EVANGELHO – Lc 10, 38-42
Naquele tempo: Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar! “O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor
Olhar para Jesus: São Lucas conta que uma mulher chamada Marta recebeu Jesus em sua casa. Santo Agostinho comenta: “Marta o recebeu como costumam ser recebidos os peregrinos. No entanto, era a serva que recebia o seu Senhor; uma doente que acolhia o Salvador; uma criatura que hospedava o Criador” (Santo Agostinho, Sermão 26). O relato nos diz que essa mulher tinha uma irmã chamada Maria. Mas Marta é nomeada em primeiro lugar, provavelmente porque ela seria a dona da casa. Em qualquer caso, logo Marta estará sobrecarregada e inquieta com a preparação de tudo o que parece necessário para servir a Jesus. Enquanto isso, Maria desfruta da conversa “não só sentada perto de Jesus – destaca São João Crisóstomo, mas junto a seus pés; para manifestar a prontidão, a assiduidade, o desejo de ouvi-Lo e o grande respeito que professava ao Senhor” (São João Crisóstomo, Catena aurea, in loc).
Em certo momento, irritada com o que ela considera uma falta de solidariedade da sua irmã e talvez certa indiferença de Jesus, Marta repreende o Senhor com toda a confiança para que Ele peça a Maria que colabore. Nós não sabemos se no final Maria e até o próprio Jesus se levantaram para ajudar. O evangelista prefere recolher uma lição fundamental do Mestre: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
Ao longo da história da Igreja, esta cena vem sendo muito meditada e interpretada pelos Padres e santos. Marta foi vista muitas vezes como símbolo de ação e do trabalho neste mundo, assim como Maria é um símbolo da contemplação e do que será a visão beatífica de Deus.
Então, “o que quer dizer Jesus? Qual é a única coisa de que temos necessidade? Antes de tudo, é importante compreender que aqui não se trata da oposição entre duas realidades: a oração e o trabalho. Não são duas realidades opostas entre si, mas, ao contrário, trata-se de dois aspectos, ambos essenciais para a nossa vida; aspectos que nunca devem ser separados, mas vividos em profunda unidade e harmonia. Mas então por que motivo Marta é repreendida, embora o seja com carinho, por parte de Jesus? Porque ela considerava essencial só o trabalho e encontrava-se demasiado absorvida e preocupada com as coisas a ‘fazer’. O trabalho nunca deve estar separado da fonte principal de cada uma das nossas ações: a união com Deus, a oração, a vida contemplativa. É por isso que Marta é repreendida” (Papa Francisco, Angelus, 21-VII-2013) .
Jesus dá a entender que a oração deve ser preferida e precedida para verdadeiramente cumprirmos o seu mandamento de amor. São Josemaria explicava assim essa realidade: “Maria escolheu a melhor parte, lê-se no Santo Evangelho. Aí está ela, bebendo as palavras do Mestre. Em aparente inatividade, reza e ama. Depois, acompanha Jesus em suas pregações por cidades e aldeias. Sem oração, como é difícil acompanhá-Lo!” (São Josemaria, Caminho, nº 89). É por isso que Jesus também afirma que “a melhor parte” de Maria não lhe será tirada aludindo ao fato de que a parte de Marta possa ser perdida. Ou seja, é a contemplação que dá significado e eficácia ao trabalho realizado por Deus. Sem ela, antes ou depois, o trabalho acaba por se tornar um inimigo de Deus, feito por alguma intenção distorcida: por vaidade, por autocomplacência, por ganância etc. São Josemaria resolve este problema admiravelmente quando exorta em outro lugar: “Trabalhemos, e trabalhemos muito e bem, sem esquecer que a nossa melhor arma é a oração. Por isso, não me canso de repetir que temos que ser almas contemplativas no meio do mundo, que procuram converter o seu trabalho em oração” (São Josemaria, Sulco, nº 497). Porque quando a oração está em primeiro lugar, mais cedo ou mais tarde tudo se converte em lugar de encontro com Deus, de diálogo amoroso com Ele.
Lição: São João nos diz que Deus é Amor e se somos imagem e semelhança de Deus, nós somos amor. A oração é estar a sós com Deus, amá-lo e, por isso, ela é essencial. Sejamos Marta, mas se não formos Maria, se não dedicarmos tempo diariamente à oração, estaremos nos distanciando do mais importante: do amor de Deus.