EVANGELHO – Jo 20, 1-9
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo.
Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: Hoje é uma festa de grande alegria: Jesus ressuscitou! Com a sua ressurreição, Jesus mostra ser o próprio Deus, pois só Deus tem o poder de dar a vida, de morrer e voltar à vida, mostra que nos libertou da morte do pecado e nos ressuscitou para uma vida nova. E que a morte se transforma em vida. Assim a Páscoa é a festa da alegria, da esperança, do otimismo. E a Igreja nos diz que devemos comemorá-la nos próximos 50 dias, tal é o júbilo da Páscoa. Se para a sua preparação foram 40 dias de penitência, agora são 50 dias de alegria.
Gostaria de ler alguns trechos da homilia do Papa Francisco do ano de 2019. É uma homilia muito bonita, falando da esperança.
* * *
1. As mulheres vão ao túmulo levando os aromas, mas temem que a viagem seja inútil, porque uma grande pedra bloqueia a entrada do sepulcro.
Aí o Papa vai dizer que o caminho daquelas mulheres é também o nosso caminho.
Que este caminho lembra o caminho da nossa vida, quando o percorremos nas noites da nossa vida, nos momentos de dificuldades, de situações onde não vemos uma saída, onde parece que tudo vai ser bloqueado diante de uma pedra (…)
E aí dirá o Papa que hoje, por que ele escreveu esta homilia no dia da Páscoa, da ressurreição do Senhor, hoje porém, descobrimos que o nosso caminhar não é em vão, que não para diante de uma pedra tumular.
Uma frase incita as mulheres e muda a história: «Porque buscais o Vivente entre os mortos?» (Lc 24, 5); porque pensais que tudo seja inútil, que ninguém possa remover as vossas pedras? Porque cedeis à resignação ou ao fracasso? A Páscoa, irmãos e irmãs, é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expetativas: a morte, o pecado, o medo, o mundanismo. A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a «pedra viva» (cf. 1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado. Como Igreja, estamos fundados sobre Ele e, mesmo quando desfalecemos, mesmo quando somos tentados a julgar tudo a partir dos nossos fracassos, Ele vem fazer novas todas as coisas, inverter as nossas decepções. Nesta noite, cada um é chamado a encontrar, no Vivente, Aquele que remove do coração as pedras mais pesadas. Perguntemo-nos, antes de mais nada: Qual é a minha pedra a ser removida, como se chama esta pedra?
Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Quando se dá espaço à ideia de que tudo corre mal e que sempre vai de mal a pior, resignados, chegamos a crer que a morte seja mais forte que a vida e tornamo-nos portadores dum desânimo doentio. Pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, o sepulcro da esperança. Lamentando-nos da vida, tornamos a vida dependente das lamentações e espiritualmente doente. Insinua-se, assim, uma espécie de psicologia do sepulcro: tudo termina ali, sem esperança de sair vivo. Mas, eis que surge a pergunta desafiadora da Páscoa: Porque buscais o Vivente entre os mortos? O Senhor não habita na resignação. Ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos (cf. Mt 22, 32). Não sepultes a esperança!
Há uma segunda pedra que, muitas vezes, fecha o coração: a pedra do pecado. O pecado seduz, promete coisas fáceis e imediatas, bem-estar e sucesso, mas, depois, deixa solidão e morte. O pecado é procurar a vida entre os mortos, o sentido da vida nas coisas que passam. Porque buscais o Vivente entre os mortos? Porque não te decides a deixar aquele pecado que, como pedra à entrada do coração, impede à luz divina de entrar? Porque, aos lampejos cintilantes do dinheiro, da carreira, do orgulho e do prazer, não antepões Jesus, a luz verdadeira (cf. Jo 1, 9)? Porque não dizes às vaidades mundanas que não é para elas que vives, mas para o Senhor da vida?
