EVANGELHO – Mt 10, 7-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em vosso caminho, anunciai: “O Reino dos Céus está próximo”. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu sustento. Em qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali seja digno. Hospedai-vos com ele até a vossa partida. Ao entrardes numa casa, saudai-a.
Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. Se alguém não vos receber, nem escutar vossa palavra, saí daquela casa ou daquela cidade, e sacudi a poeira dos vossos pés. Em verdade vos digo, as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos dureza do que aquela cidade, no dia do juízo.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: O Evangelho de hoje continua a relatar as palavras de Jesus antes de enviar os discípulos a pregar: “Em vosso caminho, anunciai: “O Reino dos Céus está próximo”. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”.
Nestas palavras de Jesus vemos que a manifestação do Reino que chega é a graça de Deus que se derrama do Céu e é representada pela cura dos doentes, pela ressurreição dos mortos, pela cura dos leprosos. E outra manifestação é a expulsão do demônio, a expulsão do mal sobre a face da terra.
Estamos falando sobre o demônio nas últimas homilias e hoje gostaria de falar dos nomes que atribuímos ao demônio, do seu objetivo e de como é a sua atuação.
Frequentemente chama-se o demônio de “Satanás”. Satanás é uma palavra hebraica que significa “inimigo, adversário”.
A palavra diabo vem do latim e significa “negador”, “caluniador”, “opositor”, “acusador”.
A palavra “demônio” tem origem no grego daimónios, “que provém da divindade, enviado por um deus”. A palavra “demônio” não aparece uma só vez no original do Velho Testamento” que foi escrito em hebraico. A palavra “demônio”, originalmente, não tinha uma conotação negativa. No Antigo Testamento da Bíblia, especificamente no contexto do Judaísmo, não há uma ênfase significativa em demônios como entidades sobrenaturais maléficas. A crença judaica tradicional é monotheosita, ou seja, a crença em um único Deus, e não atribui poderes sobrenaturais independentes a entidades malignas. No entanto, no período do Segundo Templo (entre o retorno do exílio babilônico e a destruição do Segundo Templo em Jerusalém), a influência das crenças e mitologias de outros povos começou a se infiltrar na cultura judaica. Isso incluía influências de religiões vizinhas, como a religião persa e a grega, que possuíam uma concepção de seres sobrenaturais malignos. Posteriormente, no Novo Testamento, a palavra “demônio” é usada com mais frequência e se refere a seres malignos e espirituais. O cristianismo primitivo, influenciado pela tradição judaica e pelo ambiente cultural helenístico, adotou a noção de demônios como seres espirituais malignos que atuam como inimigos de Deus e tentam afastar as pessoas da fé.
A palavra Lúcifer significa “portador da luz”. Esse nome tem origem latina e era utilizado para se referir ao planeta Vênus. Esse planeta é o astro mais brilhante visível na terra depois do sol e da lua. Seu brilho é mais percebido pela manhã. Daí também vem a tradução “estrela d’alva”. Como a Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego, a palavra lúcifer não é encontrada originalmente nela. Mas quando os textos bíblicos foram traduzidos para o latim, a palavra lúcifer foi empregada para se referir à estrela matutina e, também, no sentido figurado para indicar a proeminência e importância de um homem, ou mesmo para se referir à glória de Deus e a pessoa de Cristo. Nos primeiros anos da Igreja, por exemplo, muitos cristãos, especialmente romanos, se chamavam Lúcifer. Mas a partir do século 3 d.C., tornou-se comum entre os cristãos a associação do nome Lúcifer com Satanás. Assim, pode-se dizer que o nome Lúcifer passou a ser o apelido popular do diabo. O nome Lúcifer ficou associado ao diabo por causa de uma interpretação de Isaías 14:12-20, que é uma profecia contra a “estrela da manhã”. Em Isaías 13 e 14, Deus enviou uma mensagem de condenação à Babilônia, que tinha oprimido o povo de Israel. A Babilônia era um império muito grande e forte, que conquistava todos os seus inimigos. Seus reis, como o famoso Nabucodonosor, eram muito arrogantes e se sentiam invencíveis. Na passagem sobre Lúcifer, a profecia fala sobre alguém que é a “estrela da manhã”, que se tornou muito arrogante. A estrela da manhã achou que podia se tornar como Deus, roubando Sua glória. Ela achou que tinha todo poder, mas seu fim seria a humilhação e a destruição total. A interpretação mais óbvia é que essa profecia é sobre a queda da Babilônia e de seu rei. Mas também surgiu outra interpretação, que sugere que a estrela da manhã não é apenas o rei da Babilônia. Lúcifer também poderá ser uma referência ao poder espiritual por trás de todos os reis arrogantes que se rebelam contra Deus – o diabo. Assim, a história da estrela da manhã poderá ser uma metáfora sobre a queda do diabo. Ele se tornou arrogante e se rebelou contra Deus. Por isso, ele foi expulso e um dia será completamente destruído. Por causa disso, o nome Lúcifer ficou associado ao diabo na tradição popular cristã. Mas a Bíblia não diz em lugar nenhum que Lúcifer é (ou era) um dos nomes do diabo. Apenas significa a estrela da manhã.
A Bíblia refere-se ao demônio por outros nomes e títulos. Por exemplo: ele é chamado de dragão (no Apocalipse), belial (maligno) (por São Paulo), pai da mentira (por São João), tentador (também por São Paulo) e outros como Belzebu. Baalzebub (senhor das moscas) era o nome de uma divindade filisteia (cf. 2Reis 1,2-16). Os judeus, após o exílio (586-538 a.C.), evitavam pronunciar o nome de Satã ou Satanás; por isto, em seu lugar, usavam o nome Baalzebub, deformação de Baalzebul (dono da casa, isto é, príncipe da moral infernal). Finalmente os rabinos, querendo ridicularizar os ídolos, modificaram o nome para Baalzebel (senhor do esterco).
Lição: seja qual for o nome que se atribui ao demônio, ele é a personificação do mal, o príncipe do mal. Peçamos a Deus que estejamos cada vez mais longe do mal.