SALVAÇÃO (4): REALIDADE QUE MAIS IMPORTA (4)

EVANGELHO – Lc 10, 38-42

Naquele tempo: Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
o Evangelho de hoje lembra este episódio famoso das irmãs de Lázaro, Marta e Maria. Jesus e os apóstolos chegam de surpresa na casa de Marta e Marta fica toda preocupada em preparar coisas para eles. Maria, por outro lado, fica aos pés de Jesus e aproveita para curtir a sua presença, para estar com Ele. E Jesus diz que Maria, sem excluir a preocupação de Marta, fez a melhor escolha, pois uma só coisa é necessária.

Esta frase de Jesus tem que ser gravada à fundo no nosso coração: “uma só coisa é necessária”. E esta coisa necessária, nós sabemos qual é: amar a Deus, salvar-se. Vamos dar continuidade à nossa série sobre a salvação. Santo Afonso vai dizer agora que é muito importante pensar na salvação, pois nela está em jogo nada mais nada menos do que a eternidade. Vejamos.

* * *

Está em jogo: a eternidade no céu ou a eternidade no inferno

Feliz de ti se te salvas!… Quão formosa a glória!… Os palácios mais suntuosos dos reis são como choças em comparação à cidade celeste, a única que se pode chamar Cidade de perfeita formosura (Lm 2,15). Ali não faltará nada. Vivereis na gozosa companhia dos santos, da divina Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e sem recear nenhum mal. Vivereis, em suma, abismados num mar de alegrias, de contínua felicidade, que, durará sempre (Is 35,10). E esta alegria será tão grande e perfeita, que por toda a eternidade e em cada instante parecerá sempre nova.

Se, ao contrário, te condenares, desgraçado de ti! Sentir-te-ás submerso num mar de fogo e de tormentos, desesperado, abandonado de todos e privado de teu Deus… E por quanto tempo?… Acaso ao terem decorrido cem anos ou mil, tua pena estará cumprida? Oh, nunca acabará!… Passarão mil milhões de anos e de séculos e o inferno que sofreres estará começando!… O que são milhares de anos em comparação com a eternidade? Menos que um dia já passado… (Sl 89,4)

Se a árvore cair para a parte do meio-dia ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, ali ficará (Ecl 11,3). Para o lado em que cair, na hora da morte, a árvore de tua alma, ali ficará para sempre. Não há, pois, termo médio: ou reinar eternamente na glória, ou gemer como escravo no inferno. Ou sempre ser bem-aventurado, num mar de gozo inefável, ou ficar para sempre desesperado num abismo de tormentos.

Quando se derruba uma árvore, para que lado cai?… Cai para onde está inclinada… Para que lado te inclinas?… Que vida levas?… Procura inclinar-te sempre para Deus; conserva-te na sua graça, evite o pecado, e assim te salvarás e serás predestinado ao céu.

Um sacerdote, por um pensamento que teve certa vez da eternidade, não pôde conciliar o sono, e desde então se entregou à vida mais austera. Quem crê na eternidade — dizia outro sacerdote — e não vive como santo, deveria estar num hospício!

Refere um autor espiritual que um bispo, dominado pelo pensamento da eternidade, levava vida santíssima, repetindo sem cessar para si estas palavras: “a cada instante estou às portas da eternidade”.

“Irá o homem à casa de sua eternidade” (Ecl 12,5) disse o profeta. “Irá”, para significar que cada qual há de ir à morada que quiser. Não será levado, mas irá por sua própria e livre vontade. Deus quer certamente que nos salvemos todos; mas não quer salvar-nos à força.

Agora Santo Afonso vai falar da insensatez de preocupar-nos com as realidades terrenas e não com as eternas

Pobres pecadores! Afadigam-se com empenho para adquirir a ciência humana e procurar os bens da vida presente, que tão cedo se acaba, e desprezam os bens dessa outra vida, que jamais terá fim! De tal modo perdem o juízo, que não somente se tornam insensatos, mas se reduzem à condição dos animais; porque, vivendo como irracionais, sem considerar o que é o bem e o mal, seguem unicamente o instinto das paixões sensuais, entregam-se ao que dá prazer à carne, sem pensar no que perdem, nem na ruína eterna que os ameaça. Isto não é portar-se como homem, senão como animal. “Chamamos homem, — diz São João Crisóstomo, — aquele que conserva a imagem essencial do ser humano”. Ser homem é, por conseguinte, ser racional, isto é, governar-se segundo a luz da razão e não segundo o apetite sensual.

“Que bom seria que eles tivessem sabedoria e compreendessem e previssem o que os espera como fim” (Dt 32,29). O homem que se guia razoavelmente em suas obras, prevê o futuro, isto é, considera o que lhe há de acontecer no fim da vida: a morte, o juízo, e depois dele o inferno ou a glória. “Vale mais um jovem pobre, mas sábio, do que um rei adulto e néscio, que não sabe prever o futuro” (Ecl 4,13). Ó Deus! Não teríamos por louco aquele que, para ganhar um real, se arriscasse a perder todos os bens? E não deve passar por louco aquele que, a troco de um breve prazer, perde a sua alma e se expõe ao perigo de perdê-la para sempre? Esta é a causa da condenação de muitíssimas almas: ocupam-se em demasia dos bens e dos males temporais, e não pensam nos eternos.

Deus não nos colocou neste mundo para alcançarmos riquezas, nem adquirirmos honras ou contentarmos os sentidos, senão para procurarmos a vida eterna (Rm 6,22). E a conquista desta finalidade deve ser o nosso único interesse. Uma só coisa é necessária (Lc 10,42).

Ora, os pecadores desprezam este fim. Só pensam no presente. Caminham até ao término da vida e se aproximam da eternidade, sem saberem para onde se dirigem. “Que diríeis de um capitão — diz Santo Agostinho — que mostrasse ignorar completamente o rumo que deve dar a seu navio? Todos diriam que leva a nau à sua perdição”. “Tais são — continua o santo — esses sábios do mundo, que sabem ganhar dinheiro, entregar-se aos prazeres, obter altos cargos, mas não pensam em salvar suas almas”.

Diante de ti se apresentam a vida e a morte, isto é, a voluntária privação nesta vida das coisas ilícitas para ganhar a vida eterna, ou o entregar-te a elas e à morte eterna… Que escolhes?…

Procede como homem e não como animal. Escolhe como cristão que tem fé, e dize: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?” (Mt 16,26).

Lição: só de imaginar que podemos ser condenados para sempre, para sempre, para sempre… é de arrepiar… Sejamos sábios amando a Deus sobre todas as coisas nesta vida e cumprindo seus mandamentos.

SALVAÇÃO (4): REALIDADE QUE MAIS IMPORTA (4)

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