2. Voltemos às mulheres que vão ao sepulcro de Jesus… À vista da pedra removida, sentem-se perplexas; ao ver os anjos, ficam – diz o Evangelho – «amedrontadas» e «voltam o rosto para o chão» (Lc 24, 5). Não têm a coragem de levantar o olhar. E quantas vezes nos acontece o mesmo! Preferimos ficar encolhidos nos nossos limites, escondidos nos nossos medos. É estranho! Mas, por que o fazemos? Muitas vezes porque, no fechamento e na tristeza, somos nós os protagonistas, porque é mais fácil ficarmos sozinhos nas celas escuras do coração do que abrir-nos ao Senhor. E, todavia, só Ele levanta. Uma poetisa escreveu: «Só conhecemos a nossa altura, quando somos chamados a levantar-nos» (E. Dickinson, Nunca sabemos quão alto estamos nós). O Senhor chama-nos para nos levantarmos, ressuscitarmos à sua Palavra, olharmos para o alto e crermos que estamos feitos para o Céu, não para a terra; para as alturas da vida, não para as torpezas da morte: Porque buscais o Vivente entre os mortos?
Deus pede-nos para olharmos a vida como a contempla Ele, que em cada um de nós sempre vê um núcleo indestrutível de beleza. No pecado, vê filhos carecidos de ser levantados; na morte, irmãos carecidos de ressuscitar; na desolação, corações carecidos de consolação. Por isso, não temas! O Senhor ama esta tua vida, mesmo quando tens medo de a olhar de frente e tomar a sério. Na Páscoa, mostra-te quanto a ama. Ama-a a ponto de viver toda ela, de experimentar a angústia, o abandono e a mansão dos mortos para de lá sair vitorioso e dizer-te: «Não estás sozinho, confia em Mim!»
Jesus é especialista em transformar as nossas mortes em vida, os nossos lamentos em dança (cf. Sal 30, 12). Com Ele, podemos realizar também nós a Páscoa, isto é, a passagem: da desolação ao consolo, do medo à confiança. Não fiquemos a olhar para o chão amedrontados, fixemo-lo em Jesus ressuscitado: o seu olhar infunde-nos esperança, porque nos diz que somos sempre amados e que, não obstante tudo o que possa acontecer, o amor d’Ele não muda. Esta é a certeza não negociável: o seu amor não muda. Perguntemo-nos: Na vida, para onde olho? Contemplo ambientes sepulcrais ou procuro o Vivente?
3. Porque buscais o Vivente entre os mortos? As mulheres escutam a advertência dos anjos, que acrescentam: «Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia» (Lc 24, 6). (…) A fé precisa voltar à Galileia, reavivar o primeiro amor com Jesus, a sua chamada (…) Voltar a um amor vivo para com o Senhor é essencial; caso contrário, tem-se uma fé de museu, não a fé pascal (…)
Recordando Jesus, as mulheres deixam o sepulcro. A Páscoa ensina-nos que o crente se detém pouco no cemitério, porque é chamado a caminhar ao encontro do Vivente. Perguntemo-nos: na minha vida, para onde caminho? Sucede às vezes que o nosso pensamento se dirija continua e exclusivamente para os nossos problemas, que nunca faltam, e vamos ter com o Senhor apenas para nos ajudar. Mas, deste modo, são as nossas necessidades que nos orientam, não Jesus. E continuamos a buscar o Vivente entre os mortos. E quantas vezes, mesmo depois de ter encontrado o Senhor, voltamos entre os mortos, repassando continuamente saudades, remorsos, feridas e insatisfações, sem deixar que o Ressuscitado nos transforme!
Queridos irmãos e irmãs, na vida demos o lugar central ao Vivente. Peçamos a graça de não nos deixarmos levar pela corrente, pelo mar dos problemas; a graça de não paralisar-nos diante das pedras do pecado e dos rochedos da desconfiança e do medo. Procuremos a Ele, deixemo-nos ser procurados por Ele, procuremo-Lo em tudo e antes de tudo. E com Ele, ressuscitaremos (Papa Francisco, Homilia Sábado Santo, 2019).
Lição: que estas palavras do Papa Francisco alimentem poderosamente a nossa esperança, pois Deus pode tudo.