JESUS CRISTO (20): AMOR POR ELE (9)

EVANGELHO – Lc 12, 13-21

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo». Jesus respondeu-lhe: “Homem, quem me encarregou de julgar ou dividir vossos bens”. E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo o tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: “O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita”. Então resolveu: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe disse: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” Assim acontece com quem ajunta tesouros para sim mesmo, mas não é rico diante de Deus”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
é interessante que Jesus no Evangelho de hoje se esquive de resolver a questão entre dois irmãos da partilha da herança. Aproveita, apenas, esta ocasião para nos falar do perigo de colocarmos nossa felicidade nos bens terrenos. “A vida do homem não consiste na abundância de bens”. Seria o mesmo que dizer: a felicidade do homem não consiste na abundância de bens. Como Jesus disse em outra ocasião: não ajunteis para vós tesouros na terra, mas ajuntai para vós tesouros no Céu onde nem a traça e a ferrugem os destroem. Aproveitemos para pensar se nossa maior preocupação é ajuntar tesouros para levar ao Céu, isto é, se nossa principal preocupação é a busca pela santidade.

Continuando a nossa série sobre o amor a Jesus Cristo, dissemos na última vez que para amá-lo é muito importante saber que Jesus tem sentimentos. Jesus é, como sabemos, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e, quando veio à terra, passou a assumir a natureza humana. Sendo homem como nós, alegra-se, sente dor, sente fome, emociona-se, sorri, preocupa-se etc. Se Nosso Senhor tem sentimentos, então amá-lo torna-se muito mais fácil.

Hoje gostaria de comentar um sentimento especial de Jesus que são as suas dores e, de modo concreto, a dor que sente no seu coração pelos nossos pecados. O conhecimento destas dores nos aproximam muito de Nosso Senhor, aumentam enormemente o nosso amor por Ele vendo o tamanho deste sofrimento.

Para conhecermos estas dores, gosto muito do livro de Luisa Piccarreta, intitulado “24h da Paixão”. Esta serva de Deus teve a graça não só de ver toda a Paixão de Nosso Senhor, mas de ouvir os seus comentários do que se passava no seu coração desde a Última Ceia até a sua morte na Cruz.

Vejamos algumas palavras de Nosso Senhor:

Antes da Última Ceia:

“Ah, minha filha, quero salvar todas as almas e, prostrado aos seus pés, como pobre mendigo, peço-lhes, importuno-as e, chorando, maquino contra elas insídias de amor, para conquistá-las!

Na Última Ceia no Lava-pés:

Palavras ditas a Judas, o traidor: “Meu filho, rogo-te com as vozes das lágrimas, não vás para o Inferno! Eu te peço, prostrado aos teus pés: dá-Me a tua alma! Diz, o que queres? O que pretendes? Dar-te-ei tudo, contanto que não te percas. Poupa-Me esta dor, a Mim, que sou teu Deus!”

Na Última Ceia ao instituir a Eucaristia:

“Minha filha, nesta Hóstia trabalho desde manhã até à noite, formando correntes de amor; e quando as almas vêm a Mim, Eu acorrento-as ao Meu coração; mas tu sabes o que é que elas Me fazem? Muitas, esforçando-se, desprendem-se e despedaçam as Minhas correntes amorosas; e como estas correntes estão ligadas ao Meu Coração, Eu sou torturado e entro em delírio. Depois, elas ao quebrarem as Minhas correntes, desvirtuam o Meu trabalho, procurando as correntes das criaturas; e isto fazem-no mesmo na Minha presença, servindo-se de Mim para alcançar os seus fins. Isto entristece-Me muito, despertando em Mim uma “febre” violenta ao ponto de me fazer desfalecer e delirar”.

No Horto das Oliveiras:

E Ele, estremecendo ao som da minha voz, olha para mim e diz-me: “Filha, estás aqui? Estava à tua espera, a tristeza que mais Me oprimia era o abandono total de todos; estava à tua espera para observares as Minhas penas e beberes, juntamente comigo, o cálice das amarguras, que, em breve, o Pai Celeste Me enviará por meio do Anjo. Bebê-lo-emos juntos, porque não será cálice de conforto, mas de amarguras intensas e sinto a necessidade de que alguma alma amante beba dele ao menos algumas gotas. Por isso, chamei-te, para que tu o aceites e possa dividir comigo as Minhas penas e Me assegures que não Me deixarás sozinho no meio de tanto abandono!”

Ah, parece-me que o bendito Jesus abrindo os Seus lábios débeis e moribundos, me diz: “Minha filha, queres saber o que é que Me atormenta mais que os próprios algozes? Saibas que aquilo que eles me farão sofrer pouco a pouco é nada comparado com o que sofro continuamente. É o Amor Eterno que, querendo ter o primado em tudo, Me faz sofrer tudo de uma só vez e nas partes mais íntimas. Ah, minha filha, é o Amor que prevalece sobre Mim e em Mim: o Amor para Mim é cravo, flagelo, coroa de espinhos, o Amor é tudo para Mim; o Amor é a Minha Paixão perene, enquanto aquela que Me causarão os homens é passageira. Ah, minha filha, entra no Meu Coração, venha perder-te no meu Amor e só no meu Amor compreenderás quanto sofri e quanto te amei, e aprenderás a amar-Me e a sofrer só por meu amor”.

Depois, ó meu doce Bem, parece-me que Te ouço chamar a Tua querida Mãe, para que venha em teu auxílio: “Terna Mãe, estreita-Me nos Teus braços como Me abraçavas quando Eu era Criança! Dá-Me aquele leite com que Me amamentavas, para Me restabelecer e Me aliviar as amarguras da Minha agonia. Dá-Me o Teu Coração, que constituía toda a Minha alegria. Minha Mãe, Madalena, queridos Apóstolos, vós todos que Me amais, ajudai-Me, confortai-Me. Não Me deixeis sozinho nestes últimos momentos; fazei todos uma coroa ao meu redor; dai-Me conforto com a vossa companhia e com o vosso amor!”

Meu Jesus, enquanto bebes o cálice repleto de intensas amarguras que o Pai Celeste Te mandou, sinto que suspiras, gemes e deliras ainda mais e com voz sufocada dizes: “Ó almas, ó almas, vinde, aliviai-Me! Entrai na Minha Humanidade; quero-vos, desejo-vos! Não sejais surdas à Minha voz, não torneis vãos os Meus desejos ardentes, o Meu Sangue, o Meu Amor, as Minhas penas! Vinde, ó almas, vinde!”

A mim parece-me que Tu dizes: “Ó filha, quantas almas, com o seu esforço, Me escapam e caem na ruína eterna! Como é que se poderá acalmar a minha dor se Eu amo tanto apenas uma alma! Imagine a minha dor ao amar todas juntas?”.

Lição
: como são tocantes estas palavras de Nosso Senhor! É impossível ficar indiferente perante elas! Vivamos para consolar Jesus destas dores. Vivendo assim, este será um grande caminho para amá-lo profundamente, para termos uma profunda vida interior. A fé para nós não será o mero cumprimento de uns mandamentos, mas uma relação verdadeira de amor com Jesus que existe, está sempre ao meu lado, está em todos os Sacrários das igrejas e tem sentimentos muito concretos, de grande felicidade, de grande alegria pela nossa existência e pelos esforços que fazemos para amá-lo, mas também de profunda dor pelos nossos pecados, principalmente dos seus filhos que vivem como se Ele não existisse.

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