EVANGELHO – Mt 5, 38-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Ouvistes o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente!” Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado!
Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!
Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto!
Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!
Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: pela dureza dos corações, Deus no Antigo Testamento permitia a vingança de uma injustiça, na mesma proporção da injustiça feita. Esta lei conhecida como Talião, olho por olho, dente por dente, foi estabelecida para refrear as vinganças que eram desproporcionais à injustiça cometida. Porém Jesus agora, trazendo a plenitude da Lei, estabelecerá pela lei da caridade, que não se deve mais ter nenhuma vingança. E, para enfatizar este preceito, dá exemplos que vão no sentido contrário à vingança, mas que não é exatamente isto que devemos fazer. Por exemplo, ao falar do tapa na face direita, diz para não só não nos vingarmos dando um tapa na face do agressor, mas para oferecermos a outra. Jesus não quer que façamos isso, mas apenas que não nos vinguemos.
Dando continuidade à nossa série sobre São Josemaria e a sua mensagem, gostaria de falar hoje sobre a unidade de vida.
Uma decorrência da mensagem de São Josemaria de que todos que estão no mundo estão chamados à santidade, é a unidade de vida.
O que significa isso? Significa que não deve haver separação entre o material e o espiritual, o humano e o divino.
Como dizia numa das primeiras reflexões sobre a mensagem de São Josemaria, houve durante muitos séculos uma separação entre o material e o espiritual, o humano e divino. Até esta luz que São Josemaria teve no dia 2 de outubro de 1928, as realidades materiais, o mundo era visto como algo mau, que nos afasta de Deus. Se a realidade principal da vida humana é conquistar o Céu, assim pensavam os cristãos, o que realmente importa é a realidade espiritual. Com esta visão, sem que as pessoas percebessem muito, criou-se uma separação entre o material e o espiritual.
É esta separação que ainda hoje nós percebemos em muitos católicos. Eles são um quando rezam, quando vão à missa, e outro nos outros momentos. Em parte, isto acontece, por esta quebra na unidade de vida que vem de séculos atrás. Uma realidade não se unia com a outra. Mas o bom senso diz: tem alguma coisa que está errada nisso!
Com a mensagem de São Josemaria de que o mundo é bom, pois ele saiu das mãos de Deus e que nós estamos chamados a ser santos no meio do mundo fazendo das tarefas diárias uma ocasião para amar a Deus, tornou-se muito clara esta união que deve haver entre o material e o espiritual, entre o humano e divino. São Josemaria falará desta verdade na sua famosa homilia “Amar o mundo apaixonadamente”. Ele dirá que não podemos ter uma vida dupla, não podemos ser, e aqui utilizava uma palavra que mostra bem o erro da separação entre o humano e o divino: não podemos ser “esquizofrênicos”. É muito boa esta palavra, não é verdade? Não podemos ser esquizofrênicos! De fato, o esquizofrênico faz uma separação entre o real e o imaginário. Dirá também que na linha do horizonte se unem o Céu e a terra e que esta união deve dar-se dentro de nós, na nossa alma.
Sem a separação entre o espiritual e o material, o divino e o humano, Deus tem que estar nas realidades materiais e humanas: se eu procuro amar a Deus e comportar-me bem quanto estou na igreja, tenho que procurar amar a Deus e comportar-me bem dentro da minha casa, no trabalho, na rua etc.
Esta unidade de vida também ficou muito clara quando São Josemaria ressaltou, apoiado na luz do dia 2 de outubro, o lado humano de Cristo. Este lado também foi esquecido ao longo dos séculos. Ao privilegiar a realidade espiritual, via-se apenas o lado divino de Cristo. O lado humano de Cristo faz-nos ver que viveu uma realidade humana aqui na terra, trabalhando, vivendo no seio de uma família, com os parentes, com os amigos etc. E faz-nos ver que foi perfeito homem, que tinha todas as virtudes em grau máximo. E que se Cristo é nosso modelo, estamos chamados a ter também todas as virtudes em grau máximo. E, as virtudes, fazem-nos ser bons onde quer que estejamos: dentro da igreja ou fora da igreja. Todo este lado da conquista das virtudes cristãs não era muito enfatizado antigamente.
Podemos terminar perguntando-nos:
– sou uma pessoa de uma só peça? Sou o mesmo em todos os lugares?
– há alguma separação entre a minha realidade material e espiritual?
– o espiritual tem entrado no humano? Tem levado a mudar comportamentos humanos que não são bons?
– tenho alguma incoerência entre Jesus que digo ser meu modelo e o meu comportamento?
– luto contra todas as manifestações de falta de unidade de vida?
– esforço-me para colocar Deus nas minhas realidades humanas ou esqueço-me que Deus existe quando estou em casa, na rua, no trabalho, com os amigos?
– minhas conversas com meus amigos refletem a vida cristã que levo ou entro em conversas indecentes ou nas fofocas?
Lição: que a unidade de vida se torne uma realidade em nossas vidas.
