SALVAÇÃO (9): REALIDADE QUE MAIS IMPORTA (9)

EVANGELHO – Lc 11, 47-54

Naquele tempo, disse Jesus: Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: “Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e eles matarão e perseguirão alguns deles, a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo,
desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração. Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”. Quando Jesus saiu daí, os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa, por qualquer palavra que saísse de sua boca.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
“Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência!”

Jesus, com dor e com clareza, aponta aos fariseus o grande mal que estavam fazendo. Em vez de ajudar o povo a reconhecer o Messias em Jesus, fazem todo o contrário. Em vez de abrir a porta e deixar entrar, a fecham. Colocam-se no lugar de Deus como administradores da sabedoria e ciência de Deus.

A atitude de Jesus é totalmente contrária: “vinde a mim todos os que estão cansados e angustiados e eu os aliviarei” (Mt 11, 28).

Jesus oferece a salvação a todos e o que nos pede é fé e humildade. Que vejamos a verdade e a amemos.

Caminhar com o Senhor significa lutar por ser humildes. Porque como contava santa Teresa: “Uma vez eu estava considerando a razão por que nosso Senhor é tão amigo desta virtude da humildade e de modo repentino me surgiu na frente – sem que eu considerasse, mas de súbito – a seguinte ideia: porque Deus é a suma Verdade, e a humildade é andar na verdade”.

A humildade é necessária para caminhar com o Senhor. A soberba nos fecha em nós mesmos e pensamos que possuímos a verdade. A humildade, pelo contrário, abre o coração à verdade ao reconhecer que não sabemos tudo.

Continuemos a nossa série sobre a salvação. Se até agora estávamos vendo quão terrível é o inferno para procurarmos com todas as forças a salvação, agora Santo Afonso vai nos ajudar a considerar a maravilha que é o Céu e como vale a pena lutar para conquistá-lo. Vejamos.

* * *

Depois que a alma entrar no Céu nunca mais irá sofrer. “Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos, e já não haverá morte, nem pranto, nem gemido, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E o que estava sentado no trono disse: Eis que eu renovo todas as coisas” (Ap 21,4-5). Lá não existirá a sucessão de dias e noites, de calor e frio, mas um dia perpétuo sempre sereno, contínua primavera deliciosa e perene. Não haverá perseguições nem invejas, porque nesse reino divino todos se amam com imenso amor, e cada um goza da felicidade dos demais como se fosse sua própria.

Desconhecem-se ali angústias e temores, porque a alma confirmada na graça já não pode pecar nem perder a Deus. Todas as realidades celestiais possuem uma imensa formosura (Ap 21,5), e todas satisfazem e consolam. Os olhos deslumbrar-se-ão na admiração daquela cidade de perfeita beleza. Que delicioso espetáculo seria vermos uma cidade cujas ruas fossem calçadas de granito e límpido cristal e cujas casas fossem cobertas de ouro puríssimo e ornadas de grinaldas de flores… Infinitamente mais bela é a cidade da glória! Como será agradável ver os seus felizes moradores vestidos com pompa real, porque, segundo diz Santo Agostinho, todos são reis! Que prazer será contemplar a Virgem Santíssima, mais bela que o próprio céu; e o Cordeiro imaculado, Nosso Senhor Jesus Cristo, divino esposo das almas!

Santa Teresa conseguiu ver, certo dia, apenas uma das mãos do Redentor e ficou maravilhada à vista de tanta beleza… Nas moradas celestiais sentiremos suavíssimos perfumes, aromas divinos e se ouvirão músicas e cânticos de sublime harmonia… São Francisco ouviu, certa vez, por breves instantes, a execução dessa harmonia angélica e julgou morrer de dulcíssimo prazer… O que será, então, a audição dos coros de anjos e santos que cantam em uníssono as glórias divinas (Sl 83,5) e a voz puríssima da Virgem Imaculada que louva o seu Deus!… Como o canto do rouxinol num bosque excede e supera ao das demais aves, assim é a voz de Maria no céu… Numa palavra: haverá na glória todas as delícias que se podem imaginar.

Mas esses prazeres até aqui considerados são apenas os menores do céu. O bem essencial da glória é o bem supremo: Deus. A recompensa que o Senhor nos promete não consiste unicamente na beleza, na harmonia e nos encantos daquela cidade bem-aventurada; a recompensa principal é ser amado e contemplado face a face pelo próprio Deus (Gn 15,1). Assegura Santo Agostinho que, se Deus mostrasse seu rosto aos condenados, “o inferno se transformaria de súbito em delicioso paraíso”. E acrescenta que, se fosse dada a uma alma, ao sair deste mundo, a escolha de ver a Deus, ficando no inferno, ou não estar no inferno e não vê-lo, “preferiria, sem dúvida, padecer os tormentos eternos no inferno, mas ver a Deus.

A felicidade de ser amado por Deus e vê-lo face a face não podemos compreender cabalmente neste mundo. Procuremos, porém, imaginá-lo de alguma maneira, considerando que os atrativos do divino amor, mesmo na vida mortal, chegam a arrebatar não somente a alma, mas até o corpo das almas santas. São Filipe Néri foi uma vez arrebatado do chão juntamente com o banco em que estava sentado. São Pedro de Alcântara elevou-se também sobre a terra abraçado a uma árvore, cujo tronco se separou da raiz. Sabemos, além disso, que os santos mártires, graças à suavidade e doçura do amor divino, se regozijam no meio dos seus atrozes padecimentos. São Vicente, durante o seu martírio, falava de tal modo — diz Santo Agostinho — “que não parecia que estava sofrendo”. São Lourenço, estendido sobre as grelhas, dizia ao tirano com assombrosa serenidade: “vira-me e tosta-me do outro lado”, porque – como observa Santo Agostinho – “São Lourenço estava de tal modo abrasado pelo amor divino que não sentia o fogo material que o devorava”.

Se aqui na terra já sentimos uma inefável consolação sentindo nossa alma desfalecer de amor quando experimentamos na oração um pouco da bondade e da misericórdia divina, sendo que aqui neste mundo não vemos a Deus tal qual é, mas entre sombras, o que sucederá, porém, quando desaparecer essa venda e se rasgar este véu que nos separa de Deus e nossos olhos virem quanto Deus é belo, quanto é grande e justo, perfeito, amável e amoroso? (1Cor 13,12).

Lição: que estas palavras de Santo Afonso sobre o Céu nos ajudem a desejar muito a salvação e a afastar-nos cada vez mais do pecado e de tudo aquilo que nos afasta de Deus.

SALVAÇÃO (9): REALIDADE QUE MAIS IMPORTA (9)

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