EVANGELHO – Mc 12, 35-37
Naquele tempo, Jesus ensinava no templo, dizendo: “Como é que os mestres da Lei dizem que o Messias é Filho de Davi? O próprio Davi, movido pelo Espírito Santo, falou: “Disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés”. Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?” E uma grande multidão o escutava com prazer.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: no Evangelho de hoje Jesus mostra ser superior a qualquer ser humano aludindo às palavras do rei Davi que se referia ao Messias como seu Senhor. Se o Messias é chamado de Senhor pelo grande rei do povo escolhido, então o Messias é superior à criatura humana.
Queria dar continuidade à nossa reflexão sobre o Sacrário. O Messias, o Filho de Deus e não o filho de Davi está presente em todos os Sacrários da terra. Parando para pensar, isso é uma loucura, não é verdade? Como Deus pode se submeter a estar num pedaço de pão dentro de uma caixa dourada sujeito a ser esquecido, maltratado e abandonado? São Josemaria comentando isto dirá que só há uma explicação: o amor indizível de Deus por nós.
(Forja 824) O maior louco que já houve e haverá é Ele. É possível maior loucura do que entregar-se como Ele se entrega, e àqueles a quem se entrega?
Porque, na verdade, já teria sido loucura ficar como um Menino indefeso; mas, nesse caso, até mesmo muitos malvados se enterneceriam, sem atrever-se a maltratá-Lo. Achou que era pouco: quis aniquilar-se mais e dar-se mais. E fez-se comida, fez-se Pão.
– Divino Louco! Como é que te tratam os homens?… E eu mesmo?
(Forja 825) Jesus, a tua loucura de amor rouba-me o coração. Estás inerme e pequeno, para engrandecer os que te comem.
Que bonitas são estas palavras, não é verdade? Através delas percebemos um pouco esta loucura de Deus de ficar desta forma na terra por nós que somos tão ingratos, que temos tão pouca fé.
De fato, acreditar que Jesus está na Eucaristia é uma prova de fé. Neste sentido, uns anos atrás o Papa João Paulo II dedicou um ano inteiro à Eucaristia e refletindo naquele ano sobre este mistério, veio-me o pensamento do momento em que Jesus decidiu entrar no Sacrário. É só imaginação, pois não foi exatamente assim. Imaginei Jesus prestes a entrar no Sacrário e eu ou um de nós ao seu lado. Jesus fez que ia entrar e aí parou, voltou-se para nós e disse: “não, não vou entrar aqui. Não vou entrar, pois você vai se esquecer de mim. Chegará um momento que você vai me abandonar. Agora você está me vendo, você está me ouvindo, você pode tocar em mim, mas quando eu entrar aqui dentro, você no começo vai se lembrar de mim, mas vai passar o tempo e Eu cairei no esquecimento. Não, não vou entrar aqui”. E aí nós lhe dizemos: “Imagine, Senhor, pode deixar, eu jamais vou me esquecer de você, você é tudo para mim, eu sempre estarei aqui para lhe fazer companhia, para conversar com você, para pedir luzes, para pedir forças, para conversarmos como amigos”. E aí Jesus respondeu: “Está bem, então eu vou entrar”. Então Jesus ia entrar mas, de repente, parou. Fez um silêncio e nos disse: “Não, você diz que não vai se esquecer de mim, mas vai passar o tempo e você vai se esquecer de mim. Você não virá mais aqui para me visitar, para me fazer companhia”. E aí nos dizemos: “Que isso Jesus! Imagine! Eu te amo muito, muito! Como vou me esquecer de você, te abandonar”!
Já sabemos como terminou este diálogo imaginário: Jesus entrou no Sacrário. Mas este diálogo reflete bem o que acontece conosco, como nossa fé é colocada à prova. Nós somos assim: acreditamos naquilo que vemos, que tocamos, que ouvimos. Uma vez que Jesus entrou no Sacrário, ao não o vermos mais com os nossos olhos da carne, não o tocarmos mais como tocamos uma pessoa e não o ouvimos mais como ouvimos um ser humano, vamos perdendo a fé de que Ele está ali, até nos tornarmos indiferentes à sua existência.
Sim, Jesus entrando no Sacrário coloca em jogo a nossa fé. Mas, o erro é apoiar a nossa fé na nossa sensibilidade. O grande apoio da fé não é a sensibilidade, mas as palavras de Jesus de que estaria no pão como vemos no capítulo 6 de São João e na Última Ceia e depois como os primeiros cristãos viveram desta verdade até os dias de hoje. A fé é um ato da razão, ajudado pela graça, de dar crédito total às palavras de Deus. Se Deus disse, então isto é assim e ponto.
Lição: peçamos a Deus que aumente a nossa fé na sua presença na Eucaristia, no Sacrário e que ela se torne mais forte a cada dia.
