EVANGELHO – Mc 9, 30-37
Naquele tempo, Jesus e seus discípulos atravessaram a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis pelo caminho?” Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: “Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas aquele que me enviou”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: a vinda de Jesus foi preparada por Deus com muitas profecias e o próprio Jesus também fez profecias para dar testemunho da sua divindade. E uma das profecias que Jesus fez foi a que aparece no Evangelho de hoje: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Só Deus sabe o futuro, pois para Deus não há presente, passado e futuro. Esta realidade do presente, do passado e do futuro é uma realidade da nossa condição de criatura que tem um antes e um depois. Como diz Aristóteles, o tempo é a medida do movimento. O movimento aqui não é simplesmente este que conhecemos como o nosso, por exemplo, quando vamos de um lugar para outro. É toda passagem da imperfeição para a perfeição. Como não somos perfeitos, temos que ir de um lugar para outro para alcançar alguma perfeição. Como Deus é perfeito, Deus não necessita realizar nenhum movimento. Portanto Deus é imóvel. Assim, para Deus não há presente, passado e futuro.
Continuando a nossa série sobre as virtudes da caridade, começamos a refletir na semana passada sobre a compreensão. Dissemos que para entender o que é esta virtude, precisamos em primeiro lugar olhar para Cristo. E dissemos que Cristo manifestou a compreensão em quatro situações: com pessoas próximas que lhe fizeram o mal, com pessoas próximas que lhe fizeram um grande mal, com pessoas mais distantes que lhe fizeram o mal e com pessoas mais distantes que lhe fizeram um grande mal. Vimos na semana passada a primeira situação, pessoas próximas que lhe fizeram o mal, e como Cristo reagiu. O exemplo que citamos foi a negação de Pedro. E a primeira lição que tiramos foi que só compreende quem ama verdadeiramente o próximo.
No lado oposto à pessoa que ama, está a pessoa orgulhosa. Pensar mal das pessoas, desejar o mal para elas, criticá-las sem mais, desprezá-las, são manifestações de uma pessoa que não ama o próximo como Cristo o ama. Estas pessoas não saberão compreender os outros.
Vamos considerar hoje a segunda situação em que Cristo manifestou a compreensão: com pessoas próximas que lhe fizeram um grande mal. Aqui o exemplo mais emblemático é o que Judas fez com Jesus.
Se nos colocamos no lugar de Jesus, como aceitar que um dos apóstolos, um dos doze que o acompanhou de uma maneira tão próxima, tão íntima, durante aqueles três anos de vida pública, que conviveu com Ele que é o próprio Deus feito homem, o Amor encarnado, que só fez o bem a todas as pessoas e que viu tantos milagres, pôde traí-lo? E não foi uma traição qualquer. Foi uma traição para entregá-lo à morte.
E qual foi a reação de Jesus perante Judas? Ódio? Desejo de matá-lo? Xingá-lo? Nada disso. Como Jesus pode odiar um filho? Como Jesus pode desejar matar um filho? Judas, apesar de trair Jesus de uma maneira cínica, fria e cruel, é filho de Deus. E como Deus olha para um filho? Com compaixão. Se um filho se comporta mal é porque se perdeu, porque está doente, está cego. Um pai sabe que esta não é a essência do seu filho. A sua essência é boa. O que acontece é que se perdeu.
Esta é a segunda lição que podemos tirar: sabemos compreender quando vemos o próximo como filho de Deus e, portanto, nosso irmão. E, vendo-o como irmão, por mais terrível que seja o mal que cometa, veremos que esta não é a sua essência. Num irmão nós vemos o processo de perdição. Vemos que ele não nasceu pervertido, mas que foi se perdendo ao longo do caminho, deixando-se levar por más companhias, deixando-se levar pelo prazer da bebida, pela ganância etc.
Tenho olhado o próximo como irmão? Olho como alguém distante, que não tem nada a ver comigo, com desprezo? Se o olho desta forma, não estou sendo cristão, pois um cristão vê o próximo como filho de Deus e, portanto, seu irmão.
Compreender o próximo não significa, como já dissemos, fazer de conta, quando comete o mal, que não fez nada. Não. O mal é o mal e ele deve pagar pelo mal que cometeu. Mas, vendo-o como irmão, sentiremos pena de ter feito o mal e não teremos raiva e ódio por ele. Pensemos nisso.