NATAL: LIÇÃO DE SIMPLICIDADE

EVANGELHO – Jo 1, 35-42

Naquele tempo, João estava de novo com dois de seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”! Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram Jesus. Voltando-se para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “Que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer: Mestre), onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram, pois ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da tarde. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Ele foi encontrar primeiro seu irmão Simão e lhe disse: “Encontramos o Messias (que quer dizer: Cristo)”. Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
outra lição que podemos tirar do nascimento de Jesus é a lição da naturalidade e simplicidade.

Como dissemos, passados os dias da purificação, Maria e José levaram o Menino Jesus ao Templo para apresentá-lo ao Senhor. Ninguém deve ter reparado naquele casal jovem que levava uma criança pequena no seu colo.

As mães tinham que esperar o sacerdote na porta oriental. Para lá foi Maria, junto com as outras mulheres, à espera de que chegasse a sua vez para que o sacerdote tomasse nos braços o seu Filho. A seu lado estava José, pronto para pagar o resgate. A cerimônia da purificação de Maria e do resgate do Menino do serviço do Templo não se distinguiu exteriormente em nada do que costumava acontecer nessas ocasiões.

Toda a vida de Maria está penetrada de uma profunda simplicidade. A sua vocação de Mãe do Redentor realizou-se sempre com naturalidade. Aparece na casa de sua prima Isabel para ajudá-la e servi-la durante meses; prepara os panos e a roupa para o seu Filho; vive trinta anos junto dEle, sem se cansar de olhá-lo, com um relacionamento amabilíssimo, mas cheio de simplicidade.

Quando em Caná alcança do seu Filho o primeiro milagre, faz isso com tal naturalidade que nem sequer os noivos se apercebem do fato portentoso. Em nenhum momento faz alarde de privilégios especiais. A este respeito dizia São Josemaria: “Maria Santíssima, Mãe de Deus, passa inadvertida, como mais uma, entre as mulheres do seu povo. – Aprende dEla a viver com naturalidade”.

Seu Filho, Jesus, é o modelo da simplicidade perfeita, durante os trinta anos da vida oculta e sempre: quando começa a pregar a Boa Nova, não desenvolve uma atividade ruidosa, chamativa, espetacular. Jesus é a própria simplicidade, quer quando nasce ou é apresentado no Templo, quer quando manifesta a sua divindade por meio de milagres que só Deus podia fazer.

O Salvador foge do espetáculo e da vanglória, dos gestos falsos e teatrais; faz-se acessível a todos: aos enfermos desenganados que o procuram cheios de confiança para implorar-lhe remédio para os seus padecimentos; aos apóstolos que lhe perguntam sobre o sentido das parábolas; às crianças que o abraçam com confiança.

A simplicidade é uma das manifestações da humildade. Opõe-se radicalmente a tudo o que é postiço, artificial, enganoso. E é uma virtude especialmente necessária no relacionamento com Deus e no convívio diário.

A simplicidade é uma consequência e uma característica da chamada “infância espiritual”, a que o Senhor nos convida especialmente nestes dias em que contemplamos o seu nascimento e a sua vida oculta. Diz o Senhor: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes e vos fizerdes como crianças – pela simplicidade e inocência -, não entrareis no Reino dos céus”. A infância espiritual é esta atitude de fazer-nos pequenos diante de Deus. Os santos nos diziam que diante de Deus temos que nos portar como crianças pequeninas que estão aprendendo a andar.

Sendo pequenos, vamos nos dirigir a Deus sem atitudes rebuscadas nem fingidas, porque sabemos que Ele não repara tanto na aparência externa, mas olha o coração.

Sentimos sobre nós o olhar amável do Senhor, que nos convida a ser autênticos, a conversar com Ele numa oração pessoal, direta, confiante. Por isso temos que fugir de qualquer formalismo no relacionamento com Deus, ainda que deva haver um respeito por Ele. Mas o respeito não é convencionalismo ou formalismo.

Se formos simples com Deus, também seremos com aqueles com quem estamos todos os dias, com os nossos parentes, amigos e colegas. É simples quem atua e fala em íntima harmonia com o que pensa e deseja, quem se mostra aos outros tal como é, sem aparentar o que não é ou o que não possui.

É sempre uma grande alegria encontrar uma alma simples, sem pregas nem recantos, em quem se pode confiar. Em sentido contrário, o Senhor alerta-nos contra aqueles que pensam de um modo e atuam de outro.

Na convivência diária, toda a complicação levanta obstáculos entre os outros e nós, e afasta-nos de Deus. Dizia São Josemaria a este respeito: “Essa ênfase e esse ar emproado ficam-te mal; vê-se que são postiços. – Procura, pelo menos, não os empregar com o teu Deus, nem com o teu Diretor, nem com os teus irmãos. E haverá uma barreira a menos entre ti e eles”.

A simplicidade e a naturalidade são virtudes extraordinariamente atraentes: para compreender isso, basta olhar para Jesus, Maria e José. Mas devemos saber que são virtudes difíceis, sobretudo por causa da soberba, que nos leva a formar uma ideia exagerada sobre nós próprios e a querer parecer diante dos outros mais do que somos ou temos.

Sentimo-nos humilhados tantas vezes porque desejamos ser o centro da atenção e da estima dos que nos rodeiam; porque não reconhecemos que há ocasiões em que atuamos mal; porque não nos conformamos com fazer e desaparecer, sem mendigar a recompensa de uma palavra de louvor ou de gratidão. Muitas vezes complicamos a vida porque não aceitamos as nossas limitações, porque nos levamos demasiado a sério. A soberba pode induzir-nos a falar excessivamente de nós mesmos, a pensar quase que exclusivamente nos nossos problemas pessoais, ou a procurar chamar a atenção por caminhos às vezes complexos e retorcidos; pode até fazer-nos simular doenças inexistentes, ou alegrias e tristezas que não correspondem ao nosso estado de ânimo.

O pedantismo, a afetação, a jactância, a hipocrisia e a mentira opõem-se à simplicidade e, portanto, à amizade, dificultando uma convivência amável. São também por isso um verdadeiro obstáculo para a convivência.

Para aprendermos a ser simples, contemplemos Jesus, Maria e José em todas as cenas da infância do Senhor, no meio da sua vida normal. Peçamos à Sagrada Família que nos faça como crianças, a fim de podermos relacionar-nos com Deus e com os outros com toda simplicidade, sem as complicações da soberba.

NATAL: LIÇÃO DE SIMPLICIDADE

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