ALEGRIA: E ESQUECIMENTO PRÓPRIO

EVANGELHO – Jo 15, 1-8

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
As palavras de Jesus no Evangelho de hoje são simples e muito profundas. Podemos ficar horas e horas refletindo nelas: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Sem Jesus, sem Deus, nada podemos fazer! Um autor comentando esta passagem do Evangelho, diz que sem Deus é como costurar sem linha. No final do dia, não fica nada.

Sem Deus, de certa forma, já que Deus sustenta o nosso ser, podemos fazer as coisas. Porém, o que Cristo está dizendo é que não ficará nada para a eternidade do que fizermos sem Ele. Tudo virará pó um dia, no dia da nossa morte. Porém, tudo o que fizermos com Ele ficará para a vida eterna, terá um valor eterno. Mesmo aqui na terra, sozinhos, sem Deus, não seremos felizes. Por isso, Dom Rafael hoje falará que o egoísta nunca encontrará a felicidade. Vejamos:

* * *

O egocentrismo leva à tristeza. A excessiva preocupação pela felicidade acaba por arruiná-la.
Alguém me comentava recentemente:
– Logo que me levanto, sinto que há algo de inquietante e desagradável que me espera. O senhor não o percebe na atmosfera? O ar desta cidade está carregado de tensão.
– Não, eu não sinto isso. O ar desta cidade não está carregado de tensão. A tensão não está no ar, mas na sua mente, no seu coração.
Ficou perplexo.
– Será mesmo?
– Sim, é assim mesmo. Está aí dentro de você.
– Mas então, o que provoca essa tensão?
A resposta que dei, mais suave, embora bem clara, porque era um homem que gostava de ouvir as verdades com paliativos, foi a seguinte:
– Tudo isso vem da preocupação excessiva por si mesmo. Uma auto ênfase nas suas coisas, uma certa obsessão de perder o que tem, de que aconteça alguma coisa. Tem medo dos perigos da rua, tem receio dos problemas que deve resolver, dos sacrifícios que o dia lhe vai impor, das responsabilidades com que deve arcar. Tem pavor de ficar doente, de sofrer, de ser infeliz. É uma tensão cujo coeficiente cresce artificialmente por causa de um fator: sempre está pensando em si mesmo.
– Que fazer?, perguntou-me.
– Seja menos subjetivo. Viva voltado para a vida como a vida é. Como Deus a quis. Aceite-se a si próprio, a sua saúde, a sua condição econômica, as suas circunstâncias, a sua esposa, a sua profissão, os seus colegas… Tente fazer felizes todas essas pessoas, esquecendo-se de si próprio.
– Vamos fazer uma experiência — continuei —. Acompanhe o meu pensamento e procure sentir o que lhe estou dizendo.
E comecei a dizer-lhe em voz baixa, pausadamente:
– Você está numa situação extremamente difícil. Você não tem nada; perdeu a família, o dinheiro e a saúde; é um indigente: está abandonado num hospital de indigentes…
Ele interrompeu-me:
Se eu estivesse nessa situação, haveria de sentir-me extremamente infeliz. Que coisa estranha me está propondo! É algo inconcebível!
– Não. Há milhares de pessoas no país que se encontram nessa situação. Conheço esses hospitais de indigentes. E há muitos que estão em paz e alguns até felizes… Medite um pouco nisto que lhe estou dizendo, devagar, serenamente…
O meu amigo ficou muito sério e em silêncio durante algum tempo.
Depois acrescentei:
– Subitamente, batem à porta e entra no quarto a sua esposa, que lhe diz: — “Meu bem, o café está na mesa’”.
– Mas, e o hospital?
– Isso foi apenas um sonho. Agora, você olha para a sua casa, os seus móveis, despede-se dos filhos que vão sair para a escola, lembra-se dos amigos: “Tenho família, tenho amigos, que felicidade! Mais ainda, sou filho de Deus! Ele não me criou para a tristeza, mas para a alegria! Ele me ama..!’’.
O meu amigo entendeu:
– Eu tenho tudo isso, todos os dias, e não lhe dou valor. Muito obrigado por esta reflexão… Agora já não sinto que a atmosfera desta cidade esteja tão carregada de tensão.
Dizia São Josemaria: “Não és feliz, porque ficas ruminando tudo como se sempre fosses tu o centro: é que te dói o estômago, é que te cansas, é que disseram isto ou aquilo… — Experimentaste pensar nEle e, por Ele, nos outros?”
Pensar nos outros — nos que sofrem, nos que nada têm —. esquecer-nos de nós mesmos, tentar fazer feliz os outros, eis um caminho direto e seguro para chegar à felicidade. Há mais alegria em dar do que em receber (At 20, 35), diz Cristo.
Viktor Frankl, através da sua longa experiência clínica, chegou a esta conclusão: “A felicidade não pode ser procurada, tem que vir ao nosso encontro, e ela só acontece como um efeito colateral, não intencionado, da dedicação pessoal a uma causa mais elevada do que o próprio eu, ou como produto concomitante à entrega a uma pessoa”.
A generosidade paga em forma de alegria. E paga bem. Os homens generosos são alegres. Já “a tristeza é a escória do egoísmo”. O egoísmo produz como excrescência a tristeza, e a alegria é o grande fruto da generosidade. Assim o diz o Evangelho: Dai e dar-se-vos-á; uma medida cheia, repleta e sacudida será colocada no seu regaço. Porque com a mesma medida com que medirdes sereis medidos (Lc 6, 38).

Lição: aprendamos hoje esta lição para toda a vida: o segredo para sermos felizes é não pensar em nós mesmos, mas em Deus e no próximo.

ALEGRIA: E ESQUECIMENTO PRÓPRIO

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