CARIDADE (26): BOM HUMOR (7)

EVANGELHO – Lc 21, 5-11

Naquele tempo: Algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
Mas eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer? Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: “Sou eu!” – e ainda: “O tempo está próximo”. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. E Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
acompanhando os últimos dias do ano da Igreja que termina no próximo sábado para dar início ao novo ano com o Tempo do Advento, que é um tempo de preparação para o Natal, a Igreja nos sugere como Evangelho destes dias as palavras de Jesus falando, como já dissemos, sobre o fim dos tempos. Jesus se serve do comentário dos apóstolos sobre a beleza do Templo para dizer que haverá um dia em que não ficará pedra sobre pedra desta bela construção, em que haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares e acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu. Estas palavras de Jesus são um convite para não adiarmos a nossa conversão, pois não sabemos se teremos o dia de amanhã. Como diz a Bíblia: “hoje é o tempo favorável, hoje é o dia da salvação”.

Dando continuidade à nossa série das terças-feiras sobre a caridade, estamos refletindo sobre a virtude do bom humor. Na última vez falamos que Deus também sorri e tem bom humor. Hoje vamos falar do bom humor de Jesus Cristo.

* * *

O “BOM HUMOR” DE CRISTO

Cristo é a revelação máxima de Deus. Através da sua natureza humana — das palavras, dos gestos —, conhecemos o máximo que se pode conhecer sobre a intimidade divina. E boa parte dessa revelação consiste na profunda alegria de Jesus, expressão da felicidade e do amor de Deus.

(…) (Como vimos, nós rimos pela) captação rápida dos curiosos contrastes — voluntários ou involuntários — que se dão entre as nossas intenções e palavras, entre palavras e atos, etc., e que são tão frequentes nas relações sociais. Ora, é evidente que Jesus não podia carecer dessa sensibilidade.

Os Santos Evangelhos oferecem-nos muitos episódios para verificarmos essa virtude em Cristo. É suficiente lembrarmo-nos da cordialidade do Senhor com as crianças, ou com os chamados “pecadores” — gente espiritualmente rude e ignorante — para deduzirmos que Ele era dotado de enorme simpatia, o que é inseparável da graça humana, do riso espontâneo e oportuno, da resposta ágil que alivia o ambiente e salva da vergonha quem se enganou ou cometeu alguma impertinência.

Realmente, poderíamos explicar a atração que exercia sobre as crianças por uma atitude sempre grave e circunspecta? Ou imaginar a euforia de Zaqueu, surpreendido em cima de uma árvore, simplesmente por uma ordem imperiosa e taciturna do Mestre?

Lembram-se do episódio? Zaqueu, o cobrador de impostos (odioso indivíduo!), o ricaço espertalhão que sobe numa árvore para ver Cristo passar… Aquele homenzinho atarracado, mas cheio de vitalidade, também quer conhecer o Profeta de quem todos falam. E, como não está habituado a olhar a meios para conseguir o que quer, sobe ao sicômoro, e dali o vê perfeitamente. E, de repente, Jesus olhou para cima, para ele! Com essa é que Zaqueu não contava! Toda a gente deve ter começado a rir ao ver aquela cena de um homem tão importante agarrando-se numa árvore… Que emoção estranha deve ter sentido ao ouvir o seu nome pensando em como Ele o sabia: Zaqueu, desce daí depressa porque hoje tenho de ficar em tua casa! Do ridículo ao triunfo, num instante! Ele já está de braços com Jesus, a mostrar-lhe o caminho, a pular de alegria, como uma criança. A sua vida mudou. Haverá maior riqueza do que a amizade de Jesus?

E aquilo foi um lançar a casa pela janela fora: “Senhor! Vou dar metade dos meus bens aos pobres! E, se defraudei alguém em qualquer coisa, dou-lhe quatro vezes mais! (Lc 19, 2-18).

Assim era — e é — Jesus. A simpatia em pessoa. Só os tolos resistiam ao seu chamamento. A gente simples, não. Segue-me, diz ao pescador; e o pescador já não quer saber de redes, de pescas, nem de casa… Segue-me, diz a um cobrador de impostos, e Mateus larga bolsas, contas, moedas, tabelas, e dá um jantar de despedida aos amigos!

E as parábolas? Basta ouvi-las para comprovar a alma sorridente de Jesus. Com que graça descreve as inúmeras miudezas da vida corrente! (…)

Veja-se ainda a graça de tantos diálogos evangélicos, como o da samaritana. À agressividade desta mulher, que se recusa a dar-lhe de beber porque os samaritanos são velhos inimigos dos judeus, Jesus não responde com dureza; diverte-se com a situação — uma pobre criatura negando água ao Criador! —, e desperta-lhe a curiosidade feminina: “Se tu soubesses […] quem te diz «dá-me de beber»!…” O que dá lugar a uma animada conversa, cada vez mais cordial.

Até aos fariseus o Senhor replica muitas vezes com adivinhas desconcertantes, ou então — assim aconteceu alguma vez — responde a uma pergunta com outra, lançando um desafio. Eles perguntam com que autoridade Jesus pregava. E Jesus replica: —  Eu também vou fazer-vos uma pergunta, e, se responderdes a ela, dir-vos-ei (Mt 21, 24). É um jogo cheio de sabedoria e que levaria aqueles homens à verdade, se fossem retos, mas, de qualquer modo, é um jogo.

Nenhum episódio supera ao dos discípulos de Emaús depois da ressurreição. O Senhor se aproxima deles, como um estranho; a sua “curiosidade” ao perguntar a razão de tanta tristeza; a reação escandalizada de ambos — “Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que aconteceu nestes dias?” — e a “ingênua” resposta de Jesus dando uma de “João sem braço”: — “O que foi?”. Ainda por cima, Jesus faz menção de prosseguir o seu caminho, obrigando-os a inventar motivos para o reterem em casa…

Não restam dúvidas: não só podemos deduzir a existência de bom humor em Cristo, como podemos vê-lo claramente em muitas passagens da sua vida terrena.

Lição: não é verdade que ao vermos esta leveza, esta graça com que Jesus via a vida, somos animados também a termos graça e leveza? É assim que tenho vivido? Jesus não vê só os nossos problemas, mas todos os problemas do mundo e vive alegre e bem-humorado. É assim que temos que viver!

CARIDADE (26): BOM HUMOR (7)

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