EVANGELHO – Jo 2, 13-25
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. No templo encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio”! Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele. Jesus estava em Jerusalém durante a festa da Páscoa. Vendo os sinais que realizava, muitos creram no seu nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois conhecia a todos; e não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: para o comentário do Evangelho de hoje, gostaria de citar a belíssima homilia de D. Henrique Soares da Costa. Vejamos:
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Comecemos pela primeira leitura a nossa reflexão da Palavra de Deus para este Domingo. O que nos apresenta o Livro do Êxodo? As Dez Palavras, os Mandamentos da Torah.
A palavra “mandamento” tem, hoje, um significado antipático. Não gostamos de mandamentos, de normas, de preceitos. No entanto, para um judeu – e também para um cristão -, os preceitos, os mandamentos do Senhor, são uma bênção, um sinal do carinho paterno de Deus, que se volta para nós e nos abre o seu coração, falando-nos do caminho que nos leva para o Céu e para a felicidade.
Foi com esse sentido que o Senhor nosso Deus deu a Lei, revelou os preceitos a Israel. A Lei não deveria ser vista como um feixe pesado e opressor de proibições, mas como setas que apontam para o caminho da salvação e nos fazem descansar no coração de Deus.
O próprio termo hebraico torah, que traduzimos por Lei, significa, na verdade, instrução. Na Lei, na Instrução, Deus nos fala da salvação porque deseja conviver eternamente com o seu povo. Sendo assim, os preceitos são uma bênção!
Viver na Palavra de Deus, mergulhar nos seus preceitos é viver o que Deus tanto deseja para nós: sermos livres, maduros, felizes. Por isso o Salmista, hoje, canta: “A lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma! O testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes. Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz. Suas palavras são mais doces que o mel, que o mel que sai dos favos!”
E, no entanto, Israel violou a Lei de Deus, fechou-se para os preceitos do Senhor… E por quê? Porque passou a contentar-se com um legalismo vazio e frio.
A imagem dessa situação a vemos no Evangelho de hoje: o Templo, lugar do encontro de Deus com o seu povo, foi transformado numa espelunca, numa casa de comércio, um lugar de prostituição do coração (…) Por isso Jesus age de modo tão violento: Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. Disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isso daqui! Não façais da Casa de meu Pai uma casa de comércio!’”
O que significa este gesto de Jesus? É um gesto que vale por uma pregação. Jesus está revelando a santa ira de Deus contra o seu povo… Hoje em dia, com uma mania tonta de sermos politicamente corretos (coisa que nunca assentará num cristão), ficamos escandalizados com um Deus que se inflama de ira, com um Jesus que deveria ser mansinho, bonzinho, aguadozinho, insossinho, e aparece, no entanto, no Evangelho de hoje, firme, forte, radical… e cheio de ira! Esse é o Jesus de verdade: surpreendente, desconcertante!
Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco caso dEle! Correremos o risco de sermos rejeitados por Ele! Em outras palavras: quer que vivamos os seus mandamentos.
Mas, os judeus, ao invés de compreenderem isso, com cinismo criticam Jesus e pedem-lhe um sinal: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Vede bem, caríssimos: quando a infidelidade é grande, quando o nosso coração habituou-se no mal, corremos o risco de sermos tomados de tal cegueira, de tal dureza de coração, que já não vemos nem com a Luz que veio ao mundo!
Jesus é a luz que brilha claramente. Sua atitude dura, recorda aos judeus o amor de Deus que foi traído, a Lei que foi deturpada, e eles ainda pedem por sinais… Jesus dá um sinal, terrível, decisivo: “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei”. Eis o sinal, surpreendente, escandaloso que Jesus nos dá diante da infidelidade do seu povo: Ele mesmo, Ele que morrerá na cruz mostrando que o não cumprimento das suas leis, dos seus ensinamentos, dos seus mandamentos acarreta. Mas como Ele é Deus, no terceiro dia o Templo será novamente reconstruído.
São Paulo, na segunda leitura de hoje, fala de que Cristo pregamos ao mundo para que se dê conta do seu mau caminho: “Os judeus pedem sinais, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos”.
Caríssimos, olhemos para nós, o Novo Povo de Deus, o Povo nascido da morte e ressurreição de Cristo. Não somos mais obrigados a cumprir os detalhados preceitos da Lei de Moisés mas, somos convidados a olhar o Crucificado, cujo corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e eterna Aliança… olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o meu filho amado! Não terás outros deuses diante de mim!” Compreendeis, irmãos? Os preceitos do Antigo Testamento passaram; não, porém, a exigência de um coração todo de Deus, um coração que o ame, um coração sem divisão! E, para nós, a exigência é ainda maior, porque Israel não tinha ainda visto até onde iria o amor de Deus; quanto a nós, sabemos: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Caríssimos em Cristo, convertamo-nos! Ergamos os olhos para o Crucificado, “Poder de Deus e Sabedoria de Deus”, e mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo de real conversão ao Senhor nosso! Crer de verdade exige que saibamos com profundidade quais são os mandamentos do Senhor! Estejamos atentos à advertência final e tremenda do Evangelho de hoje: “Vendo os sinais que Jesus realizava, muitos creram no seu nome”. Ah, Senhor Jesus! Tem piedade de nós! Converte-nos a ti e dá-nos a tua salvação! Na tua misericórdia infinita, conduze-nos às alegrias da Páscoa!