EVANGELHO – Lc 19, 45-48
Naquele tempo: Jesus entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores.
E disse: “Está escrito: “Minha casa será casa de oração”. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões”. Jesus ensinava todos os dias no Templo. Os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os notáveis do povo procuravam modo de matá-lo.
Mas não sabiam o que fazer, porque o povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: nesta cena do Evangelho de hoje onde Jesus entra no Templo e passa a expulsar os vendedores faz-nos pensar em nós quando não fazemos da nossa alma um lugar de oração, de encontro com Deus. Faz lembrar o episódio de Marta e Maria, onde Marta fica correndo para lá e para cá feito barata tonta. Para que ao longo do dia tenhamos presença de Deus, consigamos estar perto de Deus, temos que trabalhar, mas com calma e serenidade. A agitação esfria o nosso coração. Saibamos trabalhar com calma, fazendo uma coisa de cada vez. Só assim conseguiremos estar unidos a Deus durante o nosso dia.
Dando continuidade à nossa série sobre as virtudes, na semana passada terminamos de falar sobre a virtude da paciência. Hoje começaremos uma breve série sobre a virtude da mansidão. Nosso apoio será o livro do Padre Francisco Faus, A conquista das virtudes.
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A MANSIDÃO
Uma paixão que precisa de rédeas
Uma virtude que faz parte da temperança é a mansidão. Tem por objeto “moderar” a paixão da ira. Todos conhecemos por experiência a força tremenda da ira (a nossa e a dos outros), e por isso entendemos bem a necessidade de uma virtude que a modere, que a governe.
Como no capítulo anterior, é preciso frisar que “moderar” não significa suprimir nem eliminar. Quer dizer, então, que a ira pode ser boa? Sim, pode. É o que veremos daqui a pouco.
Mas, para começo de conversa, lembremos a doutrina sobre as paixões (sentimentos, emoções) que, como a ira, têm o lado espiritual e o lado somático (perturbação nervosa, taquicardia, sobe a pressão, etc).
«Em si mesmas – lembra o Catecismo – as paixões não são boas nem más. Só recebem qualificação moral na medida em que dependem efetivamente da razão e da vontade» (n. 1767). Isto é, se são emoções conduzidas retamente pela razão e a vontade, são boas. Pelo contrário, se ofuscam a inteligência e encampam à vontade, são más.
No mesmo Catecismo lemos que «as emoções e sentimentos podem ser assumidos em virtudes ou pervertidos em vícios» (n. 1774), dependendo de que – como acabamos de dizer – a razão e a vontade (fortalecidas pela fé e o amor) lhes segurem ou não as rédeas.
Existem iras com razão?
Sim. Às vezes nos indignamos com toda a razão perante um ato cruel, uma injustiça, uma mentira deslavada, uma ofensa a Deus ou à sua Igreja, uma série de crimes impunes…
Essa indignação é boa. A indiferença diante desses males seria uma indecorosa falta de solidariedade com os injustiçados e de senso moral. Ouçamos dois grandes santos, citados por Santo Tomás:
— Um deles é São Gregório Magno, que diz: «A razão enfrenta o mal com grande combatividade, e a ira (a indignação) contribui para isso», e comenta Santo Tomás: «A capacidade de irar-se (de indignar-se) é a verdadeira força de resistência da alma» (Suma Teológica, 1,81,2).
— Cita também São João Crisóstomo: «Quem não se indigna, quando há motivo, peca». A falta de indignação ante o mal «semeia vícios, alimenta a negligência e facilita que não só os maus, como também os bons, pratiquem o mal» (Ibidem, 2-2, 158,8).
Não podemos nem devemos ficar frios ou resignados perante as ideias daninhas, os abusos e as mentiras, cada vez mais frequentes, como se fizessem parte da paisagem. Devemos reagir, tentar combatê-las com armas limpas e pacíficas, com elevação intelectual e moral, em privado ou através da mídia.
Mas, cuidado! Mesmo a ira boa pode se tornar má
Quando? Quando não é apenas ira contra o mal, mas ódio contra a pessoa que fez ou propagou o mal. A falta de caridade estraga tudo. Ira justa, movida por ódio, represália ou espírito de vingança, corrompe-se e deixa de ser um bem. Com fórmula breve, Santo Agostinho dava a receita certa: «Detestar o erro, mas amar o que erra».
As nossas iras cotidianas
As iras cotidianas nós as conhecemos bem. “Explodi”, “Não aguentei”, “Esse vai me ouvir”, “Espera que eu te apanhe”… Expressões quase sempre adicionadas de palavrões e injúrias. Essa nunca pode ser “ira boa”. Precisa ser firmemente “moderada”.
Santo Tomás, de acordo com Aristóteles, menciona três tipos de ira ruim (Suma Teológica, 2-2, 158,5):
— A ira aguda. É a da pessoa que se irrita logo por qualquer motivo leve.
— A ira amarga. É a da pessoa que guarda a ira por muito tempo, e não a tira da memória. Chama-a ira encerrada nas vísceras (“inter viscera clausa”).
— A ira difícil ou vingativa. A dos que não param até darem o troco, se possível em dobro.
São Tomás não teoriza. Conhece o ser humano. E em alguma dessas classificações provavelmente nós nos reconhecemos.
Lição: sejamos sinceros e procuremos reconhecer se não somos pessoas mansas. Na próxima reflexão veremos como lutar contra a ira. Para já podemos pedir a Deus que nos dê esta virtude através desta jaculatória: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso”.