NATAL (2): PREPARAÇÃO – CORAGEM

EVANGELHO – Lc 10, 21-24

Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
ontem falamos da humildade como preparação para o Natal. O Evangelho de hoje nos anima mais ainda a ir por este caminho. Jesus se dirige ao Pai e louva aqueles que são humildes e acolhem às suas palavras: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Quantas pessoas, por soberba, estão fechadas para a fé e só acreditam na sua razão. Ao querer eliminar a fé, o que elas não sabem é que não há como prescindir dela, pois para dar crédito à razão, precisamos acreditar que ela nos mostra a verdade. Eu sigo a razão se eu acredito na razão. Sempre temos que partir de uma crença, de uma fé.

A Maria Nazaré escreve no seu livrinho de preparação para o Natal:

3 de Dezembro

Menino, vejo agora a seu lado José, um carpinteiro humilde, enfrentando os poderosos do mundo: não acolhem o Menino, depois quererão matá-Lo, expulsá-Lo do universo que Ele mesmo criou. E José, com diligência, percebe os sinais, levanta, age, assume a missão de pai e de protetor: vai a Belém, foge ao Egito, retorna à Nazaré. Jesus, quero hoje lhe oferecer a palha da Coragem. Irei enfrentar algum pequeno desafio que você me proponha no dia de hoje. Terei presente as suas palavras: “Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). E a glória deste instante será lembrada com doçura na Noite de Natal.

Comentário:

De fato, São José foi um homem de muita coragem, sem medo de cuidar do Menino Jesus, de Nossa Senhora. Poderia ser um homem inseguro, cheio de medos. Mas não, foi um homem forte que soube assumir suas responsabilidades.

Com relação à coragem, gostaria de falar de apenas um aspecto: “perder o medo de errar”. Para isto cito estas palavras de Dom Rafael Cifuentes:

* * *

Quem se reconhece e se aceita – quem é humilde – não tem medo de errar. Por quê? Porque se, depois de ponderar prudentemente a sua decisão, comete um erro, isso não o surpreende: é próprio da sua condição limitada. São Francisco de Sales dizia-o de uma forma muito expressiva: “Por que surpreender-se de que a miséria seja miserável?”

Lembro-me ainda daquele dia em que subia a encosta das Perdizes, lá em São Paulo, para dar a minha primeira aula na Faculdade Paulista de Direito, da PUC. Ia virando e revirando a matéria, repetindo conceitos e idéias. Estava nervoso; não sabia que impressão causariam as minhas palavras naqueles alunos de rosto desconhecido… E se me fizessem alguma pergunta a que eu não soubesse responder…? E se, no meio da exposição, eu esquecesse a sequência de idéias…?

Entrei na sala de aula tenso, com um sorriso artificial. Comecei a falar… Estava excessivamente pendente do que dizia e nem olhava para a cara dos alunos. Falei quarenta e cinco minutos seguidos sem interrupção, sem consultar uma nota sequer.
Percebi, porém, um certo distanciamento da “turma”, um certo respeito… Um rapaz, muito comunicativo e inteligente, talvez para superar a distância criada entre o grupo e o professor, aproximou-se e cumprimentou-me: “Parabéns, professor. Que memória! Não consultou em nenhum momento os seus apontamentos… Foi muito interessante…”

Respirei… Mas, desconfiado, quis saber; “Você entendeu o que eu disse?” Admirou-se com a minha pergunta: não a esperava. Sorrindo, encabulado, confessou-me: “Entendi muito pouco… E, pelo que pude observar a «turma» entendeu menos ainda”.
A lição estava clara: “Dei a aula para mim e não para eles. Dei a aula para demonstrar que estava capacitado, mas não para ensina?’. Faltara descontração, didática, empatia; não fizera nenhuma pausa, nenhuma pergunta… Fora tudo academicamente perfeito, corno um belo cadáver… Fora um fracasso.
Lembro-me também de que, quando descia aquela encosta, fiz o propósito de tentar ser mais humilde, de preparar um esquema mais simples, de perder o medo de errar, esse medo que me deixara tão tenso e tão cansado… De pensar mais nos meus alunos e menos na imagem que eles pudessem fazer de mim… E se me fizessem uma pergunta a que não soubesse responder…, que diria? Pois bem, diria a verdade  que precisava estudar a questão com mais calma e, na próxima aula, lhes responderia… Tão simples assim…

Que tranquilidade a minha ao subir a encosta no dia seguinte!… E que agradecimento o dos alunos ao verem a minha atitude mais solta, mais desinibida, mais simpática!
A lição que tive que reaprender muitas vezes ao longo da minha vida de professor e de sacerdote: a simplicidade, a transparência, a espontaneidade são o melhor remédio para a tensão e a timidez, e o recurso mais eficaz para que as nossas palavras e os nossos desejos de fazer o bem tenham eco. Não olhemos as pupilas alheias como se fossem um espelho no qual se reflita a nossa própria imagem; não estejamos pendentes da resposta que esse espelho possa dar às perguntas que a nossa vaidade formula continuamente: “O que é que você pensa de mim? Gostou da colocação que fiz?” Tudo isso é raquítico, decadente, cheira ao mofo do próprio eu, imobiliza e retrai, inibe e tranca a espontaneidade. Percamos o medo de errar, e erraremos menos.

Lição: reflitamos nestas palavras de Dom Rafael Cifuentes e sejamos corajosos enfrentando os nossos medos com coragem.

NATAL (2): PREPARAÇÃO – CORAGEM

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