VIRTUDES HUMANAS (19): PACIÊNCIA (9)

EVANGELHO – Mt 22, 34-40

Naquele tempo: Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo, e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo:
“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!”
Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
que boa pergunta fez este homem a Jesus: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” E Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos. Vemos assim como tudo se resume no amor: amar a Deus e amar o próximo. Podemos fazer hoje uma pergunta: onde está o meu coração? Em mim ou nos outros? Em mim ou em Deus e nos demais? Saibamos lutar diariamente contra o egoísmo que quer dominar todo o nosso coração.

Dando continuidade à nossa série sobre as virtudes e, concretamente, sobre a paciência, na última vez citamos o exemplo de uma moça que foi do Opus Dei, chamada Montse, e que morreu santamente, suportando com paciência o seu tumor. Hoje vamos citar duas breves histórias comentadas pelo Padre Francisco. Vejamos.

* * *

Restam-nos duas histórias, que podem relatar-se em muito poucas palavras. São ambas narradas pelo professor de psiquiatria e escritor J. A. Vallejo-Nágera, no seu livro Concerto para instrumentos desafinados. Trata-se de algumas das muitas recordações que o médico registra como “momentos do coração” no seu trabalho diário.

O primeiro caso é o de um tradutor diplomado. Foi-lhe diagnosticado um câncer de pulmão, e simultaneamente deram-lhe a notícia de que lhe restavam poucos meses de vida. Homem de pouca fé, à diferença dos protagonistas dos dois exemplos anteriores, procurava no psiquiatra as soluções que não conseguia encontrar em Deus. Pensava na esposa e tremia ante a possibilidade de fazê-la sofrer:

– Temo que me falte coragem e serenidade, e que assim amargure os nossos últimos meses de convívio. Fisicamente, creio que posso aguentar; só temo falhar psicologicamente. Foi por isso que vim, para ter uma orientação técnica, um ponto de apoio, e poder dissimular até o final ou fingir que não sofro. Quando a minha mulher ficar sabendo a verdade, se ela julgar que eu não estou sofrendo, conseguirei aliviar-lhe este calvário que não lhe posso evitar.

Causa uma certa angústia esse sofrimento pendurado no vazio de um bom coração que não conhece a Deus. Mas, sem dúvida alguma, havia uma enorme grandeza no seu desejo de ser autenticamente paciente. Esse homem bom tinha muito amor à esposa, e estava procurando forças para conseguir que esse seu amor aprendesse a sofrer.

O segundo caso, paradoxalmente, é o de um sacerdote cheio de fé, que também procurava no psiquiatra um conselho para sofrer melhor. O médico narrador conta-nos que era um padre humilde, “tão insignificante que nem sequer era ridículo”. Tinha dedicado a vida, até aos sessenta e tantos anos, à sua tarefa de bom pastor das almas, especialmente cuidando das doenças espirituais no confessionário. Desde fazia algum tempo, tinha-se-lhe manifestado uma depressão endógena grave – assim a qualifica o especialista –, com as suas sequelas mórbidas e características de tristeza, desconsolo, remorso, pessimismo esmagador e perda do desejo de viver.

O sofrimento era grande. Mas, nesse caso, o médico comoveu-se porque o paciente não parecia querer consolo nem compaixão. “Também não parecia muito interessado no alívio do tormento… Que queria, então? Queria continuar a amar”.

– Até agora – dizia o padre ao doutor –, tenho levado uma vida sem pena nem glória. A Glória, eu a espero para depois, no Céu, e sei que é preciso adquiri-la por meio da pena. Recebi com gratidão o fato de Deus me ter enviado no final da vida a minha cruz; estava até desejando ter uma para poder carregá-la. Bendigo a Deus todos os dias por ter-se lembrado de mim no final, quando já me resta muito pouco tempo de vida e parecia ter perdido qualquer oportunidade de ganhar alguns méritos. Mas estou notando que agora, no confessionário, na direção espiritual, não sinto as coisas como antes, como ao longo de toda a minha vida, com entusiasmo por ajudar, com esse carinho espontâneo cheio de ansiedade, de necessidade de aliviar os que recorrem a mim. Consigo dar conselhos porque o cérebro funciona, mas não os sinto com o coração, e isso soa-me a nota falsa, artificial, e não posso consolar os meus fiéis como antes. Nunca me tinha acontecido isto; tem que ser uma doença. É o que lhe peço que me cure. O resto irá passando com o tempo, e, se não, louvado seja Deus!

Esta história que parecia começar tão mal, termina tão bem! É mais um clarão sobre a virtude da paciência. Aquele padre zeloso, desprendido e humilde, sentia-se muito doído e confuso, não por estar doente, mas porque a doença lhe tornava difícil manter a vibração do amor e transmitir conforto e alegria.

Não é preciso aduzir mais exemplos para sentir, como um desafio, uma pergunta que se dirige a cada um de nós: Quando nos decidiremos a amar? Quando resolveremos, enfim, esquecer-nos de nós mesmos, ser generosos e viver para dar, para edificar? No dia em que formos capazes de começar a viver assim, estaremos começando a levantar o véu que nos encobre a pedra preciosa da paciência.

Lição: endossemos o que nos aconselhou o Padre Francisco Faus: resolvamos esquecer-nos de nós mesmos, ser generosos e viver para dar, para edificar e assim seremos muito pacientes.

VIRTUDES HUMANAS (19): PACIÊNCIA (9)

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