ALEGRIA: NO SACRIFÍCIO (I)

EVANGELHO – Jo 16, 16-20

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Pouco tempo ainda, e já não me vereis. E outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”. Alguns dos seus discípulos disseram então entre si: “O que significa o que ele nos está dizendo: “Pouco tempo, e não me vereis, e outra vez pouco tempo, e me vereis de novo”, e: “Eu vou para junto do Pai”?” Diziam, pois: “O que significa este pouco tempo? Não entendemos o que ele quer dizer”. Jesus compreendeu que eles queriam interrogá-lo; então disse-lhes: “Estais discutindo entre vós porque eu disse: “Pouco tempo e já não me vereis, e outra vez pouco tempo e me vereis”? Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
De antemão já pensava, dando continuidade à nossa reflexão sobre a alegria, em falar nesta homilia sobre a alegria e o sacrifício. Já falamos uns dias atrás da alegria na dor e nas contrariedades. Agora vamos falar mais especificamente da alegria no sacrifício. O sacrifício é uma das principais fontes da perda da alegria nas pessoas. Justamente por isso é importantíssimo falar deste tema. E hoje no Evangelho, Jesus ainda na Última Ceia, despedindo-se dos Apóstolos profetiza que dentro de pouco tempo não me vereis e outra vez dentro de pouco tempo, me vereis de novo. E termina dizendo: “Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se transformará em alegria”. Jesus fala justamente deste mistério cristão do choro que se transforma em alegria. Vamos falar disso citando o Padre Francisco Faus.

* * *

Paradoxos da alegria

São Josemaria Escrivá costumava dizer que «a alegria tem as raízes em forma de cruz» (Forja, n. 28); e na primeira página do seu calendário litúrgico, anotava muitas vezes, como lema do ano, estas palavras: «com alegria, nenhum dia sem cruz».

Parece um paradoxo difícil de entender, pois a cruz está associada aos dois “esses” que quase todos veem como os grandes inimigos da alegria: o sofrimento e o sacrifício.

Também são paradoxais as declarações de amor à Cruz, que a Igreja faz na liturgia da Semana Santa: «Salve, ó Cruz, única esperança!» (hino das Vésperas da Semana Santa). E na Sexta-feira da Paixão canta: «Adoramos, Senhor, vosso madeiro… Por essa cruz, que hoje veneramos, veio a alegria para o mundo inteiro».

Por que, por essa cruz, veio a alegria para o mundo inteiro? Porque por ela, Cristo, por amor, nos obteve a salvação. Por isso, a cruz sempre é vista pelos cristãos como salvação e, por isso, com alegria. O sacrifício, a dor, é salvadora, traz inúmeros bens para quem a padece e pode ser oferecida para a salvação ou obtenção de bens físicos e espirituais para os demais, oferecendo-a para a cura de um parente que está com uma doença grave, oferecendo-a para a conversão de um parente que está afastado de Deus, oferecendo-a para aliviar a dor das almas do purgatório etc.

Desta forma, não vemos os cristãos verdadeiros, diante do sofrimento, revoltados, raivosos, desanimados, resignados. Nós os vemos serenos e alegres: sofrem com paz, sem dramatismo.

Um exemplo: no dia 26 de março de 1996, um comando terrorista islâmico invadiu o mosteiro trapista de Nossa Senhora do Atlas, na Argélia, e levou presos o abade e mais seis monges. Em 21 de maio foram decapitados.

Poucos anos antes, o abade, padre Christian de Chergé, havia escrito um testamento espiritual, onde dizia as seguintes palavras:

«Se algum dia me acontecer ser vítima do terrorismo, eu quereria que a minha comunidade, a minha Igreja, a minha família, se lembrassem de que a minha vida estava entregue a Deus e a este país. Peço-lhes que rezem por mim. Como posso ser digno dessa oferenda? Eu desejaria, ao chegar esse momento da morte, ter um instante de lucidez tal, que me permitisse pedir o perdão de Deus e o dos meus irmãos os homens, e eu perdoar, ao mesmo tempo, de todo o coração, aos que me tiverem ferido. Se Deus o permitir, espero poder mergulhar o meu olhar no olhar do Pai, e contemplar assim, juntamente com Ele, os seus filhos do Islã tal como Ele os vê; que os possa ver iluminados pela glória de Cristo, fruto da sua Paixão, inundados pelo dom do Espírito… Por essa minha vida perdida, totalmente minha e totalmente deles, dou graças a Deus”.

Vemos neste testemunho a alegria do padre Christian de se oferecer pela Argélia, como Cristo se ofereceu por nós, para a nossa salvação. Diz até que não se sente digno de ser uma vítima para ser oferecida em sacrifício. É assim que um cristão transforma o sacrifício em alegria, na alegria dar a vida como Cristo para a nossa salvação.

Outro exemplo: Em setembro de 2002, faleceu em Roma o cardeal vietnamita François Xavier Nguyên Van Thuân. Preso durante treze anos pelos comunistas, despojado de tudo, reduzido humanamente à miséria, dizia a si mesmo: «François, você é ainda muito rico. Você tem o amor de Cristo no teu coração».

Em 2007, na encíclica sobre a esperança, Bento XVI falava dele: «Sobre os seus treze anos de prisão, nove dos quais em isolamento, o inesquecível cardeal Nguyên Van Thuân deixou-nos um livro precioso: O caminho da esperança. Durante treze anos de prisão, numa situação de desespero aparentemente total, conversar e ouvir a Deus, tornou-se para ele uma força crescente de esperança que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens de todo o mundo uma testemunha da esperança, daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites de solidão» (Enc. Spe salvi, n. 32). Van Thuân oferecendo-se ao seu povo vietnamita e a todos nós, como Cristo na cruz, não só não saiu revoltado, deprimido, depois destes terríveis anos de prisão com todo o tipo de torturas, como saiu mais fortalecido e cheio de esperança a ponto de ser uma luz para todos nós.

Lição: se olharmos a cruz como instrumento de salvação, como foi para Cristo, ela se converterá realmente em alegria. Pensemos e meditemos nisso!

ALEGRIA: NO SACRIFÍCIO (I)

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