OTIMISMO: SEU FUNDAMENTO NA FÉ (II)

EVANGELHO – Jo 6, 22-29

Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos.
Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”
Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
no final do Evangelho de hoje uma pessoa pergunta a Jesus: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” E Jesus, em seguida, respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.

Como a fé é importante! Jesus resume toda a realização das obras de Deus em nós em acreditar que Ele é o Messias, o Filho de Deus vindo à terra para nos salvar. A fé, realmente, é decisiva. É decisiva, como vimos ontem, para sermos otimistas. O fundamento do otimismo é a fé, a fé nas promessas divinas, nas palavras divinas. E esta fé tem que entrar, influenciar na nossa vida, fazendo-nos viver da fé. É o que irá dizer Dom Rafael no seu livro “Otimismo”. Vejamos.

* * *

Reparemos que não é o mesmo ter fé do que viver da fé. “O justo vive da fé” (Heb 10, 38): o cristão encontra o seu impulso vital na fé, as tomadas de posição da sua vida fazem-se a partir da fé (…). (Com ela) O mar torna-se sólido e firme sob os seus pés como quando Pedro caminhava sobre as águas; pelo contrário, a vida torna-se flutuante e tenebrosa para quem hesita, como quando Pedro começou a afundar entre as ondas por ter duvidado (Mt 14, 22-33).

Num mundo de perplexidades em que os homens, quando sentem medo, se agarram ao que podem — a uma autoafirmação orgulhosa, a um precário apoio humano ou a espiritualismos estranhos e superstições esquisitas —, o Senhor estende-nos sempre a sua mão — como a estendia a um Pedro apavorado — para que a agarremos com firmeza.

Essa mão está continuamente ao nosso lado, para encontrarmos nela como que a conexão com a rede infinita da onipotência e do amor de Deus. Como se, por um ato de profunda fé, nos tornássemos condutores de toda a luz, de todo o calor e de todo o poder de Deus. Já tivemos a experiência da sua presença inefável ao nosso lado? Já nos sentimos alguma vez mergulhados na corrente do mais alto e mais sublime amor, que é o amor de Deus? Já fizemos nossas, pela vivência pessoal, aquelas palavras de São Paulo: Tudo posso nAquele que me conforta (Fil 4, 13)? Quando existe essa experiência encarnada, a vida de um homem muda completamente.

É necessário reavivarmos a nossa fé, pedindo insistentemente como os apóstolos: Aumenta-nos a fé (Lc 17, 5). Chegaremos assim a mergulhar nas raízes do otimismo e a compreender, em toda a sua extensão e profundidade, estas três verdades que derivam da própria essência de Deus e que são o fundamento de todo o otimismo cristão: Deus é bom; Deus é fiel; Deus é todo-poderoso.

Somos otimistas, em primeiro lugar, porque Deus é bom. Deus é amor (1 Jo 4, 8), Deus nos criou por amor e nos criou para amar. Colocou no fundo do nosso ser um anseio infinito de plenitude. Mais ainda, porque Ele é bom, porque nos quer felizes, não pode deixar de nos dar os meios para conseguirmos o objeto desse mandato: um bom Pai, que dá o fim, dá os meios.. Compreendemos o que representa saber que Deus está mais interessado, mais empenhado no nosso destino, na nossa felicidade, do que nós mesmos? Não deveria, isso encher-nos de otimismo?

Somos otimistas, em segundo lugar, porque Deus é fiel. Cumpre o que promete. Se Ele nos afirma: A paz vos deixo, a minha paz vos dou (Jo 14, 27), não seria uma terrível ironia que nos condenasse à intranquilidade e ao pessimismo? Jesus nos diz: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe, quem busca acha, e a quem bate se abre. Pois quem de vós, se o filho lhe pede um pão, lhe dá uma pedra? Ou se lhe pede um peixe, lhe dá uma serpente? Se, pois, vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhas pedirem (Mt 7, 7-11). Poderá Deus utilizar acentos mais eloquentes e sensíveis para convencer-nos a confiar na sua fidelidade?

Somos otimistas, em terceiro lugar, porque Deus é todo-poderoso: Não há nada impossível a Deus (Lc 1, 37). Um cristão que confia em Deus, confia também na sua onipotência, como diz o Salmo: Os que confiam no Senhor são mais fortes do que o monte Sião (…); o Senhor é minha luz e minha salvação. A quem temerei? Mesmo que se levantem contra mim os inimigos, não temerá o meu coração (Sl 26, 1-2). E nesse sentido são impressionantes algumas passagens da Sagrada Escritura, como a de Davi diante daquele Golias que é um gigante na estatura: Tu vens a mim com espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do Senhor dos exércitos (1 Sam 17, 45). E o rapazote de dezesseis anos acabou derrotando o enorme filisteu, não pelas suas forças, mas pelo poder de Deus.

Esse sadio “complexo de superioridade” que nos dá a certeza do poder de Deus nos conduzirá a um suave abandono nas mãos de Deus, que representa o fruto mais saboroso do otimismo cristão: Meu destino está nas tuas mãos (Sl 30, 16), “Senhor, sei que não me abandonarás”. E o Senhor responde: “Pode acaso uma mãe, uma mulher esquecer o próprio filhinho, não se enternecer pelo fruto das suas entranhas? Pois bem, ainda que ela o esqueça, eu não me esquecerei de ti” (Is 49, 15). “Não temas; estou contigo” (At 18, 9-10).

* * *

Que estas de Dom Rafael alimentem poderosamente o nosso otimismo.

OTIMISMO: SEU FUNDAMENTO NA FÉ (II)

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