PROVIDÊNCIA DIVINA (2): DEUS É PAI (2)

EVANGELHO – Jo 3, 16-21

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito. Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. Mas quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
como vimos ontem, Deus é Pai e tem um amor infinito por nós, uma preocupação infinita pela nossa felicidade. Então não deveríamos temer a nada. O Evangelho de hoje, corroborando com esta ideia, nos diz que Deus amou tanto o mundo, ama tanto a nós, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. Ou seja, Deus está disposto a tudo para cuidar de nós, para nos proteger, para termos a vida e a vida eterna.

Para tornar mais clara esta ideia, gostaria de citar umas palavras deste autor, Rafael Llano Cifuentes, no seu livro “Deus é Vosso Pai”, que costumo recomendar a muitas pessoas.

* * *

“Não temais” sou eu, (Lc 12,4) diz o Senhor aos discípulos atemorizados. E a mensagem da encarnação começa justamente com estas palavras: “Não tenhas medo, Maria” (Lc 1,30). O Senhor nos incita à paz e à serenidade, insistindo: “Não vos preocupeis…” (Mt 6,34). Nós, contudo, damos a impressão de vivermos habitualmente atemorizados e preocupados. Preocupados ou amedrontados por algo que pode nos acontecer, por algo que parece estar escondido em nosso coração em forma de presságio…: o receio de uma doença, de ficar desempregado, de fracassar no trabalho ou nos estudos, de perder um amor ou de não encontrá-lo, de não ter a aceitação, a popularidade ou êxito que desejamos, de não progredir, o temor de ficar parados numa via morta, de “marcar passo” no caminho da vida, de ficar sozinhos, abandonados, de envelhecer, de morrer…

Jesus, porém, parece estar nos dizendo continuamente: “Quanto a vós até mesmo os vossos cabelos foram todos contados” (cf. Mt 10,29-31). O Senhor continuamente nos repete como fez com os discípulos: “Meus amigos eu vos digo: não tenhais medo” (Lc 12,4); ou como proclamou aos pastores: “Não temais!” (Lc 2,10).

Quando perdemos a consciência de que Deus é nosso Pai, sentimo-nos com frequência dominados por um sentimento de desamparo, de medo, de solidão. A esse respeito tive uma experiência pessoal à qual já fiz referência em outra ocasião. Pregava um retiro numa fazenda de Miguel Pereira, próxima ao Rio de Janeiro, e estando já deitado, escutei um gemido lancinante que provinha do jardim. Procurei cobrir-me bem com o cobertor, para não ouvi-lo e poder dormir. Mas não conseguia. Era um lamento agudo, persistente. Parecia o pranto de uma criança. Que estranho! Levantei-me. No meio da noite escura o lamento parecia-me mais dramático e menos humano. Fui me aproximando pouco a pouco, enquanto o gemido lastimoso ia aumentando. De repente, encontrei no meio da relva um cachorrinho assustado, abandonado e tremendo de frio. Então, dei-me conta de que a cadela da fazenda — a “Baronesa”, como a chamavam — acabava de ter seus filhotes. Recolhi entre as minhas mãos um deles e o coloquei à altura de meu rosto. Continuava gemendo, e com seus pequenos olhos parecia me perguntar: “Quem é você?”. E eu lhe respondi: “Sou seu amigo, não se preocupe que vou levá-lo a sua mãe”. E comecei a acariciá-lo, enquanto ele agitava alegremente o rabinho e farejava meu rosto. Começou a lamber-me uma e outra vez. Confesso que fiquei encantado. Comecei a sentir uma ternura que poderia chamar de paterna. A solidão, o abandono e a fragilidade dessa criaturinha, na escuridão e no frio da noite, fazia-me sentir verdadeiramente enternecido. Coloquei, então, o cãozinho no peito da “Baronesa” e ele começou a mamar esfomeadamente. Poucos minutos depois estava dormindo tranquilamente, debaixo do olhar protetor de sua mãe.

Já deitado novamente, invadiu-me uma profunda emoção. E pensei: se eu, que não tenho nada a ver com esse animalzinho, senti uma ternura tão grande diante de sua tristeza e de seu abandono, quanto mais sentirá por mim, no meio dos meus gemidos, o Pai que me criou, que me escolheu para si “antes de criar o mundo” (Ef 1,4) e que me amou a ponto de entregar seu Filho para morrer por mim numa cruz. Foi então que, pela primeira vez, de modo espontâneo, comecei a clamar: papai, papai, papai… e não conseguia parar. Foi, sem dúvida, o Espírito Santo. Agora, quando me sinto só, recordo-me de um pobre cachorrinho gemendo no meio da noite e, como por reflexo condicionado, vêm-me aos lábios estas palavras: papai, papai, papai.

Lição: que a consciência viva de que Deus é nosso Pai e que tem um amor infinito por nós, uma preocupação infinita pela nossa felicidade, vá nos conduzindo a eliminar todos os medos da nossa vida, como citamos no começo: o medo de uma doença, de ficar desempregado, de fracassar no trabalho ou nos estudos, de perder um amor ou de não encontrá-lo, de não ter a aceitação, a popularidade ou êxito que desejamos, de não progredir, o temor de ficar parados numa via morta, de “marcar passo” no caminho da vida, de ficar sozinhos, abandonados, de envelhecer, de morrer…

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