EVANGELHO – Jo 16, 5-11
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Agora, parto para aquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: “Para onde vais?” Mas, porque vos disse isto, a tristeza encheu os vossos corações. No entanto, eu vos digo a verdade: É bom para vós que eu parta; se eu não for, não virá até vós o Defensor; mas, se eu me for, eu vo-lo mandarei. E quando vier, ele demonstrará ao mundo em que consistem o pecado, a justiça e o julgamento: o pecado, porque não acreditaram em mim; a justiça, porque vou para o Pai, de modo que não mais me vereis; e o julgamento, porque o chefe deste mundo já está condenado.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: o Evangelho destes dias traz os momentos derradeiros de Jesus antes dEle subir aos Céus, pois no próximo domingo será a festa da Ascensão do Senhor. No Evangelho de hoje, Jesus nos diz que é bom que Ele nos deixe para ir aos Céus, pois no seu lugar será enviado o Espírito Santo e Ele será para nós um defensor. Nós costumamos dividir a atuação de cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade desta forma: desde a criação do mundo até Jesus, a atuação do Pai; desde o nascimento de Jesus até a sua ascensão aos Céus, a atuação do Filho; e desde o dia de Pentecostes até o final dos tempos, a atuação do Espírito Santo, cujo desejo é morar na nossa alma para transformar cada um de nós na imagem de Cristo.
Hoje vamos terminar a nossa série sobre o Purgatório falando de um ensinamento da Igreja que é de que podemos pedir intercessão às almas do Purgatório. Apesar delas ainda não estarem no Céu, devido aos méritos que elas adquiriram na vida, elas podem nos ajudar nas nossas necessidades. Para ilustrar esta verdade, vejamos a seguinte história conhecida como o livreiro de Colônia.
O livreiro de Colônia
Guilherme Feysasen foi o dono de uma célebre livraria em Colônia. A ele são atribuídas duas graças extraordinárias alcançadas pela devoção às almas do Purgatório. Ele narrou estas graças numa carta escrita no ano de 1649 ao Padre Tiago de Monfort, da Companhia de Jesus. Eis a carta:
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Meu Padre, eu vos escrevo esta carta para vos contar a dupla cura de minha mulher e de meu filho. Durante os dias do feriado em que fechei minha livraria e tipografia, fiquei recolhido em casa e tomei um bom e piedoso livro para leitura. Eram os originais de uma obra que ia imprimir sobre as almas do Purgatório.
Estava ocupado nesta leitura quando me vieram dizer que meu filho estava com os sintomas de uma doença muito grave. A doença progrediu rapidamente e o meu filho estava em perigo sério de vida. Os médicos não deram mais esperanças. Já se pensava mesmo nos funerais. Nesta grande aflição e vendo esgotados todos os recursos humanos, resolvi fazer um pedido ao Senhor pelas almas do purgatório e fiz uma promessa: distribuiria gratuitamente cem exemplares do livro que tratava do purgatório e recomendava a devoção às santas almas.
Uma grande esperança encheu meu coração. Entrei logo no quarto do filho e o encontrei muito melhor. No dia seguinte, contra toda expectativa, o menino estava completamente curado e restabelecido. Cumpri meu voto. Fiz logo propaganda da obra.
Passaram-se três semanas e uma doença grave veio atingir minha mulher. Tremia ela por todo corpo e se atirava ao chão, em convulsões, até ficar sem sentidos. Chegou a perder o uso da palavra. Empreguei todos os meios possíveis para salvá-la, mas tudo inutilmente. O confessor que a assistia só tinha palavras de consolo. Quanto a mim, não perdi a esperança. Tinha grande confiança nas benditas almas do Purgatório. Voltei à igreja e prometi distribuir, desta vez duzentos exemplares do livro a fim de conquistar muitas almas para a devoção às santas almas. Mal saía da Igreja quando os criados me vieram dar a notícia feliz de que minha mulher estava bem melhor. E assim era. Encontrei minha mulher mais bem disposta, e poucos dias depois estava perfeitamente curada. Fui fiel em dar os livros prometidos e sempre fui muito grato às almas do Purgatório”. (Hautin, Puteus deunctorum – Lib. I – C. V. Art. 3.)
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Outro exemplo:
Uma piedosa e humilde criada parisiense tinha o costume de todos os meses tirar do seu pobre ordenado um dinheirinho para pedir uma missa pelas almas do purgatório. Fazia todo sacrifício, mas não deixava de mandar celebrar esta missa. Assistia o Santo Sacrifício com muito fervor e pedia pela alma que mais necessidade tivesse de uma Missa para entrar no céu.
Deus a provou com uma doença que a fez sofrer muito e ainda perder o emprego. No dia em que saiu do hospital, só tinha consigo a importância necessária para pedir a missa pelas almas. Pôs toda confiança em Deus e andou à procura de um emprego. Em vão. Não o achava em parte alguma. Passou pela igreja de Santo Eustáquio e entrou. Tirou da bolsa o dinheiro e pensou consigo: se agora mando celebrar a missa, que me restará hoje para comer? Que será de mim? Que importa! Deus terá pena de mim. E, além disso, as pobres almas sofrem mais do que eu.
Ao sair da missa, estava pensando na sua pobre vida quando um moço alto, se aproximou dela e disse:
— A senhora anda à procura de um emprego?
— Sim, meu senhor, e necessito muito…
— Pois então vá à casa de Madame X, rua tal, número tal, e creio que ela vos receberá, porque vai precisar de uma empregada hoje.
A pobre criada tão satisfeita ficou, que nem agradeceu ao moço. Quando voltou para trás, nem o viu mais. Foi à procura do endereço e ao chegar à casa indicada, tocou
a campainha e esperou. Apareceu-lhe uma senhora de certa idade e aspecto muito bondoso.
— Minha senhora, diz a criada, eu acabo de saber esta manhã que a senhora estava precisando de uma empregada e, como estou sem emprego, aqui venho me apresentar, e me disseram que a senhora é muito bondosa e me havia de acolher muito bem…
— Minha filha, diz a velha, isto é extraordinário! Sim, eu tenho necessidade de uma empregada. Quem te disse isto?
— Encontrei um moço na rua e ele me deu o nome da senhora, rua e número da casa, e aqui cheguei.
A velha não podia compreender quem pudesse ser o tal moço que havia indicado a casa. Neste ínterim, a empregada levanta os olhos e vê na parede um retrato.
— É aquele moço, minha senhora, ele mesmo…
A pobre velha empalideceu.
— É meu filho, é meu filho falecido!
A criada contou-lhe toda a sua devoção às santas almas, a missa que havia mandado celebrar. A velha tomou a pobrezinha num longo abraço e banhada em lágrimas lhe disse: Minha filha, este moço é meu filho já falecido. Deveria estar no Purgatório. Faleceu há dois anos. Tua Santa Missa o aliviou e libertou. Vamos, daqui por diante, rezar juntas e não serás minha criada, mas minha filha.
Tomou a pobre criada abandonada e adotou-a como membro da família.
Lição: Dizia Santa Teresa: “Tudo quanto peço a Deus pela intercessão das almas do purgatório me é concedido”. Dizia também São João Maria Vianney: “Se soubéssemos quão grande é o poder das santas almas do purgatório e quantas graças podemos alcançar por sua intercessão, não seriam elas tão esquecidas”. Que saibamos ter devoção às almas do Purgatório rezando e oferecendo sacrifício por elas e pedindo a elas sua intercessão.