DEMÔNIOS (9): ANTÍTODO CONTRA A MANIPULAÇÃO DA INTELIGÊNCIA E DAS PAIXÕES

EVANGELHO – Mt 11, 28-30

Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Que consoladoras são estas palavras de Jesus. Muitas vezes procuramos o descanso, libertar-nos das tensões, buscando inúmeros recursos como acupuntura, yoga, métodos de relaxamento e até remédios de tarja preta e nos esquecemos de procurá-lo em quem pode penetrar no mais fundo do nosso coração e acalmá-lo. Os meios humanos não devem ser excluídos, porém, menos ainda, os meios divinos, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Parte das nossas tensões são fruto de termos caído em alguma tentação e termos feito algo ruim. Dando continuidade ao texto de Lopes Quintás, hoje vamos falar de como nos precaver das manipulações do demônio e das pessoas do mal.

(…) É possível contar com algum antídoto contra a manipulação (…)?

(…) Não há defesa mais confiável do que a devida preparação por parte de cada pessoa. Tal preparação inclui três pontos básicos:

1) Estar alerta, conhecer detalhadamente os ardis da manipulação.

2) Pensar com rigor, saber utilizar a linguagem com precisão, propor bem as questões, desenvolvê-las com lógica, não cometer saltos no vazio. Pensar com rigor é uma arte que devemos cultivar. Aquele que pensa com rigor dificilmente é manipulável. Um povo que não cultive a arte de pensar, com a precisão devida, está à mercê dos manipuladores.

3) Viver criativamente. O que há de mais valioso na vida somente se pode aprender verdadeiramente quando se vive. Se você, por exemplo, promete criar um lar com outra pessoa e for fiel a essa promessa, vai aprendendo dia a dia que ser fiel não se reduz à capacidade de aguentar. Aguentar é para muros e colunas. O homem está chamado a algo mais alto, a ser criativo, ou seja: a ir criando em cada momento o que prometeu criar. A fidelidade tem um caráter criativo. Quando o manipulador de plantão diz a seu ouvido: “Chega de aguentar, procure satisfações fora do casamento, pois isso é que é imaginativo e criador”, você saberá responder adequadamente: “Amigo, não estou para aguentar, mas para ser fiel, que é bem diferente”. Você dirá isso porque saberá por dentro o que é a virtude da fidelidade e suas consequências.

Se tomamos estas três medidas, seremos livres apesar da manipulação.
E agora Lopes Quintás vai dizer que o manipulador, no caso estamos considerando o demônio, uma vez que não tem sucesso nestas manipulações que poderíamos dizer que são mais sutis, ele tentará uma menos sutil, que é convencer as pessoas de que o grande valor desta vida é pensar em nós mesmos, buscar o nosso proveito. Indo neste caminho se desperta o que ele chama de vertigem.

A vertigem é um processo espiritual que começa com a adoção de uma atitude egoísta. Se sou egoísta na vida, tendo a considerar-me como o centro do universo e a tomar tudo o que me rodeia como meio para meus fins. Quando me encontro com uma realidade -por exemplo, uma pessoa- que me atrai porque pode saciar meus apetites, me deixarei fascinar por ela. Deixar-se fascinar por uma pessoa significa deixar-se arrastar pela vontade de dominá-la para pô-la a meu serviço. Quando estou a caminho de dominar aquilo que inflama meus instintos, sinto euforia, exaltação interior. Parece que estou para obter uma rápida e comovedora plenitude pessoal. Mas essa comoção eufórica degenera imediatamente em decepção, porque, ao tomar uma realidade como objeto de domínio, não posso encontrar-me com ela, e não me desenvolvo como pessoa. Lembremos que o homem é um ser que se constitui e desenvolve através do encontro. Essa decepção profunda me produz tristeza. A tristeza sempre acompanha a consciência de não estar a caminho do desenvolvimento como pessoa. Essa tristeza, quando se repete uma e outra vez, se torna envolvente, asfixiante, angustiante. Vejo-me esvaziado de tudo o que necessito para ser plenamente homem. Ao vislumbrar esse vazio, sinto vertigem espiritual, angústia.

Se o sentimento de angústia é irreversível porque não sou capaz de mudar minha atitude básica de egoísmo, a angústia dá lugar ao desespero: a consciência lúcida e amarga de que tenho todas as saídas fechadas para minha realização pessoal.

Um jovem estudante um dia se esforçou em convencer uma amiga viciada em drogas de que ela estava se destruindo. Ela o interrompeu e disse com desalento: “Não perca seu tempo. Sei perfeitamente que estou à beira do abismo. O que acontece é que não posso voltar atrás, o que é muito diferente”. Esta consciência de não ter saída é o desespero. O desespero leva rapidamente à destruição, própria ou alheia, física ou moral. (Digamos entre parêntesis que este processo se refere àqueles que em perfeito estado de saúde se entregam ao afã de possuir o que deslumbra os próprios apetites, não àqueles que sofrem algum tipo de depressão por motivos fisiológicos).

Resumindo: a vertigem não exige nada no princípio, promete tudo e tira tudo no final. A vertigem te enche de ilusões e acaba convertendo-te num iludido.

Vejamos agora o processo oposto: o do êxtase ou criatividade. Se não sou egoísta, mas generoso, não reduzo o que me rodeia a meio para meus fins. Eu sou um centro de iniciativa, mas você também o é. Por isso lhe respeito como você é e no que você está chamada a ser. Este respeito me leva a colaborar com você, não a lhe dominar. Colaborar é articular minhas possibilidades com as suas. E esta articulação é o encontro. Ao encontrar-me, desenvolvo-me como pessoa e sinto alegria. Esta alegria, em seu grau máximo, se chama entusiasmo. Entusiasma-me encontrar realidades que me oferecem tantas possibilidades de agir criativamente que me elevam ao melhor de mim mesmo. Essa elevação é o êxtase. Quando me sinto próximo à realização de minha vocação mais profunda, experimento uma grande felicidade interior. Esta felicidade me leva à construção de minha personalidade, da minha e as daqueles que se encontram comigo. Aqui está um dado decisivo: No processo de êxtase o encontro cria vida de comunidade. O processo de vertigem a destrói.

O êxtase é um processo espiritual que ao princípio exige de você por inteiro, lhe promete tudo e ao final lhe dá tudo. O que é que exige no princípio? Generosidade. Você não encontrará nem uma só ação que seja criativa no esporte, na vida de relação, na vida estética ou religiosa que não tenha em sua base alguma dose de generosidade. Se você for egoísta ao praticar esporte, você reduzirá o jogo a mera competição, que é uma das formas de vertigem da ambição. Você vai tomar os companheiros de jogo como meios para seus fins. Você não construirá unidade mas dissensão, e vai gerar violência.

Lição: estejamos em guarda contra todas as manipulações do demônio, que usa de falsas verdades para nos afastar de Deus.

DEMÔNIOS (9): ANTÍTODO CONTRA A MANIPULAÇÃO DA INTELIGÊNCIA E DAS PAIXÕES

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