MARCELO CÂMARA: EXEMPLO DE UMA VIDA SANTA (11)

EVANGELHO – Jo 16, 20-23a

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: Vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós ficareis tristes,
mas a vossa tristeza se transformará em alegria. A mulher, quando deve dar à luz, fica angustiada porque chegou a sua hora; mas, depois que a criança nasceu, ela já não se lembra dos sofrimentos, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo. Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos poderá tirar a vossa alegria. Naquele dia, não me perguntareis mais nada.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor

Olhar para Jesus:
comentando o Evangelho de ontem, dissemos que Deus transforma a nossa tristeza em alegria. Hoje, Nosso Senhor nos dá um motivo concreto pelo qual nos torna felizes: estar junto de nós. É o que diz estas palavras: “Também vós agora sentis tristeza, mas eu hei de ver-vos novamente e o vosso coração se alegrará”. E é muito bonito o que diz em seguida: “e ninguém vos poderá tirar a alegria”. Ou seja, quando Jesus está junto de nós, nada, nem ninguém nos poderá tirar a alegria. Este é, então, o segredo da alegria: estar junto de Nosso Senhor onde, com Ele, nenhum mal temeremos.

Vamos dar continuidade à nossa série sobre o Marcelinho, comentando estes anos em que esteve doente, dos 25 aos 29 anos, e como ele foi levando heroicamente esta doença que o levou à morte.

A Dra. Karla Richter Zanella, médica assistente da equipe que tratou a doença do Marcelinho desde o início até o final, testemunha o quanto ele marcou a sua vida profissional:

Nunca tive um paciente como o Marcelo (…) em todo o momento em que eu via o Marcelo ele foi sempre muito amável, muito respeitoso com a equipe médica, muito esclarecido, com perguntas sempre coerentes. Era uma pessoa bem diferente das pessoas normais. Era uma pessoa bem iluminada, bem à parte. Sempre teve muita esperança e foi muito colaborativo no que precisava fazer. (…) Ele é uma das pessoas que eu conheci e que eu nunca vou me esquecer. E olha que eu me esqueço dos pacientes. Eu me envolvo muito quando eles estão doentes, e se ficarem curados está ótimo, e se virem a falecer eu tento não conviver com aquilo e acabo me esquecendo da pessoa. Às vezes não me lembro nem do nome. E o Marcelo é impossível esquecer dele, por ser uma pessoa totalmente diferenciada das demais, fora do contexto normal, por ser muito fácil de tratar, muito fácil de conversar, de entender a situação, de nunca culpar ninguém. Nunca culpou um médico, será que isso pode ter sido um erro médico? Negligência? O que acontece com a maioria das pessoas quando a doença é muito pior do que se espera. Nunca o Marcelo fez isso. Ele sabia que era uma doença difícil. Tinha muita fé que ele iria superar, mas essa doença é traiçoeira mesmo.

Agora quem comenta é a autora da sua biografia:

Marcelo não se deixou imobilizar pelo sofrimento e pela dor física e emocional de ver os entes queridos padecerem, transformando-os, como tudo em sua vida, em local de encontro profundo com o Senhor. Ser agradecido a Deus quando tudo acontece conforme a nossa vontade é louvável, sem dúvidas. Mas só os santos sabem louvar a Deus na contrariedade, no sofrimento.

Agora é o depoimento do Pe. Flávio Sampaio que foi o seu diretor espiritual:

Aproveitou a cruz involuntária que a vida lhe impôs para abraçá-la e carregá-la voluntariamente, oferecendo a enfermidade a Deus e os sofrimentos que essa lhe proporcionava, unindo-os à Cruz de Cristo, pela conversão dos parentes e amigos, bem como por todas as vocações da Igreja: sacerdotes, religiosos e leigos, pais e mães de família.

A amiga Thaiz descreve um episódio surpreendente em que se torna manifesto o espírito de sacrifício e de amor ao próximo:

Nunca vou esquecer-me de uma ocasião em que estava comemorando meu aniversário na Pizzaria San Francesco e que tinha consciência de que o Marcelinho não poderia ir em razão de neste mesmo dia ter realizado uma sessão de quimioterapia. E de repente vimos um táxi parando na entrada e o vi descendo de muletas(…). Foi emocionante demais! É claro que fui logo ao seu encontro perguntando se estava tudo bem, dizendo que ele não precisava ter se incomodado em ir para a Pizzaria, que deveria estar descansando, quando ele de um modo muito peculiar e habitual, colocou seu dedo indicador na ponta do meu nariz e disse: “eu não poderia deixar de participar da comemoração do aniversário da minha amiga querida”.

Podemos nos perguntar agora: de onde o Marcelinho tirava suas forças para agir como agia? E a autora da sua biografia nos dá a resposta:

Ele tinha uma profundíssima devoção ao Santíssimo Sacramento. Marcelo era fiel de Missa diária e, com a abrupta internação (naquele momento, no Hospital Governador Celso Ramos), perdeu a oportunidade de participar diariamente da atualização do santo sacrifício de Cristo no altar. O grande amigo Klaus que, na época, possuía a provisão de Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão passou a levar-lhe a comunhão diariamente, o que fez por quase seis meses, até quando condições clínicas o impediram de receber visitas diárias. Merece destaque o registro destes encontros diários:

A alegria que demonstrava por poder receber Jesus sacramentado era indizível. Aguardava diariamente por aquele momento, e regozijava-se e sorria intensamente por poder desfrutar da presença real de seu Senhor e Deus. Em muitas vezes dizia-me, literalmente, antes de iniciarmos o rito da sagrada comunhão fora da Missa: “amigo, tu me permites adorar um pouquinho?” E, a partir do ritual romano da sagrada comunhão e culto do mistério eucarístico fora da Missa, fazíamos a constante leitura dos conhecidos hinos eucarísticos de São Tomás de Aquino, para deleite de alma do Marcelo. Repito, ele sempre insistia, e sempre de forma muito polida e reservada, que o fizéssemos (adorar e ler algum hino antes do rito da comunhão em si). Sempre eu quis ter a fé e o amor eucarísticos que Marcelo naturalmente tinha e transmitia. Uma piedade eucarística que, com toda a minha sinceridade, nunca vi sequer em ministros ordenados que eu tenha conhecido. Hoje, rogo a Deus, por sua intercessão, para que a aumente em mim. Como que a ouvir as mesmas palavras dele, que ainda ecoam em meus ouvidos, mas de um modo levemente diferente: “amigo, tu te permites adorar um pouquinho?

Lição
: saibamos também apoiar-nos na Eucaristia, na Santa Missa, para carregarmos as nossas cruzes como o Marcelinho a carregou.

MARCELO CÂMARA: EXEMPLO DE UMA VIDA SANTA (11)

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