DEMÔNIOS (5): SEU PODER SOBRE NÓS

EVANGELHO – Mt 10, 24-33

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: O discípulo não está acima do mestre, nem o servo acima do seu senhor. Para o discípulo, basta ser como o seu mestre, e para o servo, ser como o seu senhor. Se ao dono da casa eles chamaram de Belzebu, quanto mais aos seus familiares! Não tenhais medo deles, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido.
O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!
Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!
Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais.
Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus.
Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus, continuando suas recomendações, começa dizendo no Evangelho de hoje que seus discípulos não devem temer se forem perseguidos, pois Ele também é perseguido. Se o mestre é perseguido, como o discípulo não está acima do mestre, o discípulo também será perseguido. Se chamaram o mestre de Belzebu, isto é, de demônio, também chamarão vocês de Belzebu.

É natural que os inimigos de Deus queiram desqualificar a Deus e chamá-lo não de Deus, mas de demônio. Falando do demônio, continuemos nossa reflexão sobre este tema tão importante.

Hoje gostaria de falar sobre qual é o poder que o demônio tem sobre nós.

Em primeiro lugar, não podemos esquecer que os demônios são anjos, isto é, seres muito superiores a nós. E, ao pecarem, não perderam nenhum dos seus dons naturais. Os demônios possuem uma acuidade intelectual e um poder sobre a natureza incomparavelmente superiores aos dos seres humanos. E toda a sua inteligência e todo o seu poder concentram-se agora em afastar as almas do Céu. Os seus esforços dirigem-se incansavelmente no sentido de nos arrastar para o seu mesmo caminho de rebelião contra Deus.

Porém, como já dissemos, os demônios são criaturas e, portanto, necessitam de Deus para existir e só podem fazer aquilo que Deus permite. No Evangelho de São Mateus vemos que os demônios têm necessidade de “luz verde” mesmo para uma operação sem maiores consequências, ainda que insólita, como entrar num rebanho de porcos que pastam na terra dos gadarenos. Havia a uma certa distância um grande rebanho de porcos que pastava. E os demônios suplicaram a Jesus: “Se nos expulsas, envia-nos a esse rebanho de porcos”. “Ide”, disse-lhes Jesus. Saíram então e foram para os porcos, e eis que, do alto da escarpa, todo o rebanho se precipitou no mar; onde se afogou (Mt 8, 30-32).

São Tomás de Aquino insiste muito neste ponto: o demônio não pode tentar os homens tanto quanto deseja; só pode atormentá-los na medida em que Deus o permite. Nem mais, nem menos!

“São Paulo nos diz: Deus não permitirá que sejais tentados além do vosso poder de resistência, mas, junto com a tentação, dar-vos-á os meios para suportá-la e a força para vencê-la (1Cor 10,13).

Deus permite a tentação por amor, para dar à criatura humana a oportunidade de elevar-se até Ele por atos de virtude; o demônio provoca a tentação por ódio, para fazer cair o homem. Deus oferece ao homem uma ocasião de subir e Satanás utiliza essa mesma ocasião para fazê-lo cair. Assim, por uma misteriosa ordem de Deus, sem o saber, sem o querer, contra a sua vontade e contra as inclinações de todo o seu ser, Satanás contribui indireta, mas realmente, para a expansão do reino de Deus sobre a terra. Não é esta, aliás, a razão da sua presença entre os homens até o Juízo final, antes de ser precipitado nas profundezas do inferno?

A um sacerdote da Missão, a quem Satanás tinha razões para odiar, São Vicente de Paulo escrevia: “O diabo pode ladrar, mas não pode morder; pode atemorizar-vos, mas não vos pode fazer mal. Isto eu vo-lo garanto diante de Deus, na presença de quem vos falo”.

Também Santa Teresa de Lisieux se servia dessa imagem para mostrar os limites do poder de Satanás: comparava o demônio a um grande cão malvado que nada pode contra uma criancinha subida aos ombros de seu pai.

A este respeito, pode ser útil recordar mais uma vez a seguinte verdade: o poder do demônio, embora grande, não é absoluto: nunca, nem sequer nos casos de possessão, … ele tem acesso direto às potências propriamente espirituais do ser humano, isto é, à inteligência e à vontade. Ou seja, não pode nunca, em nenhuma hipótese, obrigar-nos a pecar. Só há pecado quando há consentimento da vontade, isto é, quando o nós decidimos ceder à tentação. Nada, nem a duração nem a intensidade de uma tentação, pode causar diretamente – nem, por outro lado, “autorizar” ou desculpar – o consentimento.

Lição: Saber que o demônio só pode fazer aquilo que Deus permite e que nenhuma tentação será maior do que as nossas forças, dá uma tranquilidade a nós. Porém, não podemos brincar em serviço. Saibamos estar sempre em guarda, longe dos muros da fortaleza como dizia São Josemaria.

DEMÔNIOS (5): SEU PODER SOBRE NÓS

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