VIRTUDES HUMANAS (10): ORDEM (2)

EVANGELHO – Mc 4, 26-34

Naquele tempo: Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice,
porque o tempo da colheita chegou”. E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
no Evangelho de hoje Jesus utiliza várias imagens para nos dizer o que é o Reino de Deus. O que é que Jesus quer dizer quando utiliza esta expressão? Há dois significados: o Reino de Deus enquanto o seu reino que um dia, caso mereçamos, poderemos estar lá e enquanto realidade dentro do nosso coração.

Para merecer o Reino de Deus após a morte, precisamos construir o Reino de Deus dentro da nossa alma. Nestas parábolas Cristo está falando deste reino dentro da nossa alma que pode começar pequeno e se transformar numa árvore frondosa. Que este seja o nosso desejo: terminar a nossa vida com o Reino de Deus tendo atingido o grau máximo dentro de nós.

Continuando a nossa série sobre as virtudes, na semana passada começamos a falar sobre a virtude da ordem e, mais concretamente, da “ordem dos valores”. Faltou falar sobre a ordem dos deveres, a ordem do tempo e ordem material. É o que faremos brevemente agora.

B) Ordem dos deveres

Quando há ordem nos valores, enxerga-se bem a ordem dos deveres. Em princípio, os nossos deveres podem-se resumir nos seguintes:
1.− Deveres para com Deus.
2. − Deveres familiares
3. – Deveres profissionais
4. – Deveres sociais (de serviço e caridade para com o próximo, de responsabilidade cívica).

Como estão organizados e harmonizados estes deveres na nossa vida prática? Não é verdade que alguns deles estão hipertrofiados, e outros – talvez bem mais importantes – estão atrofiados (religião, educação dos filhos, serviço aos necessitados…)?

Procuremos revisar as nossas hipertrofias e as nossas atrofias. Podemos dizer que algumas pessoas parecem uma espécie de “monstro” de filme de desenho animado: uma mão enorme (excessiva dedicação profissional) e a outra diminuta (falta de tempo para o convívio de marido e mulher); uma perna ágil e veloz (para correr atrás do dinheiro, de um jogo do nosso time ou de uma balada), e outra perna raquítica (paralisada para a prática religiosa, para a formação cristã, para a solidariedade e o coleguismo…).

Vida em ordem é, portanto, uma existência em que estão bem hierarquizados os valores e, de acordo com eles, os deveres. Mas, para viver esse ideal, além da consciência do dever e das boas intenções, é preciso «escolher os meios adequados para realizá-lo» (Catecismo, n. 1806). É o que nos leva à ordem do tempo.

C) Ordem no tempo

A desordem no planejamento dos horários, o deixar-se arrastar pela inércia ou pela agitação no emprego do tempo, podemos dizer que agride os valores e transtorna os deveres.

Alguém já disse que o tempo é de borracha, no seguinte sentido: o mesmo tempo rende duas vezes nas mãos de uma pessoa organizada, que nas de uma pessoa confusa e desordenada nos seus horários.

Podemos meditar estes dois pontos do livro Caminho de São Josemaria:

«Se não tens um plano de vida, nunca terás ordem» (m. 76)
«Quando tiveres ordem, multiplicar-se-á o teu tempo» (n. 80)

Precisamos nos organizar. Precisamos ter um plano, uns horários bem pensados, onde cada dever encontre seu melhor momento e sua duração certa, de modo que se possam cumprir adequadamente todos eles. Uns exigirão mais tempo, outros menos, mas quanto menos tempo possamos dedicar, maior qualidade deveremos procurar.

A pessoa que “quer” de verdade consegue essa harmonia, porque, como diz um autor espiritual: “a ordem no aproveitamento do tempo depende mais da sinceridade do coração (“eu quero mesmo”), do que da capacidade técnica de organização. E, além disso, sempre precisamos ter fortaleza para vencer a preguiça e superar o cansaço”.

Nesta ordem do tempo, precisamos tomar cuidado com o que podemos chamar de “ordem defensiva”. O que é a “ordem defensiva”?

Algumas pessoas fazem da ordem uma armadura de defesa pessoal. São muito organizadas. Aproveitam bem o tempo. Mas o seu esquema é intocável. Fabricaram para si uma espécie de trilho de aço, por onde deslizam mecanicamente, e não toleram que nada nem ninguém interfira com os planos que traçaram, tão egoístas e tão cômodos. A ordem pode ser uma barricada defensiva para ter a vida mais tranquila: “não me interrompam, não me perturbem, não mexam comigo”, “não veem que estou ocupado?”.

A ordem deve ser, contrapondo à palavra “defensiva”, oblativa (a que se planeja para servir). A ordem oblativa é a distribuição e organização do tempo pensada para poder dar-nos mais e melhor ao que vale a pena, aos ideais e ao bem dos demais. As pessoas de ideias e coração grande procuram praticar essa ordem, porque querem fazer o melhor – especialmente quando oferecem seu trabalho a Deus − e dar-se sempre mais aos outros.

Por isso, quando fora da ordem prevista se apresenta a conveniência de fazer coisas de mais valor, por Deus ou pelo próximo, a alma generosa não hesita: sai do seu trilho e atende a esses apelos da caridade com alegria. Está convencido de que esses planos que Deus lhe apresenta inesperadamente, ainda que alterem os seus, são os melhores, e por isso não se queixa falando de interferências, sobrecargas ou perturbações, por mais que alterem a “sua” ordem.

D) Ordem material

Todas as vezes que dizemos: “onde é que eu pus esses documentos, onde é que deixei a minha pasta, onde ficou a passagem de avião, onde está o meu RG…?” estamos verificando que a desordem nas coisas materiais interfere, atrasa e, às vezes, atrapalha totalmente a organização bem-preparada dos nossos planos.

Vale a pena refletir também sobre isso, e lembrar-nos de que “esquecer” – fora os casos de memória alterada – costuma ser um reflexo da preguiça de pensar e da mania de deixar as coisas para a última hora: pagamentos atrasados, atualizações esquecidas, compromissos atropelados, prazos vencidos, viagens perdidas, etc.

Além disso, não esqueçamos que a ordem material está ligada à virtude da caridade, pois é evidente que poupa trabalho e desgostos aos que convivem conosco, aos que cuidam de nós e aos que colaboram no nosso trabalho profissional.

Lição: ficam aí algumas ideias para vocês refletirem sobre a virtude da ordem e procurarem crescer nela. Não deixem de ouvir a homilia de amanhã, pois eu comentarei o episódio da tempestade acalmada que nos ajuda muito, muito, a abandonar nas mãos de Deus todas as nossas preocupações.

VIRTUDES HUMANAS (10): ORDEM (2)

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