VIRTUDES HUMANAS (21): PACIÊNCIA (11)

EVANGELHO – Lc 11, 15-26

Naquele tempo, Jesus estava expulsando um demônio: Mas alguns disseram: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. Quando o espírito mau sai de um homem, fica vagando em lugares desertos, à procura de repouso; não o encontrando, ele diz: “Vou voltar para minha casa de onde saí”. Quando ele chega, encontra a casa varrida e arrumada. Então ele vai, e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele. E, entrando, instalam-se aí. No fim, esse homem fica em condição pior do que antes”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus diz no Evangelho de hoje: “todo reino dividido contra si mesmo será destruído”. Nós sabemos que a palavra reino pode significar várias realidades. Por exemplo: um país, uma família, uma empresa, uma pessoa. Qualquer realidade que encontra uma divisão dentro de si mesma, se não se coloca um remédio para esta divisão, será destruída. De modo concreto, podemos pensar na família. Uma família dividida contra si mesma, será destruída. Neste sentido, posso dizer que há unidade na minha família onde se incluem os parentes? Se há divisão, esta divisão ocorreu por minha causa? O que eu tenho feito para a unidade da minha família? Que hoje seja um dia para pensarmos nestas palavras de Jesus e que cada um de nós se esforço para ser uma pessoa que cria pontes e não muros, como dizia o Papa Francisco.

Continuando a nossa série sobre as virtudes, e mais concretamente sobre a virtude da paciência, na última vez falamos de uma qualidade da paciência que é a fidelidade. Hoje vamos falar sobre as demoras de Deus para entender melhor o modo de agir de Deus e assim sermos mais pacientes. Vejamos.

* * *

AS DEMORAS DE DEUS

No mundo em que vivemos, bêbado de acelerações, ultrassônico nas mudanças e doente de impaciências, a bela arte do amor paciente é muito necessária. A virtude da paciência é uma terapia de que o mundo atual precisa muito.

Mas, num ambiente em que o egoísmo pensa que “para mim tudo tem que ser antes e ao meu gosto” e o comodismo exige “tudo rápido, para já e com o menor trabalho possível”, a impaciência grassa largamente e faz a festa. E é natural que se mostre, a toda a hora, em forma de cansaço insofrido, unido a uma revolta irritada. Não é estranho que, nesse clima, as impaciências acabem cedo ou tarde por arremessar-se contra Deus.

Tal é o caso, não infrequente, dos que chegam a duvidar da bondade de Deus e sentem abalar-se-lhes a fé quando julgam que “Deus não os escuta”, pois – segundo pensam – não atende aos seus pedidos nem os livra das suas aflições.

Alguns falam então do “silêncio de Deus”, insinuando – ou afirmando claramente – que Deus não se interessa pelas suas criaturas, mas permanece na olímpica solidão dos céus, alheio às tribulações e anseios dos homens. Um bom número de casos de agnosticismo, ou de ateísmo inconsistente (será que há algum ateísmo que não seja inconsistente?), ou de ceticismo mais ou menos cínico, tomaram pé em alguma decepção. Esperava-se algo de Deus, e não aconteceu. Por essa razão, Fulano deixou de ir à Missa depois da morte do filho, pelo qual tanto tinha rezado; Sicrano perdeu a fé após a quinta tentativa frustrada de entrar na faculdade; e Beltrana bandeou-se para o esoterismo ao perder o último namorado.

Os “silêncios” e as “demoras” de Deus põem à prova a nossa paciência. Mas são precisamente essas dificuldades desconcertantes as que nos fazem compreender que uma boa paciência jamais poderá ser erguida sobre uma fé ruim.

Uma das primeiras verdades – inesgotável e luminosa verdade! – que Cristo nos revelou foi a da paternidade de Deus: O vosso Pai vê, o vosso Pai sabe, o vosso Pai cuida (cf. Mt 6, 25 e segs.). Não se vendem dois passarinhos por uma moedinha? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do vosso Pai. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois! Valeis mais do que muitos pássaros (Mt 10, 20-31).

Deus é um Pai que sempre nos acompanha. E esse Pai está amorosamente ativo, talvez mais do que nunca, quando parece que se cala e não intervém. “Quando nada acontece – diz, com certeira intuição, Guimarães Rosa –, há um milagre que não estamos vendo”.

Quem vive realmente de fé, caminha sereno e confiante na “mão” de Deus que, como víamos acima, muitas vezes não coincide com a nossa. Ele, que é Bom Pastor de cada um de nós, sabe, e sabe-o muito bem, por onde nos leva e nos traz. Ainda que atravesse as sombras da morte, nada temerei, porque Tu estás comigo (Sl 23, 4). Ele nos dá, ou permite que nos aconteça, aquilo que – embora não o entendamos – mais nos convém, sempre com vistas à nossa verdadeira realização, que é a que floresce e se completa na vida eterna: Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma (Mt 10, 28). Não temas, meu pequeno rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 12, 32).

Quem vive de fé, entende muito bem, por isso, o belo conselho do Eclesiástico: Sofre as demoras de Deus. Dedica-te a Deus, espera com paciência […]. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho da tribulação (Ecli 2, 3-5).

Lição: na próxima semana vamos falar mais sobre as demoras de Deus, mas pelo que vimos, um pilar da nossa fé é que Deus é nosso Pai. Se esta verdade está bem vincada em nossa alma, vamos confiar que se algo está demorando, é porque Ele, que é nosso Pai, sabe o que é melhor para nós e, portanto, saberemos esperar pacientemente o tempo de Deus. Minha fé em que Deus é meu Pai é forte? Para fortalecer a nossa fé, bastam as palavras de Jesus quando nos ensinou a rezar. E como esta oração começa? Pai-Nosso que estás no Céu. O que mais precisamos para acreditar que Deus é realmente nosso Pai e cuida amorosamente de nós? Pensemos nisso!

VIRTUDES HUMANAS (21): PACIÊNCIA (11)

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