ALEGRIA: NA DOR (II)

EVANGELHO – Jo 13, 16-20

Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus lhes disse: “Em verdade, em verdade vos digo: o servo não está acima do seu senhor e o mensageiro não é maior que aquele que o enviou. Se sabeis isto, e o puserdes em prática, sereis felizes. Eu não falo de vós todos. Eu conheço aqueles que escolhi, mas é preciso que se realize o que está na Escritura: “Aquele que come o meu pão levantou contra mim o calcanhar”. Desde agora vos digo isto, antes de acontecer, a fim de que, quando acontecer, creiais que eu sou. Em verdade, em verdade vos digo, quem recebe aquele que eu enviar, me recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
O Evangelho de hoje narra um pequeno momento da Última Ceia de Jesus, depois que Jesus lavou os pés dos Apóstolos. Nesta hora, Nosso Senhor se volta para os Apóstolos e lhes diz que se eles puserem em prática o que Ele acabou de fazer, isto é, esquecer-se de si para servir, para pensar nos outros, serão felizes. Continuemos, então, a falar da alegria na dor, citando Dom Rafael que dirá umas palavras muito bonitas.

* * *

Contava-me o capelão do Hospital do Câncer de São Paulo, Padre Humberto, uma história comovente. Ficou internado ali um garotinho de uns sete anos, Marcelo, com um câncer incurável e dolorosíssimo. E ele só sabia dizer a todos: — “Por que eu, por que eu… Que mal fiz eu para sofrer tanto?” Todos ficavam impressionados, extremamente sentidos, mas nada sabiam responder-lhe, até que um dia o Padre Humberto foi visitá-lo. Sentou-se à beira da sua cama e começou a conversar com ele…
– Marcelo, você sofre muito?
– Muito, padre, muito… Por que eu? Por que eu?…
O Padre Humberto disse-lhe:
– Marcelo, olhe para o crucifixo: por que Ele, por que Ele?… Que mal fez Ele para sofrer tanto?
O menino ficou calado, perplexo, chocado… E perguntou mansamente, quase chorando:
– Por quê, Padre Humberto, por quê?
– Porque padeceu na cruz pelos nossos pecados; porque, fazendo-se homem, quis satisfazer pelos delitos cometidos pelos homens. Deus, Pai, desejava essa satisfação. Você não gostaria de unir-se à Cruz de Jesus, ser tão bom como Ele e sofrer para redimir com Ele todos os homens?
– Sim, claro, mas como posso fazer isso?
– Olhe, você sabe que a Olívia, aquela moça nissei, que está tão grave, vai morrer, mas não quer confessar-se. Por que você não oferece as suas dores para que ela se confesse?
– Sim, vou oferecê-las, sim. Mas escreva num papel o nome dela para eu não o esquecer…
A partir desse momento, a atitude de Marcelo mudou completamente. O protesto converteu-se em paz e sorriso. A enfermeira estava impressionada.
Marcelo entrou em agonia e perdeu os sentidos. A enfermeira observou que tinha o punho direito sempre fechado e que pronunciava uma frase que ela não conseguia entender. Quando faleceu, abriu-lhe a mãozinha e dela tirou um papel amarrotado onde estava escrito: “Olívia”. Foi então que entendeu as palavras que Marcelo murmurava: — “Por Olívia…, por Olívia…” Mas o mais admirável foi que, exatamente à hora em que Marcelo falecia, Olívia, espontaneamente, sem nada saber do fato, dizia ao Padre Humberto que queria confessar-se.
Os dois, Marcelo e Olívia, encontrar-se-iam lá em cima para rejubilar-se mutuamente ao entenderem, em toda a sua profundidade, que a dor unida ao sacrifício de Jesus desabrocha numa eterna alegria.
A dor leva-nos à decepção e à tristeza quando não sabemos encontrar o seu sentido sobrenatural. Quando, porém, sabemos que, através dela, nos estamos santificando e santificando os outros — que estamos sendo corredentores —, essa dor adquire tal valor aos nossos olhos que acabamos por sentir-nos felizes sacrificando-nos para que a vontade de Deus se realize. A dor, entendemos, vai ao encontro do Amor.
Pensando nisto, poderíamos perguntar-nos: Procuramos encontrar sentido em nossas dores? Pedimos luzes para entrever o significado que Deus quer dar a todos os acontecimentos desagradáveis? Pedimos ao Senhor que nos ajude a fazer um ato de esperança dizendo: Omnia in bonum! — tudo será para meu bem? (cfr. Rom 8, 28). Sabemos olhar com frequência o crucifixo para oferecer os contratempos com espírito reparador? Pedimos ao Senhor a paciência necessária para carregar a cruz de cada dia com alegria cristã?
E então vamos adquirindo esse estado superior em que dos espinhos nascem rosas, em que do grão que morre brota a espiga fecunda, em que do Calvário emerge o exultante júbilo da Ressurreição, e da contrariedade o sorriso.

Lição: vamos guardar estas palavras de Dom Rafael: a dor leva-nos à decepção e à tristeza quando não sabemos encontrar o seu sentido sobrenatural. Procuremos, portanto, ver sempre o sentido sobrenatural de tudo o que ocorre na nossa vida e seremos muito mais felizes.

ALEGRIA: NA DOR (II)

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