EVANGELHO – Lc 11, 37-41
Naquele tempo, enquanto Jesus falava, um fariseu convidou-o para jantar com ele. Jesus entrou e pôs-se à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tivesse lavado as mãos antes da refeição. O Senhor disse ao fariseu: “Vós fariseus, limpais o copo e o prato por fora, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai esmola do que vós possuís e tudo ficará puro para vós”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: vemos no Evangelho de hoje o famoso escândalo farisaico, isto é, escandalizar-se por uma bobagem sem importância e, por outro lado, cometer pecados graves. Filtrar um mosquito, como dirá Jesus em outra ocasião e engolir um camelo. O fariseu escandalizou-se de que Jesus não lavasse as mãos antes de fazer uma refeição, quando estava cheio de roubos e maldades no seu coração.
Será que também me comporto desta maneira, tendo uma grande falta de unidade de vida no meu coração, escandalizando-me com bobagens e caindo, ao mesmo tempo, em pecados que ofendem gravemente a Deus como se fossem pecados sem importância? Saibamos ser pessoas de uma só peça sentindo dor por aquilo que temos que sentir dor.
Continuemos a nossa série sobre a salvação falando hoje dos remorsos que um condenado sentirá eternamente no inferno para termos cada vez mais horror deste lugar. Mais para a frente, em outras homilias, gostaria de relatar as visões que os santos tiveram do inferno. Apesar de passarmos mal lendo ou ouvindo estas coisas, toda a consideração do inferno nos ajuda muito a buscarmos a salvação. Mas vejamos agora o que diz Santo Afonso sobre os remorsos no seu livro “Preparação para a morte”.
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Muitos serão os remorsos com que a consciência roerá o coração dos condenados. Mas há três que principalmente os atormentarão: o pensar no valor efêmero das coisas pelas quais se condenou, no pouco que necessitava fazer para salvar-se e no grande bem que perdeu.
O primeiro remorso
Vale a pena viver oitenta ou noventa anos aqui na terra buscando o prazer, para padecer depois a condenação eterna onde depois de terem decorrido milhões de anos, o sofrimento está apenas começando? E, por acaso, estes oitenta ou noventa são todos de prazer? O pecador que vive sem Deus aqui na terra por acaso goza sempre de doçuras em seu pecado? Quantas vezes sentirá nojo do pecado e de si mesmo! E, estando longe de Deus, os sofrimentos pelos quais todos nós passamos aqui na terra são muito mais dolorosos. Será, então, que valeu viver em pecado? Por um vil prazer que durou apenas breves momentos na terra e que como o fumo se dissipou, exclamará o condenado: “arderei nestas chamas, desesperado e abandonado, enquanto Deus for Deus, por toda a eternidade!”
Diz São Tomás que o principal tormento dos condenados será a consideração de que se perderam por verdadeiros nadas, e que podiam ter alcançado facilmente, se o quisessem, o prêmio da glória. Este é o primeiro remorso do condenado.
O segundo remorso
O segundo remorso de sua consciência consistirá em pensar no pouco que necessitava fazer para salvar-se. Um condenado que apareceu a Santo Humberto revelou-lhe que sua maior aflição no inferno era reconhecer a indignidade do motivo que o levara à condenação e a facilidade com que a poderia ter evitado. O condenado dirá então: “Se tivesse me mortificado para não olhar aquele objeto, se tivesse vencido a vergonha de ficar mal diante dos outros ou tal amizade, não teria me condenado… Se tivesse me confessado com frequência, se tivesse feito diariamente uma leitura espiritual, se tivesse invocado a Jesus e a Maria, não me condenaria.
O terceiro remorso
Considerar o grande Bem que perderam, será o terceiro remorso dos condenados.
“Conceda-me Deus quarenta anos de reinado e renunciarei gostosamente ao seu paraíso”, disse a infeliz princesa Isabel da Inglaterra. Obteve, de fato, os quarenta anos de reinado. Mas que dirá agora a sua alma na outra vida? Certamente, não pensará o mesmo. Que aflição e que desespero sentirá ao ver que, por reinar quarenta anos entre angústias e temores, gozando um trono temporal, perdeu para sempre o reino dos céus! Maior aflição, entretanto, sentirá o condenado ao reconhecer que perdeu a glória e o Sumo Bem, que é Deus, não por acidentes de má sorte nem pela maldade dos outros, mas por sua própria culpa. Verá que foi criado para o céu, e que Deus lhe permitiu escolher livremente a vida ou a morte eterna. Verá que teve em sua mão a faculdade de tornar-se, para sempre, feliz e que, apesar disso, quis seguir outro caminho. Verá como se salvaram muitos de seus companheiros que, apesar de passarem por perigos idênticos ou maiores de pecar, souberam vencê-los, pedindo ajuda a Deus, ou, se caíram, não tardaram em levantar-se e voltar a lutar para amar a Deus. Ele, porém, não quis imitá-los e, com isso, condenou-se ao inferno, nesse mar de tormentos, onde não existe a esperança.
Lição: a partir de amanhã passaremos a considerar o Céu e toda a sua maravilha. Mas que tenhamos viva a consideração do inferno, pois é uma terrível realidade e que saibamos percorrer aqui na terra o caminho contrário que conduz a ela.