DEMÔNIOS (6): AS TENTAÇÕES

EVANGELHO – Mt 10, 34 – 11, 1

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada. De fato, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim.
Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta.
E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”. Quando Jesus acabou de dar essas instruções aos doze discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Jesus começa o Evangelho de hoje com umas palavras que podem chocar a muitos: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz, mas sim a espada”. Como assim, alguém poderia perguntar: Jesus não veio trazer a Paz? Quando os anjos anunciaram o nascimento de Cristo não disseram: “paz aos homens de boa vontade”?

Sim, Jesus veio trazer a paz, porém como lembrava São Josemaria, a paz é consequência da guerra. Uma vez que há o pecado no mundo, só haverá paz empunhando a espada na mão e vencendo o pecado, vencendo o inimigo. Deixando o pecado à solta o mundo vira uma guerra, um salve-se quem puder.

E nós sabemos que um dos responsáveis pelo pecado e pelo mal, é o príncipe do mal, isto é, o demônio.

Continuemos a falar sobre o demônio e hoje sobre os seus modos de atuar.

A primeira forma de atuação que Deus permite ao demônio é a tentação.

Deus governa o mundo, respeitando sua ordem e suas leis; isto é, através da normalidade, da simplicidade e do usual das coisas. Tudo aquilo que sai desta linha e que parece maravilhoso, prodigioso, milagroso é excepcional, muito raro. Deus nos criou livres e espera de nós um livre consentimento à fé, sem que nisto sejamos influenciados por uma manifestação habitual do sobrenatural. Entretanto, para provar-nos, para que mereçamos a bem-aventurança eterna, permite Deus que o demônio nos tente. Diz São Tiago na sua carta: “Bem-aventurado o homem que sofre (com paciência) a tentação, porque depois que tiver sido provado, receberá a coroa da vida, que Deus promete aos que o amam” (Tiag 1,12).

Essa é a ação ordinária, comum, corrente do demônio. Qual é a natureza da tentação? Em seu sentido etimológico, tentar alguém significa pô-lo à prova.

Quais são os tipos de tentação? Santo Agostinho estabeleceu uma distinção, que se tomou clássica, entre duas tentações: a probatória (que é atribuída a Deus como causa) e a tentação enganadora ou sedutora, que é atribuída ao demônio.

A tentação que Deus permite, a probatória, não visa levar ao pecado, e sim tornar patente a virtude de alguém ou fortalecê-la por meio da provação. Um exemplo é a tentação que Deus permitiu a Jó, feita pelo demônio, para provar sua fidelidade (cf. Jó 14, 1 ss).

A tentação enganadora ou sedutora visa levar o homem à ruína espiritual. Através dela o demônio propõe-lhe um mal sob a aparência de um bem, procurando arrastá-lo ao desejo desse mal, isto é, ao pecado. Pode, então, ser definida como uma incitação ao pecado. Consiste em um estímulo, uma solicitação da vontade para o mal.

É importante salientar que como diz São Tomás de Aquino: “Nem todos os pecados são cometidos por instigação do demônio, mas alguns são cometidos pela livre vontade e corrupção da carne” (Suma Teológica, 1, q. 114, a.3).

A raiz da tentação da carne está na própria natureza humana que depois do pecado original está inclinada ao mal, propensa a se arrastar pelas paixões desordenadas. São Paulo descreve em termos dramáticos essa terrível realidade: “Sinto imperar em mim uma lei: querendo fazer o bem, eis que o mal se apresenta a mim. Segundo o homem interior, acho satisfação na lei de Deus; mas em meus membros experimento outra lei que se opõe à lei do meu espírito e me prende à lei do pecado que reina em meus membros” (Rom 7, 21-24).

Também o mundo procura arrastar-nos ao pecado, pois “está sob o jugo do maligno” (1 Jo 5, 19) como diz São João na sua carta e, como diz São Tiago, “a amizade deste mundo é inimiga de Deus” (Tiag 4, 4). Se rompermos com o mundo ele nos perseguirá, adverte o Salvador, pois não somos do mundo (Jo 15, 19). O mundo com as suas máximas mundanas nos incitam ao pecado.

Lição: Qual é a grande arma contra as tentações do demônio? A oração. Uma alma que reza pouco e, pior ainda, que não está em estado de graça, é presa fácil do demônio. Nossa Senhora fala que criou o terço para ser uma arma contra o demônio e que cada terço que é rezado, diminui o poder do demônio. Saibamos, portanto, utilizar estes meios poderosos que temos ao nosso alcance. E é importante ter presente também que a tentação nunca é maior do que as nossas forças. Deus não permite que isto aconteça.

DEMÔNIOS (6): AS TENTAÇÕES

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