EVANGELHO – Jo 16, 23b-28
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis; para que a vossa alegria seja completa.
Disse-vos estas coisas em linguagem figurativa. Vem a hora em que não vos falarei mais em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que vou pedir ao Pai por vós, pois o próprio Pai vos ama, porque vós me amastes e acreditastes que eu vim da parte de Deus.
Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Que bonitas são estas palavras de Cristo no Evangelho de hoje: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis; para que a vossa alegria seja completa”.
Como é bonito que Cristo queira para nós a alegria completa, a alegria plena, total. E Cristo nos disse que chegaremos à alegria completa, total, amando à Ele e ao próximo, e que ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos outros, ou seja, aquele que se sacrifica pelos outros. Esta ideia nos ajuda a continuar nossa reflexão sobre a alegria onde o Padre Francisco Faus nos falará da alegria de amarmos, da alegria de sacrificar-nos pelos outros.
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Um amor chamado sacrifício
Vamos completar aqui o capítulo anterior, meditando um pouco sobre um ingrediente essencial do amor que dá e que se dá: o sacrifício (…)
O modelo neste ponto, como em todas as outras coisas, é Cristo. Lembramos da parábola do Bom Pastor, que é um autorretrato do Senhor? Ele faz alusão à sua próxima morte na Cruz e diz: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas… Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade” (Jo 10, 11 e 18).
Cristo veio para isto: para levar o amor [de Deus] até ao extremo (Jo 13, 1), para servir e dar a vida para a redenção de muitos (Mt 20, 28).
Todas as formas de sacrifício são positivas? Não. O sacrifício pode ser bom ou mau. Tudo depende do por quê e para quê nos sacrificamos.
Podemos sacrificar-nos por mera necessidade (sacrifício inevitável, suportado, para manter um emprego), ou por ambição (de dinheiro, de prestígio, de cargos), ou ainda por vaidade (beleza física, procura do aplauso), e até mesmo por prazer (um esporte exigente).
Nenhum desses é aquele sacrifício de que Jesus fala quando diz: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser guardar a sua vida, a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim, a encontrará” (Mt 16, 24-25).
O ideal que Jesus nos propõe é o da abnegação amorosa, do sacrifício abraçado para «ir atrás do Amor» (Caminho n. 790).
Abnegação alegre
Vamos ver o que diz o dicionário sobre a “abnegação”: «A abnegação é um ato caracterizado pelo desprendimento e altruísmo, feito em benefício de uma pessoa, superando as tendências egoístas».
Provavelmente nos recordamos de que Jesus comparava a abnegação à “morte” do grão de trigo: Se não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto. Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não se importa com sua vida nesta terra, conquistará a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me (Jo 12, 24-26).
Há pessoas neste mundo que nunca souberam sacrificar-se para o bem dos outros (deram apenas algumas ajudazinhas, como quem joga moedas de centavo entre pobres de rua); e, quando chegaram ao fim da vida, por doença ou por velhice, olharam para trás e sentiram e tristeza do seu vazio: “Agora já é tarde, não dá mais” . Teria sido tão bom semear sacrifícios com abnegação para colher espigas de alegria e amor! Nos que vivem dominados pelo egoísmo, cumpre-se o ditado italiano que é citado nos Fioretti de São Francisco: «Chi non dà quello che li duole, non riceve quello que vuole – quem não dá o que lhe dói, não recebe o que quer».
Será que ainda não nos convencemos de que o egoísmo (proteger tanto o “eu, eu, eu!”) enforca a alegria? E o pior é que achamos que ser egoísta é uma esperta sensatez, muito útil para viver bem no mundo de hoje.
O problema é que nos falta – muito ou pouco − aquela loucura de dar a vida que nos fala Cristo.
E maio de 1974, São Josemaria Escrivá estava em São Paulo. Numa reunião com estudantes, um rapaz bem jovem lhe perguntou por que, como e quando, em tempos idos, o tinham chamado de “louco”. O santo respondeu:
− Você nunca viu um louco?
− Não, Padre.
− Não? Nunca viu ninguém que esteja louco?… Então, olhe para mim. Faz muitos anos diziam de mim: Está louco! Tinham razão. Eu nunca disse que não estivesse louco. Estou louquinho perdido de amor a Deus! E desejo a você a mesma doença…
São Paulo, falando da cruz, diz estas palavras: “Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus”.
Os egoístas são calculistas e julgam-se “sensatos” e “sabidos”. Poupam-se. Evitam os sacrifícios que julgam ser exageros, “loucuras”. Porém, com a calculadora ligada, nunca conseguirão experimentar a força de Deus, a sabedoria de Deus, a verdadeira sabedoria e o verdadeiro amor.
Lição: como é verdade que quem ama verdadeiramente experimenta uma grande alegria. Que saibamos combater o egoísmo, a fuga do sacrifício, se queremos ser felizes.