DOUTRINA (6): SANTÍSSIMA TRINDADE (2)

EVANGELHO – Lc 19, 11-28

Naquele tempo: Jesus acrescentou uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e eles pensavam que o Reino de Deus ia chegar logo. Então Jesus disse: “Um homem nobre partiu para um país distante, a fim de ser coroado rei e depois voltar.
Chamou então dez dos seus empregados, entregou cem moedas de prata a cada um, e disse: “Procurai negociar até que eu volte”. Seus concidadãos, porém, o odiavam, e enviaram uma embaixada atrás dele, dizendo: “Nós não queremos que esse homem reine sobre nós”. Mas o homem foi coroado rei e voltou. Mandou chamar os empregados, aos quais havia dado o dinheiro, a fim de saber quanto cada um havia lucrado.
O primeiro chegou e disse: “Senhor, as cem moedas renderam dez vezes mais”.
O homem disse: “Muito bem, servo bom. Como foste fiel em coisas pequenas, recebe o governo de dez cidades”. O segundo chegou e disse: “Senhor, as cem moedas renderam cinco vezes mais”. O homem disse também a este: “Recebe tu também o governo de cinco cidades”. Chegou o outro empregado e disse: “Senhor, aqui estão as tuas cem moedas que guardei num lenço, pois eu tinha medo de ti, porque és um homem severo. Recebes o que não deste e colhes o que não semeaste”.
O homem disse: “Servo mau, eu te julgo pela tua própria boca. Tu sabias que eu sou um homem severo, que recebo o que não dei e colho o que não semeei.
Então, porque tu não depositaste meu dinheiro no banco? Ao chegar, eu o retiraria com juros”. Depois disse aos que estavam aí presentes: “Tirai dele as cem moedas e dai-as àquele que tem mil”. Os presentes disseram: “Senhor, esse já tem mil moedas!”
Ele respondeu: “Eu vos digo: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda; mas àquele que nada tem, será tirado até mesmo o que tem. E quanto a esses inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e matai-os na minha frente””.
Jesus caminhava à frente dos discípulos, subindo para Jerusalém.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus estava perto de Jerusalém e isso fez muitas pessoas pensarem que estaria iminente a chegada do Reino de Deus, um reino – conforme essa falsa opinião – de caráter temporal. O Senhor, imaginavam, entraria triunfalmente na cidade depois de vencer o poder romano, e eles teriam um lugar privilegiado quando chegasse esse momento. Esses sonhos, tão afastados da realidade, eram uma prolongação da mentalidade existente em muitos círculos judeus da época. Para corrigir a fundo essa mentalidade, Jesus expôs a parábola que o Evangelho da Missa de hoje nos relata para nos dizer que seu Reino não é deste mundo e ele se conquista rendendo os talentos que Ele nos dá para fazermos o bem aqui na terra. Tenho rendido os meus talentos? Tenho ocultado algum debaixo da terra por preguiça? Pensemos nisso.

Dando continuidade à nossa série sobre a doutrina católica, vimos na semana passada a doutrina da Santíssima Trindade. Hoje vamos aprofundar um pouco mais nesta verdade, utilizando para isso um texto de uma grande santa da Igreja que Deus lhe deu um conhecimento mais profundo deste mistério. Ela vai dizer algo muito semelhante ao que diz Santo Agostinho, que o Filho é gerado pelo conhecimento que o Pai tem de si mesmo e o Espírito Santo procede do amor entre o Pai e o Filho. Quando ela se referir ao Filho, vai utilizar a palavra Verbo. São João também utiliza a palavra Verbo no início do seu Evangelho ao se referir ao Filho. A palavra Verbo é utilizada, pois quando alguém conhece algo, este conhecimento é expresso por uma palavra ou verbo. Então podemos dizer que o conhecimento que o Pai tem de si mesmo é o Verbo ou a palavra. É um texto denso, mas vale ouvi-lo e depois lê-lo com mais calma. Vejamos o que ela diz.

* * *

Deus, bem sumo e infinito, basta-se a si próprio: no seu próprio conhecimento e amor encontra toda a sua felicidade. Sendo o ser infinitamente perfeito, o conhecimento e o amor são nEle essencialmente fecundos e desta fecundidade brota o mistério da sua vida íntima, o mistério trinitário.

O Pai conhece-se perfeitamente a si mesmo desde toda a eternidade e, conhecendo-se, gera o Verbo, Ideia substancial em que o Pai se exprime e à qual comunica toda a sua essência, divindade e bondade infinitas. O Verbo é, deste modo, «o resplendor da glória e a figura da substância» do Pai (Hebr.1, 3); mas esplendor e imagem substanciais, porque têm em si a mesma natureza e as mesmas perfeições do Pai.

Desde toda a eternidade, o Pai e o Filho contemplam-se mutuamente e amam-se infinitamente em razão da perfeição infinita, indivisível, que ambos possuem: amando-se, são atraídos um para o outro e um ao outro se entregam comunicando toda a sua natureza e essência divinas a uma Terceira Pessoa, o Espírito Santo, que é o termo, o penhor e o dom substancial do amor mútuo entre o Pai e o Filho.

Assim, a mesma natureza e vida divinas circulam do Pai ao Filho, e do Filho e do Pai derramam-se no Espírito Santo. Deste modo, a Trindade apresenta-se-nos como o mistério da vida íntima de Deus, mistério que brota daquelas operações perfeitíssimas de conhecimento e amor com que Ele se conhece e ama a si mesmo.

O mistério trinitário, melhor que nenhum outro, mostra-nos que o nosso Deus é o Deus vivo, que a sua vida é essencialmente fecunda, tão fecunda que o Pai pode comunicar ao Filho toda a sua natureza e essência divinas e o Pai e o Filho podem comunicá-las ao Espírito Santo sem ficarem delas privados, mas possuindo-as todos três com a mesma perfeição infinita.

A Trindade, melhor que nenhum outro mistério, revela-nos a perfeição da bondade de Deus, isto é, diz-nos que Deus é bom, não só porque é o bem infinito, mas também porque comunica todo este seu bem: do Pai ao Filho, do Pai e do Filho ao Espírito Santo. Nas obras que Deus realiza fora de si derrama só parcialmente o seu bem, mas no seio da Trindade comunica-o íntegra e necessariamente, de tal forma que a sua vida íntima consiste nesta eterna, necessária e absoluta comunicação de todo o seu bem, de todo o seu Ser.

O mistério trinitário faz-nos assim compreender que em Deus há um oceano ilimitado e inesgotável de bondade, de amor, de fecundidade e de vida; compreensão preciosa porque, mais que qualquer outra, é capaz de nos dar o sentido da grandeza infinita de Deus.

Ó Deus incompreensível, eterna é a vossa grandeza, inefável a vossa bondade. Vejo, e deleito-me ao ver, as três Pessoas divinas fluírem uma na outra de um modo indizível e imperscrutável (cfr. Sta. Maria Madalena de Pazzi).

Lição: como é bom conhecer um pouco mais a Deus e que bonito é ouvir de Santa Maria Madalena de Pazzi que Deus é bom, não só porque é o bem infinito, mas também porque comunica todo este seu bem: do Pai ao Filho, do Pai e do Filho ao Espírito Santo e a nós também, ainda que parcialmente.

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