CARIDADE (25): BOM HUMOR (6)

EVANGELHO – Lc 19, 1-10

Naquele tempo: Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade.
Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”.
Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria. Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!” Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Jesus lhe disse: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
no Evangelho de hoje nós vemos como Nosso Senhor não só vai através das ovelhas perdidas como também está sempre de braços abertos para nos perdoar e acolher-nos em seu Amor. Zaqueu, sendo cobrador de impostos, como muitos deles, extorquia inescrupulosamente os judeus. Jesus, como é Deus e vê o coração das pessoas, sabia disto e vai em busca deste peixe grande, com todo amor e carinho. A atenção que Jesus deve ter tido com ele deve ter tocado tanto o seu coração que não resistiu e confessou toda a sua culpa. Por maiores que sejam os nossos pecados, saibamos acudir a Nosso Senhor e pedir perdão dos nossos pecados na confissão.

Continuando a nossa série das terças-feiras sobre a caridade, estamos refletindo sobre a virtude do bom humor. Na última vez falamos de mais um motivo que nos faz rir: o amor. Hoje vamos falar que Deus também tem bom-humor.

* * *

O “BOM HUMOR” DIVINO

Somos tentados, contudo, a pensar que o bom humor — esse gozo repousante da ligeireza da vida, esse reconhecimento humilde e sadio dos contrastes da nossa natureza mista (corporal e espiritual), esse jogo superficial com que se expande a nossa felicidade —, somos tentados a pensar, dizia, que é coisa só nossa, dos terráqueos; não de Deus.

Talvez a solenidade do culto litúrgico, com todo o respeito da adoração que devemos à Divindade, oculte a realidade do bom humor de Deus a quem não se habituou à intimidade pessoal com o Senhor. Para uma pessoa sem vida interior, pensar num Deus risonho poderá parecer quase uma falta de respeito. Nós poderemos brincar; mas Ele é grave e sério (…)

Enganamo-nos. Quem fez os olhos, não verá? (Sl 93, 9). E quem fez a alegria, não rirá, não poderá brincar? (…)

Aliás, há tantas outras provas do bom humor de Deus! Já falamos, por exemplo, das girafas e dos hipopótamos… (…) Então o Senhor não os fez para nós? E tê-los-ia criado sem pensar no efeito que nos iriam causar? São realmente caricaturas nossas! Walt Disney tinha muita razão.

O Senhor podia fazer bichos nada parecidos com o homem, e efetivamente fez muitos; mas a maior parte dos que nos são familiares, têm cabeça como nós, corpo e membros (e a cauda, que nos faz tanta falta!), dois olhinhos ou dois olhões, nariz furado ou focinho bicudo, dentuça e língua, orelhinhas e orelhões, um mato bravo em cima do crânio e pelos pescoço abaixo… Não me digam que o Criador precisava repetir o modelo por ausência de imaginação! E que não previa a nossa espontânea associação de imagens! Foi mesmo para que digamos sorrindo: “É verdade; são nossos primos!”

Volto a Chesterton, quando ironizava com os evolucionistas fanáticos: que o homem se assemelha ao macaco, é evidente; o que chama a atenção são as diferenças…

E volto a Guimarães Rosa: “Um orangotango de rugas na testa; que, sem desrespeito, tem vezes que lembra Schopenhauer”. A zebra com suas listras. O avestruz escondendo a cabeça na terra…

Apetecia-me reproduzir aqui cada uma das argutas e divertidas observações zoológicas de Guimarães Rosa no livro póstumo “Ave, Palavra”, (…) falando desse cômico parentesco da humanidade com a animalidade, mas temos de seguir adiante.

Sim, “a alegria” divina manifesta-se claramente em toda a Criação (…)

Na Sagrada Escritura o Senhor revela-nos realmente um rosto majestosamente risonho. A sua Onipotência manifesta-se sempre suave e forte (Sb 8, 1), o que é lógico, pois nada o pode perturbar. Nada o obriga a iras destemperadas. Nada lhe faz perder o “bom humor” que flui do seu Poder e da sua Felicidade infinitas.

Sim senhor: Deus brinca no orbe da Terra!, declara os Provérbios, no capítulo 8 (Pr 8, 31), e diz que suas delícias são estar com os filhos dos homens (…)

É muito importante esta verdade. Não só porque manifesta o sincero, terno e feliz, amor de Deus pelas suas criaturas, mas, além disso, porque, se nos esquecermos da alegria divina, não saberemos lidar com Deus. Os filhos têm de conhecer bem os pais; têm de saber que o pai os ama para não se assustarem com a cara séria que faz às vezes. É tudo carinho! Logo veem como o pai gosta deles!

Temos de entrar no jogo amoroso do nosso Pai, Deus. Senão, passamos maus bocados sem necessidade. Nunca receemos nada vindo de Deus. Quem teme não é perfeito no amor, diz São João (1 Jo 4, 18). A própria morte — que foi uma opção nossa, pelo pecado — converteu-se num jogo. — “Fecha os olhos e abre a boca”, diz o pai ao menino. E o menino obedece, e logo sente no paladar o doce que mais deseja. Assim é a morte dos filhos de Deus: num abrir e fechar de olhos, se formos bons filhos, entraremos na Vida eterna!

Lição: os pais aqui na terra são imagem da paternidade divina. E se Deus deu aos pais esta alegria de brincar com seus filhos, é porque Deus também é assim. Pensar que Deus se diverte conosco torna bem mais leve a nossa vida. Pensemos nisso!

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