CARIDADE (23): BOM HUMOR (4)

EVANGELHO – Lc 12, 35-38

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrir em, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar!
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
Nosso Senhor hoje nos fala de estarmos vigilantes. “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento”. Nós não sabemos quando Deus nos chamará à sua presença. O importante é que estejamos preparados para este encontro. São Josemaria nos dava este conselho de vivermos cada dia como se fosse o último da nossa vida. Vivendo assim nunca seremos pegos de surpresa. Viver como se fosse o último da nossa vida significa estarmos em estado de graça, isto é, não tendo nenhum pecado grave na alma sem tê-lo confessado. Significa também cumprir o nosso dever daquele dia e fazer tudo bem-feito. Procuremos viver sempre assim.

Continuando a nossa série das terças-feiras sobre a caridade, estamos refletindo sobre a virtude do bom humor. Na última vez falamos do motivo pelo qual rimos e vimos que a vida deve ser olhada nas suas duas perspectivas: dramática e engraçada. Hoje vamos ver mais um motivo pelo qual rimos.

* * *

A EUTRAPELIA

Existe ainda outro motivo para o bom humor: a necessidade do descanso.

Quando São Tomás de Aquino se enfrenta com a questão de saber “se nos jogos (ou brincadeiras) pode haver alguma virtude”, soluciona-a de forma positiva, “visto que o homem necessita, de vez em quando, de repouso corporal […] a alma exige também a submissão a essa mesma lei, pois as suas energias são igualmente limitadas, e quando se excedem no modo de atuar, provocam fadigas […]. Sabendo, portanto, que o descanso da alma se acha no prazer […], devemos buscar para isso um prazer adequado. (…) Esse relaxamento – continua São Tomás – consegue-se por meio de jogos de palavras e de ações (…) O próprio Aristóteles nos fala da virtude do jogo, a que ele chama eutrapelia, e que nós poderíamos traduzir por iucunditas” (alegria) (S.Th., II-II, q. 168, a. 2).

Há uma história atribuída a São João Evangelista — e que já li atribuída a Santo Antão — sobre este assunto. Diz a lenda que alguém passou junto do Apóstolo quando este se entretinha em conversa divertida com os seus discípulos, e se escandalizou ao vê-lo tão à vontade. E, percebendo o Apóstolo a perplexidade do escandalizado, perguntou-lhe por que motivo os caçadores não usavam sempre o arco retesado para o tiro. Porque a corda perderia força se estivesse sempre tensa, respondeu o outro. Assim é com a alma, concluiu o Apóstolo.

Não podemos viver sempre em tensão física nem psicológica. Precisamos relaxar-nos de vez em quando para nos mantermos equilibrados, sãos de juízo.

(…) O peso das responsabilidades — reais ou imaginárias — pode esmagar qualquer pessoa caso passe um tempo excessivo sem descansar. As preocupações acumuladas acabam por dominar a nossa memória e a nossa imaginação, e vem o “stress”.

Contra o cansaço mental, São Tomás, muito prático, aconselha banho quente ou então um belo jantar… Na minha terra aconselha-se coisa mais original: sentar-se à beira do rio e olhar para o movimento das águas. Vendo o movimento das águas, o homem fatigado sente-se reconfortado pela dádiva incessante da Criação… Nunca o experimentei.

Hoje em dia, recorre-se sobretudo à farmácia. Engole-se um comprimido, e depois outro, e outro ainda mais forte, até ficarmos em estado letárgico. Mas, mais vale prevenir do que remediar. Procuremos descansar. Quando não repousamos devidamente, vem a tristeza e com ela outras coisas ruins…

Voltando às formas de descanso. Lembro-me de um ótimo diretor espiritual que não teve nenhum escrúpulo em aconselhar, como leitura espiritual, a uma pessoa excelente e muito séria, histórias em quadrinhos. Ainda que sejas adulto ou mais velho, brinca e deixa brincar. Aprende dos mais novos o gosto pelo jogo e pelos ritmos, e acompanha-os se puderes.

Hoje em dia somos tão superficiais, dizia Oscar Wilde, que não vemos o valor da superficialidade! E gosto de citar o papa Pio XII quando falava do cinema: também tem a sua missão, escrevia, porque o homem não é só profundidade; também é superfície.

Efetivamente, se o homem não vem à superfície de vez em quando, afoga-se na sua seriedade.

– A propósito, sabem aquela daquele que gostava tanto de cerveja?
– Sim. E o que aconteceu?
– Afogou-se.
– Como foi isso?
– Afogou-se justamente num tanque de cerveja! Tinha ido visitar uma fábrica, inclinou-se demais sobre um grande tonel e caiu lá dentro!
– Nossa! E morreu logo?
– Não, não; ainda veio à tona duas vezes para pedir batatas-fritas…

Temos de vir frequentemente à superfície das nossas responsabilidades para pedir “batatas-fritas” que as suavizem ou, como os mergulhadores, para recarregar os tubos de oxigênio. E vir à superfície significa, segundo São Tomás, descansar por meio de jogos de palavras e outras coisas. Referia-se à conversa amável sobre qualquer assunto, sem pretensão de resolver problemas; a uma conversa amiga em que se fale mais do pitoresco, do curioso e do engraçado do que do profundo.

Lição: como é importante o descanso, saber descansar. A este propósito sugiro o livro “Aprender a descansar” da editora Quadrante.

CARIDADE (23): BOM HUMOR (4)

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