EVANGELHO – Mt 23, 23-26
Naquele tempo, disse Jesus: “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo. Guias cegos! Vós filtrais o mosquito, mas engolis o camelo. Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós limpais o copo e o prato por fora, mas, por dentro, estais cheios de roubo e cobiça. Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por dentro, para que também por fora fique limpo”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: No Evangelho de hoje Jesus censura o cuidado que os fariseus tinham com coisas exteriores e sem importância ao invés de cuidarem do interior, de limpar o coração dos seus pecados.
A hortelã, o endro (ou anis) e o cominho são ervas que os Judeus cultivavam e empregavam para aromatizar as casas ou para condimentar a comida. Sendo produtos insignificantes não entravam no preceito moisaico do pagamento dos dízimos (Lev 27, 30-33; Dt 14, 22 ss.); este dizia respeito aos animais domésticos e a alguns dos produtos mais correntes do campo: trigo, vinho, azeite, etc.
No entanto, os fariseus, para ostentar o seu respeito escrupuloso pela Lei, pagavam o dízimo inclusive daquelas ervas. Era uma falsa manifestação de generosidade e de acatamento da Lei: o Senhor não a despreza nem a rejeita, apenas restabelece a ordem das coisas. E inútil cuidar os pormenores secundários, se não se cuidam as coisas fundamentais e verdadeiramente importantes: a justiça, a misericórdia e a fidelidade.
Por escrúpulo de não se exporem a tragar algum inseto declarado impuro pela Lei, os fariseus chegavam a filtrar as bebidas através de um lenço. Nosso Senhor reprova-os por esse modo ridículo de se comportarem: filtrar cuidadosamente um mosquito, ter escrúpulo da menor coisa e tragar sem vacilação de nenhuma espécie o camelo, isto é, cometer grandes pecados.
Para comentar este Evangelho onde vemos os escribas e fariseus muito preocupados com as coisas exteriores, como se Deus estivesse aí e não dentro do nosso coração, gostaria de citar as palavras de um santo espanhol, monge trapista, chamado São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938):
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Vós purificais o exterior, mas Deus encontra-Se no interior
Se os que buscam a Deus soubessem! Se esses sábios que buscam a Deus no conhecimento intelectual e nas vãs discussões soubessem; se os homens soubessem onde se encontra Deus! Quantas guerras se evitariam; quanta paz não haveria no mundo, quantas almas seriam salvas. Insensatos e tolos, os que procuram a Deus onde Ele não está! Escutai e espantai-vos: Deus está no coração do homem, isso eu sei. Mas reparai, Deus vive no coração do homem quando esse coração está desapegado de tudo o que não é Ele, quando esse coração se apercebe de que Deus bate à porta (Ap 3,20) e, varrendo e limpando todas as suas salas, se dispõe a receber o único que pode saciá-lo.
Que bom é viver assim, com Deus no mais fundo do coração; que doçura tão grande vermo-nos cheios de Deus! […] Custa pouco, não custa mesmo nada fazer tudo o que Ele quer quando amamos a sua vontade. E assim até a dor e o sofrimento nos dão paz, pois sofremos por amor. Só Deus sacia a alma e a preenche plenamente. […] Os sábios perguntam onde está Deus: Ele encontra-Se onde o sábio, com toda a sua orgulhosa ciência, não consegue chegar.
Lição: Sigamos o conselho de São Rafael Arnaiz: encontrar a Deus no interior do nosso coração, desapegando-nos de todas as realidades deste mundo, realidades materiais, prazeres terrenos, carreira profissional, sonhos humanos, para que só Deus seja a razão de ser da nossa vida. Assim nos dispomos a receber o único que pode saciar o nosso coração, o único que pode encher o nosso coração de uma imensa felicidade.