VIRTUDES HUMANAS (12): PACIÊNCIA (2)

EVANGELHO – Jo 16, 20-23a

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes,
mas a vossa tristeza se transformará em alegria. A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Naquele dia, não me perguntareis mais nada.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
gostaria de focar no Evangelho de hoje estas palavras de Jesus: “Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria”.

Que tocantes são estas palavras de Jesus: “ninguém poderá tirar a vossa alegria”. O que é que Jesus está querendo dizer com isto? Normalmente as pessoas vivem perdendo a alegria. Então que alegria é esta que ninguém nos poderá tirar?

Jesus associa a alegria à sua ressurreição. Quando Ele ressuscitar, seremos inundados da alegria e ninguém nos poderá tirá-la. Jesus, então, está dizendo que Ele é a nossa alegria. De fato, costumo dizer que Deus não tem alegria; Ele é a Alegria! Com a sua ressurreição Jesus passará a estar conosco e nunca mais nos abandonará e, estando com Ele tudo tem saída, a morte se transforma em vida. Então estar com Cristo é estar mergulhado na alegria. E como ninguém nos pode tirar Deus do nosso coração, ninguém poderá nos tirar a alegria. É lógico que Cristo está falando de uma alegria mais profunda que não elimina as cruzes e dificuldades desta vida.

Continuando a nossa série das sextas-feiras sobre as virtudes, na última vez começamos a falar sobre a virtude da paciência e dissemos que existem três tipos de contrariedades e que diante delas podemos ter duas reações. Hoje vamos falar destas duas reações que são a impaciência e a ira. Estamos citando o Padre Francisco no seu livro “A paciência”.

* * *

A impaciência

É preciso dizer desde já que a impaciência, em si mesma, na sua essência mais íntima, consiste em não saber sofrer. A palavra paciência deriva do verbo latino pati, que significa padecer. Por isso, a virtude da paciência é a capacidade de padecer dignamente, a arte de sofrer bem, e mais concretamente a paciência cristã é a virtude que nos dá, com a graça divina, a capacidade de sofrer, de suportar as contrariedades e a dor – especialmente quando se prolongam – com fé, esperança e amor.

Uma vez esclarecido isto, pode também ficar claro que a irritação, a brusquidão, a raiva ou a cólera não fazem parte, propriamente falando, da impaciência – ainda que muitas vezes a acompanhem –, mas da ira. É bem verdade que a ira – a que nos referiremos adiante – e a impaciência convivem muitas vezes no nosso dia-a-dia como duas irmãs siamesas. Mas é útil não perder de vista, nesta reflexão sobre a paciência, que a impaciência se dá – mesmo que não se faça acompanhar de nenhuma emoção ou explosão – simplesmente quando não sabemos aceitar ou aceitamos de má vontade aquilo que nos contraria ou nos faz sofrer.

A impaciência é rica em apresentações. Pode-se manifestar quer no nosso interior, quer externamente, de maneiras muito variadas. Com muita frequência, aflora em forma de queixas internas (quando a pessoa se lamenta no íntimo, sentindo-se vítima), ou de reclamações ásperas ou lamurientas com os outros, ou de cobranças insistentes, ou de suspiros queixumentos, ou de desabafos (“Já não suporto mais! Cheguei ao limite! Isto é superior às minhas forças!”). Também são frutos da impaciência os comentários de desânimo e os olhares de tristeza… É interessante saber que um dos principais efeitos da paciência, mencionado por São Tomás de Aquino, é expulsar a tristeza do coração.

A ira

Ao lado da impaciência, um segundo modo de reagir perante as contrariedades é a ira. Quando alguém se deixa levar pela ira, é porque perdeu – repentinamente ou por acumulação de contrariedades – o controle emocional. A pessoa irada não tem mais autodomínio e extravasa a sua revolta por meio do grito, dos tapas, da injúria, do palavrão, do comentário ofensivo e grosseiro, da “cortada” (fecha a cara, levanta-se da mesa e vai-se embora sem acabar de jantar) ou da violência: desde dar um pontapé num objeto ou fechar uma porta com estrondo, até sacar o revólver e disparar.

Assim é a ira. Parente próxima, irmã siamesa até – dizíamos – da impaciência, mas diferente dela. Não é inútil, pois, repisar que a impaciência é, essencialmente, a incapacidade de sofrer, de sofrer “com classe”, dignamente, como um filho de Deus.

Importa insistir nisto porque é muito comum, hoje em dia, considerar como modelos de paciência comportamentos mansos (sem ira nenhuma) que, na realidade, são exemplos da mais perversa impaciência. Refiro-me, por exemplo, ao caso, tristemente trivial, de casais que se separam, após poucos ou muitos anos de matrimônio e, fazendo alarde de uma pretensa “maturidade”, se gabam de que “não brigaram”, não quiseram nem ouvir falar em separação litigiosa, e entraram em acordo “como gente civilizada” (acomodando suave e serenamente os seus dois egoísmos).

Por trás de tanta calma, o que é que houve? Vejamos de perto, e logo perceberemos que existiu uma elementar incapacidade de sofrer, de aceitar e superar com generosidade as contrariedades e divergências normais de uma vida a dois. Ou seja, houve a mais pura impaciência, uma impaciência radicalmente egoísta que, por apresentar-se cinicamente calma e sorridente, é especialmente abjeta. Costumam ter maior grandeza de coração e de caráter – e mais conserto – os que cometem o erro de separar-se arrastados por uma erupção vulcânica de raiva, de ira, de amor-próprio ferido. A ira, às vezes, é apenas um sinal de fraqueza. Mas a infidelidade fria e calculista é sempre o retrato do egoísmo.

Mas deixemos a ira para outra ocasião, e tentemos enfronhar-nos na impaciência, que é o tema que agora nos ocupa. E, antes de mais, como começo de conversa, será preciso reconhecer que todos nós, de um modo ou de outro, padecemos deste mal. Ninguém escapa. Por isso, será interessante procurarmos descobrir por que e como é que nos impacientamos, a fim de enxergarmos melhor os caminhos que nos podem conduzir à paciência, essa virtude tão amada, tão desejada e tão pouco praticada.

Lição: a convite do Padre Francisco Faus procuremos pensar nos próximos dias por que e como é que nos impacientamos para enxergarmos melhor os caminhos que nos podem conduzir à paciência.

VIRTUDES HUMANAS (12): PACIÊNCIA (2)

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