VIRTUDES HUMANAS (8): TEMPERANÇA

EVANGELHO – Mc 2, 1-12

Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra.
Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens.
Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: “Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus”.
Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados”, ou dizer: “Levanta-te, pega a tua cama e anda”?
Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, – disse ele ao paralítico: – eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!” O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
São Marcos continua a narrar alguns milagres de Cristo e o milagre que narra hoje é surpreendente por dois motivos: por levarem um paralítico até Jesus descendo-o pelo teto e por Jesus curar primeiro a sua alma, mostrando aquilo que já dissemos que a nossa alma é a principal preocupação de Cristo e não o nosso corpo. Todos pensavam que Jesus iria curar primeiro, ou apenas, a sua paralisia. No entanto faz menção que iria curar primeiro, ou apenas, a sua alma. Porém, para mostrar que tem o poder sobre tudo, cura também o seu corpo.

Que sempre tenhamos esta ordem que Cristo nos ensinou: primeiro a nossa alma e depois o nosso corpo.

Dando continuidade à série sobre as virtudes que vínhamos abordando nas sextas-feiras, hoje vamos falar sobre a quarta virtude cardeal, a virtude da temperança. Da última vez vimos a virtude da fortaleza. Para vocês terem acesso a este material, basta ir ao meu site homilias.fecomvirtudes.com.br e procurar pela tag “virtudes”.

O Catecismo fala das várias dimensões da virtude da temperança. De modo geral, a define como «a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade» (n. 1809).

Podemos dizer, com outras palavras, que a temperança estabelece e mantém o equilíbrio, a harmonia, entre a dimensão espiritual e a dimensão corporal do homem.

Por ela, o espírito (a razão e a vontade, mais a graça do Espírito Santo) “modera” as tendências instintivas da natureza e a ânsia de prazer. Mantém equilibradas, especialmente, as tendências e prazeres ligados à autoconservação (comer, beber, descansar, sexualidade). Faz com que vivamos de acordo com a dignidade humana e com a condição de filhos de Deus.

Moderar não é anular

É importante reparar que, ao definir a temperança, o Catecismo não usa as expressões “suprime”, “reprime”, “abafa”…

O cristianismo não é inimigo do corpo, nem do prazer. Basta pensar que Deus assumiu um corpo humano em Jesus Cristo – que nós adoramos na Eucaristia (cf. Jo 6,56) –, e que o primeiro milagre de Cristo foi a transformação da água em vinho, em Caná, para que não se perdesse a alegria de um banquete de casamento (Jo 2,1ss).

Dizer que a matéria e o corpo são maus é uma afirmação própria da heresia do maniqueísmo, é anticristã. Justamente porque o corpo é criado por Deus, porque é um grande dom de Deus, é necessário mantê-lo equilibrado dentro de seu bem razoável, a fim de que nem os abusos, nem as deturpações, nem as loucuras o aviltem ou o estraguem. Esta é a função da virtude da temperança.

Alguém dizia que, simbolicamente, Deus pôs o homem em pé, para que entendesse que a cabeça está por cima do resto: a cabeça está por cima do coração; e cabeça e coração, por cima do ventre e do sexo. Transtornar essa ordem, colocando a gula ou o sexo acima do coração (do amor) e da cabeça (num plano meramente instintivo e irracional), isso é degradar o homem.

Em que consiste a desordem, em matéria de temperança? Fundamentalmente em três coisas:

a) usar o que existe para o bem como instrumento para o mal.

Por exemplo, transformar o alimento e a bebida em instrumento do mal, exagerando neles e levando a perder a saúde física e psíquica; usar o sexo, que é manifestação santa de amor entre os esposos e colaboração com Deus criador, em mero gozo sem responsabilidade, ou em crime (abuso de menores), ou em adultério e traição.

b) transformar o que existe para “servir” em tirano que escraviza.

Comida, bebida, sexo, são, no plano de Deus criador, “servidores” da vida e do amor. O celular é um meio para fazer o bem a nós e aos outros.

Quando se degradam e se tornam um vício egoísta, uma obsessão doentia, então estas realidades ao invés de serem “servidoras” se tornam “escravizadoras”.

O viciado alega que é livre, mas engana-se. Quando pratica os vícios ligados ao prazer, diz que faz o que quer, porque é livre, mas só faz o que não consegue deixar de fazer: já não tem mais o poder de “não querer”; tornou-se escravo (do crack, do álcool, do sexo obsessivo-compulsivo, do celular etc).

c) transformar os meios em fins

Transformar um meio em fim é o máximo da desordem. É conhecida a frase, por exemplo, de que “alguns, em vez de comer para viver, vivem para comer”. O meio se transformou em fim. Da mesma forma, há os que transformaram o sexo sem amor e sem regra na finalidade da vida.

Vale a pena transcrever as seguintes palavras de São Josemaria Escrivá sobre a temperança para vermos a sua beleza e grandeza:

Temperança é espírito senhoril. Nem tudo o que experimentamos no corpo e na alma deve ser deixado à rédea solta […]. Eu quero considerar os frutos da temperança, quero ver o homem verdadeiramente homem, livre das coisas que brilham, mas não têm valor.

Esse homem sabe prescindir do que faz mal à sua alma e (…) livra-se de muitas escravidões e no íntimo do seu coração consegue saborear todo o amor de Deus.

A vida recupera então os matizes que a intemperança esbate. Ficamos em condições de nos preocuparmos com os outros, de compartilhar com todos as coisas pessoais, de nos dedicarmos a tarefas grandes. A temperança cria a alma sóbria, modesta, compreensiva; confere-lhe uma dignidade natural que é sempre atraente, porque se nota na conduta o império da inteligência. A temperança não supõe limitação, mas grandeza (Amigos de Deus, n. 84).

Lição: sem a virtude da temperança nos tornamos escravos do prazer. Vale a pena ganhar e crescer nesta virtude para voarmos alto nas realidades espirituais e mais nobres do ser humano como o amor, o trabalho e o serviço aos demais.

VIRTUDES HUMANAS (8): TEMPERANÇA

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