NATAL – O MODO DE AGIR DE DEUS

EVANGELHO – Lc 2, 15-20

Quando os anjos se afastaram, voltando para o céu, os pastores disseram entre si: “Vamos a Belém, ver este acontecimento que o Senhor nos revelou”. Os pastores foram às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido, deitado na manjedoura. Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino. E todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam. Quanto a Maria, guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração. Os pastores voltam, glorificando e louvando a Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes tinha sido dito.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
antes de mais nada, gostaria de desejar um Santo Natal a todos. Para a homilia de hoje, gostaria de trazer umas palavras resumidas do Papa Francisco ditas no Natal do ano passado. São palavras muito bonitas! Ele vai dizer que o nosso Deus não é um Deus que vem para colocar ordem no mundo através da força, do poder, mas de um caminho completamente oposto: através do amor, da ternura, da misericórdia, compartilhando a nossa vida, fazendo-se pequeno, respeitando a nossa liberdade, não eliminando a dor e os problemas da vida. Vejamos:

* * *

«O recenseamento de toda a terra» (Lc 2, 1): este é o contexto em que nasce Jesus (…) E assim faz surgir um grande contraste: enquanto o imperador conta os habitantes do mundo, Deus entra nele quase às escondidas; enquanto quem manda procura colocar-se entre os grandes da história, o Rei da história escolhe o caminho da pequenez. Nenhum dos poderosos se dá conta dEle; apenas alguns pastores (…).

No Antigo Testamento, o rei Davi, cedendo à tentação dos grandes números e a uma malsã pretensão de autossuficiência, cometera um grave pecado fazendo o recenseamento do povo. Queria saber a sua força e, cerca de nove meses depois, ficou sabendo o número de todos os que podiam manejar a espada (cf. 2 Sam 24, 1-9). O Senhor indignou-se e um flagelo feriu o povo. Por outro lado, nesta noite, o «Filho de Davi», Jesus, depois de passar nove meses no ventre de Maria, nasce em Belém, a cidade de Davi, e não pune o recenseamento que estão submetidos Ele, Maria e José, mas deixa-se humildemente registrar: um, no meio de tantos. Não vemos um Deus irado que castiga, mas o Deus misericordioso que encarna, que entra, cheio de fragilidade, no mundo, precedido pelo anúncio «paz na terra aos homens» (Lc 2, 14) (…)

O recenseamento de toda a terra manifesta a trama demasiado humana que atravessa a história: a trama dum mundo que procura o poder e a força, a fama e a glória, onde tudo se mede através dos sucessos e dos resultados, dos cálculos e dos números. É a obsessão das façanhas. Mas ao mesmo tempo, no recenseamento, sobressai o caminho de Jesus, que vem procurar-nos através do amor. Não é o deus das façanhas, mas o Deus do amor. Não ataca, do alto, as injustiças com a força, mas, por baixo, com o amor, com ternura; não irrompe com um poder sem limites, mas desce cheio de mansidão (…).

Nesta noite, irmãos e irmãs, podemos perguntar-nos: Em que Deus acreditamos? No Deus do amor ou no das façanhas? Sim, porque há o risco de viver o Natal tendo na cabeça uma ideia pagã de Deus, como se fosse um patrão poderoso que está no céu; um deus que se alia com o poder (…). Sempre ressurge a imagem falsa dum deus (…) que se comporta bem com os bons e se irrita com os maus; um deus feito à nossa imagem (…)

Olhemos, pois, para o «Deus vivo e verdadeiro» que tem uma forma de atuar bem diferente de muitos de nós: Ele é um Deus que está para além de todo o cálculo humano, mas deixa-se recensear pelos nossos registros; é um Deus que revoluciona a história, mas vem para ser mais um dentro dela; é um Deus que tem um respeito infinito por nós, mas tem paciência ao ver que faltamos o respeito por Ele; é um Deus que odeia o pecado, mas apaga o apaga assumindo a responsabilidade por ele; é um Deus que não tira a dor, mas transforma-a, que não nos tira os problemas da vida, mas dá às nossas vidas uma esperança maior do que os problemas. Deseja tanto abraçar as nossas existências que, sendo infinito, por nós se faz finito; sendo grande, faz-se pequeno; sendo justo, habita as nossas injustiças.

Irmãos e irmãs, aqui está a maravilha do Natal: não uma mistura de sentimentos adocicados e confortos mundanos, mas a inaudita ternura de Deus que salva o mundo encarnando-se. Fixemos o olhar no Menino, olhemos para a manjedoura, para o presépio, que os anjos chamam de «sinal» (Lc 2, 12): realmente constitui o sinal revelador do rosto de Deus que é a compaixão, a misericórdia, a compreensão, o respeito por nós e pela nossa liberdade, a paciência e a humildade.

Olhemos para o presépio e aprendamos do Menino-Jesus como devemos atuar para mudar este mundo.

NATAL – O MODO DE AGIR DE DEUS

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