EVANGELHO – Lc 11, 15-26
Naquele tempo, Jesus estava expulsando um demônio: Mas alguns disseram: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. Quando o espírito mau sai de um homem, fica vagando em lugares desertos, à procura de repouso; não o encontrando, ele diz: “Vou voltar para minha casa de onde saí”. Quando ele chega, encontra a casa varrida e arrumada. Então ele vai, e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. E, entrando, instalam-se aí. No fim, esse homem fica em condição pior do que antes”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Jesus fala várias vezes do demônio no Evangelho de hoje. E isso nos faz pensar na realidade do inferno.
O inferno é uma verdade da nossa fé. É uma verdade, pois foi revelada por Deus e, Jesus, falará dele cerca de 15 vezes ao longo da sua vida pública.
O Catecismo da Igreja refere-se a ele nos pontos 1033 a 1037. Veja o que diz nestes pontos:
1034 Jesus fala muitas vezes da “Geena”, do “fogo que não se apaga”, reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que “enviará seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente” (Mt 13,41-42), e que pronunciará a condenação: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno!” (Mt 25,41).
1035 O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, “o fogo eterno”.
Jesus nos fala da sua existência, pois é uma realidade e nos fala para o nosso bem. A última coisa que Deus deseja é que seus filhos estejam um dia neste lugar. Deus, que é um Pai que nos ama com amor infinito, não condena nenhum filho seu. A condenação, como já dissemos em outras ocasiões, é uma auto-condenação. É a própria pessoa que escolhe morrer sem se arrepender dos seus pecados. É a própria pessoa que escolhe ir ao inferno, viver eternamente longe de Deus. É isto que diz o ponto 1033 do Catecismo:
1033 Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo (…) Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra “inferno”.
Dando continuidade à nossa série sobre a salvação, gostaria de citar hoje as palavras de Santo Afonso sobre o inferno. Não podemos ter medo da verdade. Se o inferno existe, temos que olhá-lo de frente, conhecê-lo com profundidade para não querermos ir ao inferno em hipótese nenhuma e realmente preocupar-nos com a nossa salvação. Vejamos as palavras de Santo Afonso.
Inferno
É de fé que existe inferno. O que é o inferno? É o lugar de tormentos (Lc 16,28), como afirma o rico epulão na parábola contada por Jesus.
O inferno é um lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do condenado terão o seu castigo próprio, e onde aquele sentido que mais tiver servido para ofender a Deus, mais acentuadamente será atormentado (Sb 11,17; Ap 18,7).
A vista do condenado padecerá o tormento das trevas (Jó 10,21). Digno de profunda compaixão seria um infeliz encerrado em tenebroso e acanhado calabouço, durante quarenta ou cinquenta anos de sua vida. Pois o inferno é um cárcere fechado por completo e escuro, onde nunca penetrará raio de sol nem qualquer outra luz (Sl 48,20).
O tato será atormentado pelo fogo do inferno (Ecl 7,19). O Senhor o menciona no Evangelho fazendo referência à sentença dos condenados no Juízo Particular: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno” (Mt 25,41). Mesmo neste mundo, o suplício do fogo é o mais terrível de todos. Entretanto, há tamanha diferença entre as chamas da terra e as do inferno, que, segundo afirma Santo Agostinho, em comparação daqueles, as nossas chamas são como fogo pintado; ou como se fossem de gelo, acrescenta São Vicente Ferrer. E a razão consiste em que o fogo terreno foi criado para utilidade nossa, ao passo que o do inferno foi criado expressamente para o castigo. “Muito diferentes são — diz Tertuliano — o fogo que se utiliza para uso do homem e o que serve para a justiça de Deus”. A indignação de Deus é que acende essas chamas de vingança (Jr 15,14); e por isso Isaías chama espírito de ardor ao fogo do inferno (Is 6,4). O condenado estará dentro dessas chamas, envolvido por elas, como um pedaço de lenha numa fornalha. Terá um abismo de fogo debaixo de seus pés, imensas massas de fogo sobre sua cabeça e ao derredor de si. Quando vir, apalpar ou respirar, respirará, apalpará e verá o fogo. Estará submergido em fogo como o peixe na água. E essas chamas não cercarão apenas o condenado, mas penetrarão nele, em suas próprias entranhas, para atormentá-las. Todo o corpo será pura chama; arderá o coração no peito; as vísceras, no ventre; o cérebro, na cabeça; nas veias, o sangue; a medula, nos ossos. Cada condenado converter-se-á numa fornalha ardente (Sl 20,10). Há pessoas que não suportam o ardor da areia numa praia aquecida pelos raios do sol, que não conseguem estar junto a um braseiro num quarto fechado, que não resistem à chama de uma vela, e contudo não temem este fogo devorador, como lhe chama Isaías (Is 33, 44). Assim como uma fera devora um tenro cordeirinho, assim as chamas do inferno devorarão o condenado. Devorá-lo-ão sem o fazer morrer. “Continua, pois, insensato — diz São Pedro Damião, dirigindo-se ao sensual — continua a satisfazer tua carne, que virá um dia em que tuas impurezas se converterão em ardente piche dentro de tuas entranhas e tornarão mais intensa e mais abrasadora a chama infernal em que arderás”. Acrescenta São Jerônimo que aquele fogo trará consigo todos os tormentos e todas as dores que sofremos na terra; até o tormento do frio se padecerá ali (Jó 24,19). E tudo com tal intensidade que, segundo disse São João Crisóstomo, os padecimentos deste mundo são pálida sombra em comparação aos do inferno.
As faculdades da alma terão também o seu castigo apropriado. O tormento da memória será a viva recordação do tempo que, em vida, teve o condenado para salvar-se e que empregou em perder-se, e das graças que Deus lhe concedeu e que foram desprezadas. O entendimento sofrerá ao considerar o grande bem que perdeu perdendo a Deus e o céu, ponderando que essa perda é já irreparável. A vontade verá que tudo quanto deseja lhe é negado (Sl 140,10). O desventurado condenado nunca obterá nada do que quer, e sempre terá aquilo que mais o aborreça, isto é, males sem fim. Quererá livrar-se dos tormentos e desfrutar paz. Mas sempre será atormentado, jamais encontrará momento de repouso.
Lição: é pavoroso pensar no inferno, mas temos que fazer isso para termos horror ao pecado e, de modo especial, ao pecado mortal. Um cristão não deve ser movido pelo medo do inferno e sim, pelo amor a Deus. Porém, o inferno é uma realidade e não podemos deixar de pensar nele se queremos nos salvar.