EVANGELHO – Jo 12, 44-50
Naquele tempo, Jesus exclamou em alta voz: “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou. Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as observar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que eu falei o julgará no último dia. Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: ao preparar esta homilia reparei que Jesus não apenas disse “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou”, mas exclamou em alta voz. Jesus quer que a verdade que o Pai e Ele são um, fique clara para todos nós. Muitos podiam pensar que Jesus era um enviado do Pai, mas na condição de um anjo ou de um ser inferior ao Pai. E assim, não acreditariam que Jesus é o próprio Deus tendo, portanto, uma autoridade máxima nas suas palavras e nos seus ensinamentos. Saibamos ler o Evangelho com a consciência viva de que Jesus é o próprio Deus.
Como comentei no início, nesta série sobre a Providência divina, o objetivo é que eliminemos os temores da nossa vida, as tensões, as ansiedades e vivamos numa profunda paz confiando no cuidado amoroso de Deus por nós.
Gostaria de fazer um parêntesis agora para falar algo que é importantíssimo: Deus quer que nunca percamos a paz. Poderíamos dizer que a última coisa que Deus quer é que percamos a paz. Mas, por quê? Eu entendi esta verdade uns anos atrás lendo um livro fantástico de um religioso belga chamado Josep Schrijvers cujo título é “O dom de si”. Em determinado momento, ele diz assim: “Mesmo que tivéssemos o governo de um Império, esse cuidado não deveria fazer-nos perder a serenidade, o abandono, do coração, porque a nossa alma vale mais do que todos os reinos da terra. Jesus recusou a coroa que lhe ofereciam os judeus. Desprezou essa oferta sem valor, mas suplica-nos a nós que o façamos rei do nosso coração”.
O que este autor quis dizer com estas palavras? Quis dizer que há um reino que é importantíssimo para Deus que é reinar na nossa alma. E Deus só consegue reinar na nossa alma quando nós estamos em paz. De fato, quando não estamos em paz, não conseguimos ouvir a Deus, Deus não consegue manter um diálogo, um relacionamento amoroso conosco. Assim Deus não pode reinar em nós. Então, não podemos perder a paz em hipótese nenhuma. E estamos vendo, conhecendo melhor a Providência Divina, que não há nenhum motivo para perder a paz.
No entanto, esta confiança total na Providência Divina não é uma realidade no mundo de hoje. Por quê? Porque as pessoas hoje estão muito afastadas de Deus e, então, todo o peso da vida recai sobre elas. E, como a vida não é brincadeira, as pessoas acabam explodindo ou implodindo. Hoje as pessoas querem ou são induzidas a controlar tudo.
Diante disso, é muito importante saber diante dos problemas da vida, qual é a nossa parte e qual é a parte de Deus, já que confiar totalmente na Providência Divina não significa ficar de braços cruzados esperando a intervenção de Deus.
Eu costumo dizer que na solução dos problemas da nossa vida, 10% é responsabilidade nossa e 90% é de Deus. Muitas coisas não estão nas nossas mãos. Nem sequer sabemos se estaremos vivos amanhã. Não temos o controle do futuro, o controle total da nossa saúde, o controle da liberdade dos filhos, o controle do que o chefe pode fazer amanhã conosco, o controle do mercado financeiro, etc., etc.
As pessoas, então, me perguntam: então qual é a minha parte? Eu respondo: a sua parte é lançar mão de todos os meios para resolver os problemas, até antes do limite em que se começa a perder a paz. Esta é a nossa parte e não mais do que isto! Se começo a perder a paz é sinal de que estou querendo controlar algo que não me compete.
Como Deus sabe que não fazemos milagres, o que nos pede, costumo dizer, é fazer o arroz-feijão bem-feitinho. Uma vez que fizemos isso no dia, entreguemos o resto nas mãos de Deus, nas mãos da Providência Divina, e durmamos em plena paz. No dia seguinte começaremos novamente a fazer o arroz-feijão, o que é o razoável que façamos, o que Deus nos inspira.
Com relação ao próprio trabalho ou cumprimento dos deveres, Josep Schrijvers diz neste livro:
Muitas vezes Deus consente que a carga de trabalho ultrapasse as nossas forças e que, apesar de toda a nossa boa vontade, não consigamos terminar as nossas tarefas em tempo oportuno.
Pois bem, visto que as nossas ocupações são queridas por Deus, e não motivadas por simples impulsos humanos, ele quer que apliquemos todo o cuidado no desempenho de cada uma delas. Feito isto, o nosso dever estará cumprido, pois Deus não nos pede um esforço angustiado e trepidante, antes pelo contrário, no-lo proíbe. Deseja somente ver-nos agir na medida das nossas forças, generosamente, sacrificadamente, mas sem que nos aflijamos.
Deus quer ver-nos intensamente ocupados, não preocupados. Se houver obrigações que não possamos terminar no dia com seriedade e aplicação que o dever exige, permaneçamos em paz: a Vontade divina já foi cumprida neste dia. Fizemos o que nos competia e o Senhor está contente. Recomeçaremos no dia seguinte.
Nunca nos angustiemos, portanto; nunca nos deixemos inquietar pelas nossas ocupações, por mais urgentes e graves que sejam. Esmeremo-nos em conservar a serenidade, o abandono, em todo o nosso proceder. Que os nossos movimentos, o nosso andar, o nosso modo de falar sejam o reflexo de uma alma senhora de si. O nosso exterior reagirá de acordo com o nosso interior, e seremos sempre pessoas calmas e com domínio próprio.
Lição: tomemos consciência clara desta verdade: Deus não quer em hipótese nenhuma, nem nos momentos mais críticos da nossa vida como vimos na tempestade acalmada, que percamos a paz. Saibamos fazer cada dia a nossa parte e deixemos o resto nas mãos de Deus.