CARIDADE (29): SABER CEDER

EVANGELHO – Jo 6, 30-35

Naquele tempo, a multidão perguntou a Jesus: “Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obras fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: “Pão do céu deu-lhes a comer””. Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. Então pediram: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
continuamos com o capítulo 6 de São João, o capítulo da promessa da Eucaristia. Uma vez que Jesus disse, “esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”, os doutores da Lei, no Evangelho de hoje, querendo saber qual é este alimento que permanece até a vida eterna, perguntam a Jesus: “Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obras fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto”. Os doutores da Lei lembram do maná que foi este alimento que Deus deu ao povo judeu naqueles 40 anos de travessia do deserto, quando saíram do Egito e estavam se dirigindo à terra prometida. Este deserto, que está na península do Sinai, não tinha água e nem vegetação. Se eles comessem os animais que possuíam, em poucos dias já não existiriam mais. Deus, então, intervém, e, diariamente, começa a cair do céu o maná. Porém este alimento é como qualquer outro. Não lhes preservava da morte. No entanto, Jesus está agora falando de um alimento que quem comer, não morrerá. Então o povo pede a Jesus este alimento. E, Jesus diz: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”.

Vejam só o que Jesus está dizendo: que Ele é este pão. Ou seja, Deus está nos dando agora um novo alimento, um alimento muito, muito, especial que é o próprio Jesus. E quem o comer não terá mais fome e nunca mais terá sede. Amanhã continuamos meditando no capítulo 6 de São João e na promessa da Eucaristia.

Continuando a nossa série do ano passado sobre a caridade, a última virtude que vimos relacionada com a caridade foi o bom-humor. Hoje vamos ver a virtude de saber ceder na opinião e nos gostos em prol da caridade.

A virtude de ceder em opiniões e gostos pessoais em prol da caridade é um aspecto fundamental da vida cristã, pois reflete o amor ao próximo que Jesus nos ensinou e viveu. Essa atitude de ceder nas opiniões e nos gostos não significa fraqueza ou falta de convicção, mas uma escolha consciente de colocar a caridade, o bem comum e a harmonia acima de preferências individuais.

A caridade, segundo São Paulo, é “paciente, benigna, não inveja, não se ostenta, não se incha, não busca seus interesses” (1 Coríntios 13:4-5). Ceder em questões secundárias é um ato de humildade e amor, que evita divisões e promove a unidade. Como escreveu São Francisco de Sales: “Nada é tão forte quanto a doçura e nada é tão doce quanto a força verdadeira”.

Exemplo concreto: Imaginem uma família decidindo o destino das férias. Um membro prefere a praia, outro a montanha. Ceder nesse caso não é apenas um acordo, mas um gesto de amor que se alegra com as alegrias dos outros. Outro exemplo é evitar discussões acaloradas em reuniões sociais, de família, optando por ouvir com respeito em vez de impor opiniões.

Alguns santos que nos deram exemplo desta virtude:
– São Paulo: Adaptava-se às circunstâncias para evangelizar, dizendo: “Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar alguns” (1 Coríntios 9:22).
– Santa Teresa de Calcutá: Renunciava a preferências pessoais para servir os pobres, como quando comia a mesma comida simples que oferecia, mesmo que não fosse de seu agrado.
– São Francisco de Sales: Conhecido por sua paciência e delicadeza, mesmo com quem o criticava, dizendo: “Ganhamos mais com uma colher de mel do que com um barril de vinagre”.

3. São Josemaria Escrivá e a caridade nas pequenas coisas
São Josemaria, fundador do Opus Dei, destacava a santificação na vida cotidiana e a importância da caridade nos detalhes. Ele ensinava que ceder em gostos e opiniões é uma forma de “evangelização através da compreensão”:

Exemplo prático: Em “Caminho” (n. 463), escreve: “Não te importa ser o último? — Se és de Cristo, de todo o Cristo, que te importa ser o último?”. Isso inclui abrir mão de protagonismos ou preferências, para servir.

São Josemaria também encorajava a evitar “manias” ou exigências pessoais que perturbassem os outros. Por exemplo, aceitar um restaurante que não é o favorito sem reclamar, ou adaptar horários para facilitar a vida dos outros. Insistia que a caridade exige respeitar as opiniões alheias, mesmo quando discordamos: “Não imponhas teus gostos; não exijas — como um direito — que os outros se adaptem a ti” (Sulco, n. 438).

Quando ceder e quando não ceder?

É fundamental discernir entre o que é essencial e o que é secundário. Em questões de fé e moral, os santos foram intransigentes (como São João Batista ao denunciar o concubinato do rei Herodes). Porém, em assuntos opináveis (gostos, costumes, estilos de vida), a caridade deve prevalecer. São Josemaria lembrava: “A verdadeira humildade leva a ceder nas coisas pequenas, mas nunca nas grandes” (Cristo que Passa, n. 74).

Assim, ceder por caridade é um caminho de santidade que imita Cristo, que “esvaziou-se a si mesmo” (Filipenses 2:7). Como dizia São Josemaria, “A santidade consiste em viver de amor — por Deus e pelos homens — nas pequenas coisas do dia a dia”. Essa virtude transforma conflitos em oportunidades de amor, construindo pontes onde o egoísmo ergueria muros.

CARIDADE (29): SABER CEDER

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