DOUTRINA (20): A CONSCIÊNCIA

EVANGELHO – Lc 9, 1-6

Naquele tempo: Jesus convocou os Doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios e para curar doenças, enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os enfermos. E disse-lhes: “Não leveis nada para o caminho: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem mesmo duas túnicas. Em qualquer casa onde entrardes, ficai aí; e daí é que partireis de novo. Todos aqueles que não vos acolherem, ao sairdes daquela cidade, sacudi a poeira dos vossos pés, como protesto contra eles”.
Os discípulos partiram e percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e fazendo curas em todos os lugares.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
São Lucas diz no Evangelho de hoje que Jesus convocou os doze apóstolos e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios e para curar doenças. A principal doença que os apóstolos irão curar é a doença do pecado através do sacramento da confissão. O pecado é uma realidade moral e nós sabemos que cometemos um pecado através da consciência. E é dela que vamos falar na homilia de hoje dando continuidade à nossa série sobre a doutrina. Então falemos sobre ela.

A consciência é um fato de experiência: todos os homens julgam, ao agir, se o que fazem está bem ou mal. Este conhecimento intelectual dos nossos próprios atos é a consciência.

NATUREZA DA CONSCIÊNCIA

É um juízo do intelecto prático que julga sobre a moralidade das ações, tendo como parâmetro a Lei Moral Natural.

REGRAS FUNDAMENTAIS DA CONSCIÊNCIA

NUNCA É LÍCITO AGIR CONTRA A SUA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA

Agir contra o que dita a consciência é, afinal, agir contra si próprio, contra as convicções mais profundas e contra os princípios primeiros da ação moral.

AGIR NA DÚVIDA É PECADO

De modo que é preciso sair da dúvida antes de agir. De outra maneira, nos expomos voluntariamente a cometer um pecado. Ver o aspecto do inciso 4.3.3., in fine.

É OBRIGATÓRIO FORMAR A CONSCIÊNCIA

Convém insistir em que a consciência não cria a norma moral – apenas a aplica. Por exemplo, cairia em erro – o erro chamado subjetivismo moral – quem dissesse: “para mim, não é mau deixar de ir à Missa aos Domingos”; da mesma forma seria insensata a atitude de quem pensasse que por meio de opiniões pessoais se pode alterar a natureza de um metal, ou que os ácidos passem a comportar-se como sais. Trata-se somente de aplicar, ao caso concreto, normas objetivas.

5.3. DIVISÃO DA CONSCIÊNCIA

Para compreendermos o melhor possível os estados de consciência possíveis, os teólogos estabeleceram três divisões fundamentais:

a) em razão do objeto:

– verdadeira
– errônea

b) em razão do modo de julgar:

– reta
– falsa
– relaxada
– restrita
– escrupulosa
– perplexa

c) em razão da firmeza do juízo:

– certa
– duvidosa

AGORA VAMOS VER CADA UMA DELAS:

CONSCIÊNCIA VERDADEIRA E CONSCIÊNCIA ERRÔNEA

Como é bem sabido, a verdade é a adequação do entendimento à realidade das coisas. Quando essa adequação falta, produz-se o erro. Desta forma, a consciência verdadeira será aquela que julga em conformidade com os princípios objetivos da moral, aplicados ao ato, e a consciência errônea será a que julga em desacordo com a verdade objetiva das coisas.

A consciência errônea pode ser vencível ou invencível. No primeiro caso, a pessoa pode pesquisar e saber a verdade. No segundo caso, a pessoa não tem como chegar à verdade ou porque vive isolada do mundo e da sociedade ou porque, no momento, não teve como ter acesso à verdade.

Três princípios se deduzem do que fica dito:

1) É necessário agir sempre com consciência verdadeira, visto que a retidão dos nossos atos consiste na sua conformidade com a lei moral.

2) Não é pecado agir com consciência invencivelmente errônea, porque, neste caso, não há forma de chegar à verdade.

3) É pecado agir com consciência vencivelmente errônea, já que, neste caso, é possível conhecer a verdade.

