VIRTUDES HUMANAS (22): PACIÊNCIA (12)

EVANGELHO – Lc 16, 1-8

Naquele tempo: Jesus disse aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: “Que é isto que ouço a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens”. O administrador então começou a refletir: “O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração”. Então ele chamou cada um dos que estavam devendo ao seu patrão. E perguntou ao primeiro: “Quanto deves ao meu patrão?” Ele respondeu: “Cem barris de óleo!” O administrador disse: “Pega a tua conta, senta-te, depressa, e escreve cinquenta!” Depois ele perguntou a outro: “E tu, quanto deves?” Ele respondeu: “Cem medidas de trigo”. O administrador disse: “Pega tua conta e escreve oitenta”. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque ele agiu com esperteza. Com efeito, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus, no Evangelho de hoje, faz uma censura aos filhos da luz, ou seja, aos seus filhos, que muitas vezes são menos expertos do que os filhos das trevas. De fato, grande parte do mal que vai se espalhando pelo mundo é decorrência da omissão dos filhos da luz que não tomam iniciativa para espalhar o bem ao redor do mundo ou para impedir que o mal se alastre.

Façamos o propósito no dia de hoje de pensarmos o que podemos fazer para espalhar a nossa fé ao nosso redor. Uma iniciativa é enviar esta homilia ou outras semelhantes para as pessoas. Outra iniciativa é falar para os outros do bem que a nossa fé tem feito a nós. Outra é fazer uma super propaganda de algum livro espiritual que lemos e nos fez muito bem. Outra é juntar pais que não são a favor da ideologia de gênero e ir à diretoria da escola ou enviar um abaixo assinado mostrando não concordar com esta ideologia. Pensemos com carinho no que estamos fazendo para espalhar a nossa fé e para estancar o mal que se alastra velozmente.

Continuando a nossa série sobre as virtudes, e mais concretamente sobre a virtude da paciência, na última vez falamos sobre as demoras de Deus. Hoje, falando ainda da ação divina com os seus filhos, os homens, vamos falar sobre os milagres de Deus que não vemos. Vejamos.

* * *

O MILAGRE QUE NÃO ESTAMOS VENDO

O “milagre que não estamos vendo” consiste no que São Paulo via com lúcida fé e expressava com esplêndida convicção: Nós sabemos que Deus faz concorrer todas as coisas para o bem daqueles que o amam (Rom 8, 28). Se tivermos amor a Deus, tudo, absolutamente tudo – o que chamamos sorte e o que chamamos infortúnio, o que é um sucesso no mundo e o que é um fracasso, a satisfação e o sofrimento, a saúde e a doença, a vida e a morte –, tudo acabará sendo conduzido por Deus, com a sua soberana e misteriosa “alquimia”, para algo que resultará num bem para nós.

São Josemaria Escrivá costumava dizer que a nossa vida é uma preciosa tapeçaria, que Deus vai tecendo conosco – com a nossa liberdade – aos poucos, fio a fio. Habitualmente, nós só a vemos pelo avesso, enquanto é tecida na oficina do dia-a-dia. Por isso, tudo nos parece com frequência uma confusão de fiapos soltos e de figuras bizarras. Vez por outra, porém, Deus deixa-nos olhar por uns instantes a tapeçaria pela frente, e então ficamos pasmados ao dar-nos conta da sua harmonia e do seu esplendor. A nossa vida, quando já foi um pouco longa e procuramos não nos afastarmos de Deus, oferece-nos de quando em quando alguns desses lampejos de lucidez: entendemos que foi bom o que antes repudiávamos como mau, e captamos o porquê de certas coisas que, na altura, nos pareciam absurdas e sem sentido.

Alguns santos tiveram o privilégio de contemplar, felizes, a tapeçaria de uma vida inteira na sua harmonia total. Tal foi o caso de Santa Teresa de Ávila que, após concluir a sua autobiografia, escrita por obediência aos superiores, remeteu o manuscrito a Frei Garcia de Toledo, com uma carta na qual, a todas as tribulações, fadigas, dores e contrariedades relatadas, chamava belamente “as grandes misericórdias com que Deus me cumulou” [NOTA DE RODAPÉ: Livro da Vida, 3ª. ed., Vozes, Petrópolis, 1961, pág. 360.].

Também São Josemaría Escrivá, três meses antes de deixar esta terra, ponderava na sua oração as vicissitudes – muitas delas duríssimas – da sua longa vida, e dizia: “Um olhar para trás… Um panorama imenso: tantas dores, tantas alegrias. E agora tudo alegrias, tudo alegrias… Porque temos a experiência de que a dor é o martelar do Artista, que quer fazer, dessa massa informe que nós somos, um crucifixo, um Cristo… Senhor, obrigado por tudo, muito obrigado!” [NOTA DE RODAPÉ: S. Bernal, obra citada, pág. 416.]

É bem verdade que um clarão de Deus pode mostrar-nos, às vezes, a tapeçaria inteira. Mas o normal é que, na penumbra desta terra, Deus nos peça fé. Ele não deixará de nos dar a graça necessária para aceitarmos com paciência e confiança as suas “demoras” e os seus aparentes “silêncios”. A nós toca-nos dizer, amorosamente, com o salmista: Mantenho em calma e sossego a minha alma. Tal como a criança no regaço de sua mãe, assim está a minha alma no Senhor. […] Põe a tua esperança no Senhor, agora e para sempre (Sl 131, 2-3).

Lição: se nós que somos tão pouca coisa, já fazemos de tudo pelos filhos, como Deus, que é todo Amor, poderia se esquecer dos seus filhos? Uma vez que estamos fazendo a nossa parte, sejamos sempre serenamente pacientes, confiando que Deus está atuando e fazendo concorrer todas as coisas para o bem.

VIRTUDES HUMANAS (22): PACIÊNCIA (12)

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