VIRTUDES HUMANAS (18): PACIÊNCIA (8)

EVANGELHO – Mt 12, 1-8

Naquele tempo, Jesus passou no meio de uma plantação num dia de sábado.
Seus discípulos tinham fome e começaram a apanhar espigas para comer.
Vendo isso, os fariseus disseram-lhe: “Olha, os teus discípulos estão fazendo, o que não é permitido fazer em dia de sábado!” Jesus respondeu-lhes: “Nunca lestes o que fez Davi, quando ele e seus companheiros sentiram fome? Como entrou na casa de Deus e todos comeram os pães da oferenda que nem a ele nem aos seus companheiros era permitido comer, mas unicamente aos sacerdotes? Ou nunca lestes na Lei, que em dia de sábado, no Templo os sacerdotes violam o sábado sem contrair culpa alguma? Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior do que o Templo. Se tivésseis compreendido o que significa: “Quero a misericórdia e não o sacrifício”, não teríeis condenado os inocentes. De fato, o Filho do Homem é senhor do sábado”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus no Evangelho de hoje nos ensina que há alguns preceitos que não são absolutos, isto é, que admitem o seu descumprimento. O preceito do descanso, por exemplo, que está incluído no terceiro mandamento, diz que se houver motivos sérios, podemos trabalhar no domingo. Outro exemplo: o sétimo mandamento prescreve que não devemos furtar. Porém, o roubo famélico, isto é, roubar alimentos quando se está passando uma fome extrema, é permitido. Saibamos dedicar tempo para conhecer com profundidade os ensinamentos da Igreja sobre os mandamentos.

Dando continuidade à nossa série sobre as virtudes e, concretamente, sobre a paciência, na semana passada citamos o exemplo de São Josemaria, focando apenas um episódio da sua vida, os anos que esteve com diabetes e como levou esta doença.

A nossa segunda história, conta o Padre Francisco, focaliza uma moça, nascida em Barcelona no dia 10 de julho de 1941, que havia recebido no batismo esse nome, Montserrat, em honra da Padroeira da sua terra. Familiarmente, os pais, irmãos e amigos a chamávamos Montse, e digo “chamávamos”, porque me unia, e ainda me une, à distância de um oceano, uma agradável amizade com seus pais, Manuel e Manolita Grases.

Montse foi também filha de São Josemaría Escrivá, pois pediu a admissão no Opus Dei, entregando a sua vida inteira a Deus, na véspera do Natal de 1957, no dia 24 de dezembro. Pouco depois, uma leve e persistente dor na perna esquerda deu o primeiro sinal do que viria a diagnosticar-se como um câncer incurável, sarcoma de Ewing, que – após meses de intensas dores – veio a causar a morte daquela menina de 17 anos, no dia 26 de março de 1959, Quinta-feira Santa.

Diga-se, já de começo, que Montse, a segunda de uma família de nove irmãos – profundamente católica e unidíssima –, foi sempre uma moça pura, bonita, simpática, esportiva, divertida, religiosa sem beatice e absolutamente normal. E como faz parte da normalidade ter, ao lado de belas virtudes, alguns defeitos, Montse também os tinha – não nasceu com auréola de santa –, e é muito importante ter isso presente ao ler o que vem a seguir.

Montse, que era prestativa e sacrificada, de coração sensível, generoso e bom, era também voluntariosa e geniosa. Ai de quem a contradissesse ou pretendesse fazer-lhe uma desfeita! Sem grosserias nem violências – que não eram do seu feitio –, reagia desde muito menina como pessoa que não leva desaforo para o seu cantinho nem tem um braço fácil de torcer. Por outras palavras, em uma porção de coisas, era impaciente. Sabendo disso, as pinceladas que se dão a seguir ganham um sentido maior.

Quando se leem os depoimentos e testemunhos dos que estiveram mais perto dela desde o início das dores (dezembro de 1957) até a morte (março de 1959), observa-se um denominador comum. Todos eles salientam que, naqueles quinze meses, houve, não uma mudança instantânea – lampejo de um dia –, mas um processo assombroso, contínuo, crescente, de amadurecimento no amor e nas virtudes, que transformou profundamente Montserrat. Um crescimento interior tão espantoso, que todos os que a conheceram encararam como algo natural que se iniciasse o seu Processo de Beatificação e Canonização em dezembro de 1962.

Dessa vida de oração, dessa luta denodada por procurar uma união cada dia maior com Deus, vinham-lhe as forças para abraçar a Vontade divina – a doença, a dor e a morte – e para, não digo aceitar, mas amar de todo o coração a Cruz que Cristo lhe oferecia, para estar junto dEle no sofrimento salvador. Daí a alegria. Que bem entendeu, vivendo-as, as palavras mil vezes repetidas por São Josemaría Escrivá: A alegria do cristão tem as suas raízes em forma de Cruz! Com palavras do Fundador, que meditava sobretudo no livro Caminho, Montse repetia: “Jesus, o que tu quiseres, eu o amo!”

Daí vinham a serenidade, a paz profunda e o constante sorriso que deixavam desnorteadas as pessoas. Uma enfermeira que cuidou dela, dizia: – «Como é simpática, alegre e carinhosa esta menina! Mas nunca fico sabendo se a perna lhe dói ou não”.

Anos depois da sua morte, Enrique, o irmão mais velho, que se ordenou sacerdote, comentava: “A sua Cruz foi muito dolorosa. Às vezes comentam-me, quando a recordam tão alegre e tão feliz, que ela sentia até gosto no meio da dor… Não, isso não é verdade. Falar assim poderia soar a masoquismo, porque aquilo não era uma dor convertida em gosto; era uma dor convertida em amor, e em luta para poder continuar a ser fiel a si mesma, a nós e a Deus, mas continuava a ser uma dor que a dilacerava, que a desfazia. Sofreu – eu o vi – tremendamente: mas era uma luta de quem ama, no meio da dor, para encontrar Cristo Crucificado. Em meio a essa dor, junto de Cristo, nunca esteve só. Se Deus está ao meu lado – pensou – e me pede isto, será porque é possível; e se Ele o quer, Ele me ajudará… Montse, graças à dor, deu-nos o melhor de si mesma”.

Lição: que o exemplo de Montse nos sirva para fazer como ela: oferecer nossas dores para ajudar Jesus a salvar as almas e assim saber sofrer com alegria sem tornar-nos uma vítima.

VIRTUDES HUMANAS (18): PACIÊNCIA (8)

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