CONSCIÊNCIA RETA E FALSA

– reta: julga com fundamento e prudência;
– falsa: julga sem fundamento nem prudência;

CONSCIÊNCIA RELAXADA

É aquela que, por superficialidade e sem motivos sérios, nega ou diminui a gravidade do pecado.

CONSCIÊNCIA RESTRITA

É aquela que, com certa facilidade e sem motivos sérios, vê ou aumenta a gravidade do pecado.

É preciso combatê-la, porque pode levar a cometer pecados graves onde eles não existem, e conduzir ao escrúpulo. Para isso, é conveniente a formação e o pedido de conselho a quem nos possa ajudar a ter um critério mais reto sobre os nossos atos.

Não se deve confundir com a consciência delicada, que teme até as mais pequenas faltas e procura evitá-las, mas sem ver pecado onde evidentemente não o há.

CONSCIÊNCIA ESCRUPULOSA

É um exagero da consciência restrita, que, sem motivo, chega a ver pecado em tudo ou quase tudo o que se faz.

Esta consciência manifesta-se numa contínua inquietação pelo receio de pecar em tudo, especialmente em matéria de castidade, e na dúvida frequente sobre a validade das confissões passadas, com a consequente obstinação em repetir a acusação dos pecados nas confissões seguintes; no temor permanente de que o confessor não compreenda a situação interior da alma, onde se segue o desejo de repetir uma e muitas vezes as mesmas explicações, geralmente longas e minuciosas; na insistência nos seus próprios pontos de vista perante os do confessor; etc.

O escrupuloso deve obedecer ao confessor, visto que o escrúpulo é uma doença da consciência, que impede um reto juízo.

d) Consciência perplexa: é aquela que vê pecado tanto em fazer uma coisa como em não a fazer. Por exemplo, o enfermeiro que pensa que peca se for à missa deixando sozinho o doente, e que peca também por não ir à missa.

Quem tiver este tipo de consciência deve formá-la e consultar, a fim de ir saindo dela. Quando não lhe for possível pedir conselho quanto a um fato concreto, deve escolher o que lhe pareça menos mal, e, se ambas as atitudes lhe parecerem igualmente más, não peca ao escolher qualquer delas.

CONSCIÊNCIA CERTA E CONSCIÊNCIA DUVIDOSA

Consciência certa é a que julga a bondade ou da malícia de um ato com firmeza e sem receio de errar.

Devemos agir desta maneira, pois, de contrário nos arriscamos a ofender a Deus. Não é necessária uma certeza absoluta, que exclua toda a dúvida; basta a certeza moral, que exclui a dúvida prudente e fundamentada. Por exemplo, se estou de cama com hepatite, tenho a certeza absoluta de não ser obrigado a ir à missa; se tenho gripe que me force a estar de cama ou sem sair de casa, posso ter a certeza moral de estar dispensado até me restabelecer.

Consciência duvidosa, pelo contrário, é aquela que não sabe o que pensar sobre a moralidade de um ato; a vacilação impede-a de emitir um juízo.

A dúvida pode ser:

a) negativa: quando se apoia em motivos insignificantes e pouco sérios;

b) positiva: quando há razões sérias para duvidar, mas insuficientes para afastar o temor de equívoco.

Os princípios morais acerca da consciência duvidosa são:

a) as dúvidas negativas devem ser desprezadas, porque, caso contrário, se tornaria impossível a tranquilidade interior, e a alma ficaria continuamente cheia de inquietação (p. ex., se foi válida a minha assistência à missa, por ter ficado atrás da igreja com os filhos; se foi válida a confissão, porque me deram a absolvição muito depressa, etc.)

b) não é lícito agir com dúvida positiva, pois se aceitaria a possibilidade de pecar.

Lição:
com o estudo da moral, vamos vendo como as coisas não são tão simples como muitos imaginam. É preciso fazer todo um esforço de estudo e formação da consciência para agirmos retamente.

 

DOUTRINA (20): A CONSCIÊNCIA

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