EVANGELHO – Lc 7, 24-30
Depois que os mensageiros de João partiram, Jesus começou a falar sobre João às multidões: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Ora, os que se vestem com roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. Então, o que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e alguém que é mais do que um profeta. É de João que está escrito: “Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o meu caminho diante de ti”. Eu vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele. Todo o povo ouviu e até mesmo os cobradores de impostos reconheceram a justiça de Deus, e receberam o batismo de João. Mas os fariseus e os mestres da Lei, rejeitando o batismo de João, tornaram inútil para si mesmos o projeto de Deus.
– Palavra da Salvação.
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Em grande parte do livro do profeta Isaías, lemos o quanto é doloroso para Deus a infidelidade de seu povo. No entanto, chega um momento em que Deus decide consolar Jerusalém, perdoar todos os seus pecados e selar uma aliança eterna. Lembramos isso hoje, na primeira leitura da missa. A linguagem do profeta é quase maternal: “Por um breve instante eu te abandonei, mas com imensa compaixão volto a acolher-te”; “ocultei de ti minha face, mas com misericórdia eterna compadeci-me de ti”; “minha misericórdia não se apartará de ti” (Is 54,1-10). Diante das nossas infidelidades, Deus responde com misericórdia. “Sua ira dura apenas um momento, mas sua bondade permanece a vida inteira” (Sl 29,6). Seu amor é mais forte do que nosso pecado.
No Advento, a liturgia nos lembra repetidamente o desejo divino de estar conosco. O Senhor deseja que não evitemos a sua companhia e nos deixemos amar. “Deus, diz o Papa Francisco numa homilia, está perto de nós, é fiel e faz grandes obras de salvação em quem espera n’Ele. Deus ama com um amor sem limites, que nem mesmo o pecado pode frear, e faz com que o coração do ser humano se encha de alegria e consolação” [Francisco, Audiência, 16/03/2016]. Por outro lado, a história humana está tristemente cheia de infidelidades. Porém, Deus tem infinita paciência e não se cansa de nos educar como os pais fazem com seus filhos. Seu coração está sempre inclinado ao perdão. Deus mantém a sua aliança apesar de todos os pesares. Como diz São Paulo, “Se formos infiéis… ele continua fiel, e não pode desdizer-se” (2Tim,13).
“Este mistério da fidelidade de Deus, diz o Papa Bento XVI, constitui a nossa esperança” [Bento XVI, Homilia na Epifania do Senhor, 6/01/2008]. É a maior garantia para a nossa lealdade, pois, diz o Salmo 144, o Senhor “é fiel em suas palavras, e santo em tudo o que faz” (Sal 144,13). “Perguntas-me, diz São Josemaria, qual é o fundamento da nossa fidelidade. – Eu te diria a traços largos que se baseia no amor de Deus, que faz vencer todos os obstáculos: o egoísmo, a soberba, o cansaço, a impaciência…” [São Josemaria, Forja, n. 532].
Nessas semanas de Advento, João Batista está muito presente na liturgia da Palavra. Ouvimos os momentos mais importantes da sua missão única de preparar o caminho para Jesus. João é o último dos profetas e o primeiro a morrer por Cristo. No Evangelho de hoje, Jesus fala do seu primo à multidão: “O que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Ora, os que se vestem com roupas preciosas e vivem no luxo estão nos palácios dos reis. Mas, enfim, que fostes ver? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e alguém que é mais do que um profeta” (Lc 7,24-26).
Entre as características da personalidade de João, e que são um modelo para nós, destaca-se a fidelidade. O Precursor não hesita em apontar para o Messias, não tem medo de perder os seus discípulos ou de ficar sozinho porque conhece e se identifica com a sua missão. “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,29) “mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias” (Lc 3,16), diz. São expressões de um coração humilde, consciente de que está de passagem, como cada um de nós. Ele sabe que a sua felicidade está em colocar Deus em primeiro plano, por isso não se sente imprescindível.
São João Batista não é um “caniço agitado pelo vento”, de natureza instável, complacente para ficar bem com todos. É um mensageiro de Deus que vive para a sua missão, embora isso o obrigue a fazer certos sacrifícios pessoais. A lealdade a Deus e à verdade o leva até mesmo a derramar o seu sangue. Por isso, São João Paulo II poderia afirmar que “Vemos resplandecer esta radical fidelidade a Cristo no martírio de São João Batista” [São João Paulo II, Angelus, 29/08/1999].
Nossa vida está composta de tantos momentos que não brilham externamente, porque na maioria das vezes estão escondidos, mas neles podem transparecer uma grande fidelidade. São Josemaria, citando o exemplo do Bem-aventurado Álvaro, que foi seu secretário, dizia: “Gostaria que o imitassem em muitas coisas, mas sobretudo na fidelidade. Nesta quantidade de anos da sua vocação, apresentaram-se lhe muitas ocasiões – humanamente falando – de se zangar, de se aborrecer, de ser desleal; e manteve sempre um sorriso e uma fidelidade incomparáveis. Por razões sobrenaturais, não por virtude humana. Seria muito bom se o imitassem nisso” [São Josemaria, Anotações em uma reunião familiar, 19/02/1974].
Disse o Papa Bento XVI numa ocasião estas palavras tão verdadeiras: “A fidelidade no tempo é sinônimo do amor; de um amor coerente, verdadeiro e profundo” [Bento XVI, Discurso 12/05/2010]. Ao longo da vida, o amor autêntico se renova muitas vezes ao dia. Assim, ele cresce continuamente, e está sempre vivo. A fidelidade não é inércia ou simplesmente deixar o tempo passar. Ser fiéis significa dizer sim a Deus, e a quem assumimos um compromisso para sempre, diariamente.
Lição: Olhando para o exemplo de São João Batista, renovemos hoje o nosso sim a Deus e ao nosso cônjuge, caso estejamos casados, e assim estaremos preparando melhor o nosso coração para receber o Menino-Jesus.