devido ao pecado original, todos temos uma tendência enorme ao egoísmo, a girar toda a nossa vida em torno de nós mesmos: o meu fim de semana, o meu trabalho, o meu tempo, os meus sonhos, os meus projetos, a minha carreira, o meu corpo etc. Assim, o normal é ter que lutar muito, muito, para realizar a revolução copernicana. Ainda mais pensando em qual é o amor que Deus deseja que alcancemos para entrar no Céu, pois o Céu é o reino do amor puro. E o amor puro é um amor sem nenhum egoísmo, nenhuma soberba, nenhuma inveja, nenhuma preguiça, nenhuma vaidade, nenhum apego ou escravidão por nada.

O normal é que nosso amor seja um amor cheio de condições. Um amor que passa pelo filtro dos sete pecados capitais. Um amor puro é um amor que eliminou estes sete filtros, que são a origem de todos os pecados.

Na próxima vez vamos falar de como podemos realizar esta revolução copernicana.

Lição: pedir a Deus que nos ajude a realizarmos esta revolução fundamental para a nossa vida.

CARIDADE (16): COMBATER O EGOÍSMO (2)

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