ALEGRIA: QUAL É A SUA BASE, SEU FUNDAMENTO?

EVANGELHO – Jo 6, 22-29

Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos.
Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”
Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
O Evangelho de hoje narra este episódio que ocorreu logo depois da multiplicação dos pães e dos peixes. Jesus, sem que a multidão percebesse, foi logo cedo para o outro lado do lago de Genesaré. A multidão quando se dá conta, sedenta de Jesus, vai à sua procura. Todos nós temos sede de Jesus, temos sede de felicidade. Gostaria de nas próximas homilias falar sobre a alegria, já que é um tema bem próprio da Páscoa, a alegria da Páscoa, e é ao mesmo tempo um bem que não é tão simples de se alcançar. A pergunta que podemos fazer é esta: sou uma pessoa alegre? A minha alegria é permanente? Como ser mais alegre? O normal é termos uma alegria superficial que depende de que as coisas corram bem. Vamos refletir sobre a alegria para aprofundarmos no seu significado e assim descobrirmos os caminhos para alcançá-lo. Mais uma vez vamos nos servir das palavras de Dom Rafael Llano Cifuentes no livro “A alegria de viver”. Ele começa o seu livro dizendo assim:

* * *

O CARÁTER PECULIAR DA ALEGRIA

Todos nós desejaríamos possuir a alegria. Todos nós gostaríamos de torná-la parte integrante do nosso ser, de senti-la sempre lá bem dentro de nós, no fundo da nossa alma… e poder cantar de alegria, rir de alegria, chorar de alegria…, amar de alegria!
Mas, como conseguir algo tão grande? De onde provém a alegria? Como é possível que comece tão efusivamente e se vá embora tão depressa? Como fazer para nunca perdê-la?
É difícil responder a essas perguntas porque a alegria tem uma natureza muito peculiar. Quando se quer adquirir uma coisa comum, sabe-se como consegui-lo. A alegria, não. Se perguntarmos a alguém como ganhar dinheiro, responder-nos-á: “Trabalhe”; se o interrogarmos sobre como aprender matemática, dir-nos-á: “Estude”; sobre como encontrar emprego, aconselhará: “Procure-o!” Mas se alguém nos questiona sobre como ser uma pessoa alegre, ficamos perplexos, não sabemos como responder. Ninguém aceita pacificamente que lhe digamos: “Esforce-se, cante, ria, tenha bom humor…”
Por quê? Porque a alegria é algo diferente, tem uma natureza singular. Já Aristóteles e São Tomás descobriram o seu caráter peculiar: a alegria, mais do que uma simples virtude, é o fruto, o resultado de uma vivência.
Nós diríamos que é como que a manifestação sensível de uma situação interior, ou, melhor, o sintoma mais preciso de um íntimo ajustamento pessoal. Se a dor é o sinal — o censor — de um estado patológico, a alegria é o indicador de um estado de plenitude vital.
Assim o expressa Bergson: “A natureza avisa-nos por um sinal preciso que o nosso destino está atingido. Esse sinal é a alegria […]. Onde há alegria, há realização”.
Se quiséssemos encontrar uma imagem plástica que pudesse representar esta ideia, diríamos que a alegria é como um radar que se põe em movimento quando percebemos — por uma íntima convicção — que nos estamos dirigindo para o centro gravitacional da nossa existência, que é a felicidade. Não é necessário que estejamos na posse real dessa felicidade. Basta que tenhamos a expectativa real de estar no caminho que a ela nos conduz, como belamente o expressa o Salmo: Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor (SI 122, 1)… Basta ter consciência de estarmos enveredando pelo roteiro que nos leva à felicidade.
É por isso que ter ou não ter alegria representa como que um diagnóstico definitivo da personalidade humana. É como um “teste de qualidade” que mede o valor da nossa vida.

* * *

Como diz Dom Rafael, a verdadeira alegria tem uma base: estarmos na rota que leva à felicidade, isto é, estarmos na rota que leva ao Céu. Sem esta base, é impossível que alguém possua a alegria de modo permanente. Perguntemo-nos, portanto: para onde estou indo? Será que sou um barco à deriva à caça de bagatelas? Estou indo para o Céu? Pensemos nisso!

ALEGRIA: QUAL É A SUA BASE, SEU FUNDAMENTO?

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